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O Globo Online (RJ) ( Brasil ) - RJ - Brasil - 14-02-2016 - 12:28 -   Notícia original Link para notícia
Produção e venda de 'magrelas' no país encolhe 10% com a crise

Setor é afetado por poder de compra menor e preço maior de modelos


Crise e preço maior de modelos afetam mercado. Para Caetano Barreira (foto) falta investir em mobilidade urbana -SÃO PAULO- Mesmo com o avanço das ciclovias nas principais capitais do país e a busca por um estilo de vida mais saudável, as vendas e a produção de bicicletas no Brasil caíram em 2015 na comparação com o ano anterior. A Abraciclo, entidade que representa o setor, divulga nos próximos dias os números finais do ano passado, mostrando uma retração de cerca de 10% tanto na produção (de 3,7 milhões para 3,3 milhões de unidades) quanto nas vendas (de 4 milhões para 3,6 milhões unidades).



A queda no mercado de bicicletas chama a atenção, segundo Eduardo Musa, presidente da Caloi e vice-presidente do Simefre, sindicato interestadual que representa os fabricantes de bicicletas, com a percepção de que o número de ciclistas nas ruas está em alta. Um dos motivos para essa retração do mercado, diz Musa, é a crise econômica, que encolheu o poder de compra do brasileiro.


- Há uma excepcionalidade no momento. Os números do ano passado foram muito afetados pela crise econômica que estamos vivendo. Quem comprava bicicletas para lazer e esporte cortou o gasto. As bicicletas para esporte, por exemplo, têm muitos itens importados, e o preço subiu por causa do dólar - afirma Musa.


Atualmente, o valor dos modelos mais vendidos no país varia entre R$ 400 e R$ 4 mil. Mas existem bicicletas que chegam a custar mais de R$ 40 mil, já que sua estrutura é feita de fibra de carbono, material importado e nobre, utilizado na indústria automobilística e aeronáutica.


QUARTO MAIOR FABRICANTE


Mais do que a conjuntura econômica ruim, acrescenta Musa, há uma mudança na demanda e na oferta de bicicletas, que está levando ao arrefecimento de venda e produção nos últimos anos. O Brasil tinha uma produção focada em modelos de bicicletas básicos, sem muita tecnologia agregada. Com consumidores mais exigentes, as empresas nacionais começaram a se adequar para produzir bicicletas mais modernas - e mais caras. Essa transição, segundo a Abraciclo, contribui para o encolhimento do mercado, que em 2008 vendeu 5,5 milhões de unidades e produziu 5,3 milhões.


- Há menos de uma década, o Brasil produzia principalmente modelos básicos de bicicleta, feitos de aço, procurados mais pela classe C para transporte. Eram modelos sem marchas ou amortecedor. Nos últimos anos, por exigência do consumidor, os modelos ganharam tecnologia, com estruturas mais leves de alumínio, design arrojado, marchas, suspensão e até equipamento eletrônico. Passamos a produzir em menor quantidade, mas com maior tecnologia - conta José Eduardo Gonçalves, diretor executivo da associação.


Atualmente, de cada dez bicicletas básicas e pesadas vendidas há 20 anos, a indústria vende apenas uma.


- Apesar de os números de unidades estarem caindo, os valores das bicicletas estão subindo - resume Musa.


Para o economista da consultoria Tendências João Morais, quando a conjuntura econômica não é favorável, com encolhimento de renda e temor do desemprego, o consumidor tende a postergar a compra de bens de maior valor agregado, caso das bicicletas atualmente.


- Apesar da busca de hábitos de vida mais saudáveis, a compra da bicicleta acaba sendo adiada, assim como a troca do televisor ou da geladeira, porque são bens de maior valor agregado. Essa mudança por hábitos mais saudáveis passa a acontecer num ritmo mais lento - diz o economista da Tendências.


Mesmo para a classe C, que compra modelos de preço mais acessível, a troca de bicicleta também fica adiada.


-É a parcela da população mais vulnerável em relação à perda de renda causada pela inflação - diz Morais.


Os resultados menores de produção, no entanto, não retiraram do Brasil o posto de quarto maior fabricante de bicicletas do mundo, atrás de China, Índia e Taiwan. Para se ter uma ideia, a fábrica da Caloi na Zona Franca de Manaus é o maior polo industrial de bikes fora do Sudeste Asiático. Os chineses lideram disparados o mercado, com uma produção anual de 85 milhões de unidades, capaz de abastecer 90% da demanda mundial.


IMPACTO DA CICLOVIA


No Brasil, em 2015, foram importadas 245 mil unidades, sendo 208 mil chinesas. Há quatro anos, a importação de bicicletas da China era de 326 mil unidades. Nem a presidente Dilma Rousseff escolheu uma bicicleta nacional para pedalar por Brasília. O modelo de Dilma é da marca americana Specialized e custa em torno de R$ 3 mil.


Para Musa, a indústria nacional já é capaz de fabricar modelos tão bons quanto os produzidos fora do país.



Um estudo feito pela consultoria Rosenberg e Associados a pedido da Abraciclo mostra que o crescimento da venda de magrelas depende de investimento em infraestrutura, como ciclovias. O aumento do tempo gasto no trânsito também estimula o uso desse tipo de transporte. "A conclusão é que o melhor modelo de incentivo é aquele que fornece infraestrutura adequada para o uso da bicicleta nas cidades, com segurança e qualidade", diz o estudo.


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