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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 31-01-2016 - 11:28 -   Notícia original Link para notícia
Um polo industrial em decadência

Demissões na Usiminas, em Cubatão, devem levar ao fechamento de 30 mil vagas na Baixada Santista


"Muita gente está deixando de comprar por medo de perder o emprego"
Antonio Teixeira Presidente da Associação Comercial


André Vital, de 34 anos, começou o ano de 2016 com a notícia que não queria receber. Na primeira semana de janeiro, o eletricista de manutenção, que há seis anos trabalhava na Usiminas, em Cubatão, cidade do litoral de São Paulo, foi demitido. Com o fim da produção de aço na unidade, anunciado em outubro passado, quatro mil funcionários  dois mil diretos e dois mil terceirizados foram desligados até a semana passada. André estava na lista. Com a mulher desempregada e pai de dois filhos, de 2 e 7 anos, ele ainda ajudava os pais doentes com o salário de cerca de R$ 3 mil.



FOTOS DE BRUNO SANTOSMovimento menor. Vendas do comércio em Cubatão caíram 20% em janeiro: prefeitura vai reativar cartão do servidor para injetar R$ 3 milhões na economia e reduzir efeitos da crise


Estou desorientado. Emprego na siderurgia está difícil. Começamos a economizar água, luz e telefone e também será preciso maneirar nas compras do supermercado. Vou contar com a indenização e o seguro-desemprego para me manter por enquanto disse o metalúrgico.


A demissão de André e de metalúrgicos provocará uma espécie de efeito dominó sobre o emprego na região. Uma estimativa feita por José Nicolau Pompeo, economista e professor da PUC-SP, aponta que as 4 mil demissões na Usiminas, a maior empregadora da região ao lado da Petrobras, levarão ao fechamento de até 30 mil vagas, a curto prazo, nos nove municípios da Baixada Santista, incluindo postos na indústria, comércio e serviços.


Em cinco cidades  Santos, São Vicente, Praia Grande e Guarujá, além da própria Cubatão os efeitos serão mais devastadores para o emprego, já que os trabalhadores da Usiminas moram principalmente nestas localidades. Em 2015, a crise no país fez a região perder 13 mil postos de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o maior número desde 2002.


Empresas que prestam serviços para a Usiminas já estão demitindo. E, com menos dinheiro circulando, farmácias, supermercados, restaurantes, lojas de roupas e sapatos e os consultórios de dentistas e médicos vão sentir o baque. É um efeito cascata que chegará a 30 mil postos de trabalho fechados a curto prazo na região  disse Pompeo. Os comerciantes já sentem os efeitos. Antonio Teixeira tem uma empresa de distribuição de água em Cubatão e vendia cem mil litros por mês para seis prestadoras de serviços para a Usiminas. Como não tiveram os contratos renovados e estão demitindo, o fornecimento de água para estas companhias caiu para apenas mil litros por mês.


Meu faturamento relacionado à Usiminas encolheu 90%  disse.


Teixeira, que também é presidente da Associação Comercial e Industrial de Cubatão, diz que as vendas do comércio local caíram 20% em janeiro. As demissões aumentaram a cautela dos consumidores, que já estavam ressabiados com a perda da renda causada pela inflação. A esperança de melhora é a injeção de mais de R$ 3 milhões por mês na economia local com a reativação do cartão do servidor da prefeitura, que oferecerá R$ 500 por mês para que funcionários públicos comprem no comércio local.


Desde o fim do ano passado, criou-se um clima de insegurança por causa das demissões na Usiminas. Muita gente está deixando de comprar por medo de perder o emprego.


Dono de um restaurante que preparava 1.200 marmitas diárias a prestadores de serviços da siderúrgica, o empresário português Geraldo Adelino de Freitas disse que sua "produção" despencou desde o fim de 2015.


 Hoje forneço 130 marmitas. Dos meus 47 funcionários, tive que demitir 17.


TOMBO NA INDÚSTRIA E NA ARRECADAÇÃO


A indústria da região já foi afetada. A Votorantim Cimentos informou que a unidade de Cubatão deixará de fabricar o produto. A empresa usa como matéria-prima a chamada escória, um subproduto da fundição de minério, produzida pela Usiminas. Sem o insumo, a unidade da Votorantim vai se transformar num centro de distribuição. Trinta pessoas estão sendo demitidas. A InterCement, do Grupo Camargo Corrêa, que também usa a escória da Usiminas, já pensa em alternativas para se manter funcionando. Uma delas é importar o insumo.


No Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista, todos os dias grupos de trabalhadores dispensados passam pelo setor de homologações. Empresas que prestavam serviços de manutenção ou forneciam peças à Usiminas estão engrossando a fila dos demitidos, diz o presidente da entidade, Florêncio Resende de Sá, o Sassá.


 Indústrias que tinham 800 funcionários hoje trabalham com 70. Nossa base, que era de 22 mil filiados no ano passado, já encolheu para 15 mil e continuamos perdendo gente  disse Sassá.


A entidade oferece atendimento médico, com cardiologistas, ginecologistas e pediatras, e mantém um laboratório de exames para seus filiados. Gasta R$ 220 mil por mês e depende da contribuição dos associados. Sassá diz que precisará rever o modelo.


A prefeitura de Cubatão começou a fazer as contas do efeito Usiminas na arrecadação. O PIB de R$ 5,7 bilhões vai encolher a partir de 2017, diz o secretário de governo, Fábio Inácio. Mas ainda não é possível estimar qual será a redução, diz ele, lembrando que Petrobras e Usiminas respondem por 53% da arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do município. Só a siderúrgica recolhe R$ 150 milhões ao ano:


Com o fim da produção de aço, prestadoras de serviço vão recolher menos Imposto sobre Serviços (ISS). É um impacto gigantesco.


Inácio lembra que, se o polo industrial foi benéfico para a cidade em termos de arrecadação, trouxe problemas como poluição, devastação de manguezais, doenças e migração desordenada:


Cubatão ficou conhecida como a cidade mais poluída do mundo no passado. O impacto negativo foi muito grande para a população e o município.


Agora, empresas de ônibus particulares, responsáveis pelo transporte de trabalhadores, já alertaram que vão reduzir pela metade as 450 linhas. A cooperativa de táxi reportou queda de 40% em seu movimento nos últimos meses.



A prefeitura e o sindicato tentaram negociar com a empresa, mas o secretário disse que ela se manteve inflexível. Procurada, a Usiminas informou que o ajuste no quadro de funcionários "tem como objetivo adequar a capacidade produtiva à realidade do mercado siderúrgico, que encontra-se progressivamente em queda". As vendas de produtos siderúrgicos no mercado brasileiro, em 2015, caíram 16%.


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