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Diário do Comércio online - BH (MG) ( Negócios ) - MG - Brasil - 28-01-2016 - 10:09 -   Notícia original Link para notícia
Venda de smartphone usado ganha mais adeptos

Piora da crise deixa novas versões de algumas marcas cada vez mais distantes da realidade dos brasileiros



Quatro em cada 10 brasileiros possuem itens como celulares, eletrônicos e computadores que podem ser revendidos/Reprodução


apinha de proteção. Câmera de 8 megapixels, tela com apenas alguns riscos. Único dono". Apesar de o smartphone ser considerado um aparelho de uso extremamente pessoal, anúncios como esse estão se tornando cada vez mais populares no País.
 
O principal motivo é a piora da crise econômica, que deixa novas versões de smartphones desejados - como o iPhone, da Apple, e o Galaxy S, da Samsung - cada vez mais distantes da realidade da maioria dos brasileiros.


Segundo pesquisa do Ibope, quatro em cada 10 brasileiros possuem itens como celulares, eletrônicos e computadores que podem ser revendidos - o segmento fica atrás apenas de moda e beleza e de artigos para crianças e bebês.
 
O interesse em revender esses produtos aumentou: o Mercado Livre registrou o dobro de pesquisas por smartphones usados em 2015. No Google, as buscas por "celular usado" cresceram 75% no Brasil em dezembro de 2015, em relação ao mesmo período de 2015 - o número de buscas é o mais alto em 11 anos.
 
Fatores como a crise econômica, que diminuiu o poder de compra da população, e o aumento do dólar, que faz o preço dos smartphones novos ficar mais alto, ajudam a entender esse movimento. Segundo a consultoria IDC Brasil, o preço médio dos smartphones novos no País saltou de R$ 678 no terceiro trimestre de 2014 para R$ 925 no mesmo período de 2015, um aumento de mais de 30%.
 
Redes sociais como o Facebook e até mesmo o happy hour do escritório podem servir para vender um aparelho encostado - pelo menos é o que conta a advogada curitibana Giovanna Gomez. Entre novembro e dezembro de 2015, ela vendeu quatro iPhones ao juntar dinheiro para se mudar para Lisboa.


Primeiro vendi o meu iPhone 5S e o do meu namorado, para trocarmos para um iPhone 6. Depois vendi o iPhone 5C do meu irmão, e também um 4S do meu padrasto, que estava encostado no fundo da gaveta", diz Giovanna Gomez. "Em um dos casos, consegui vender o aparelho cinco minutos depois de ter anunciado no meu Facebook".
 
"Na crise, às vezes a pessoa percebe que tem um aparelho no fundo da gaveta e pode usá-lo para ter uma renda extra ou para complementar o dinheiro necessário para comprar um celular novo", diz o francês Amaury Bertaud, presidente-executivo da startup Recomércio, especializada na revenda de celulares usados.


Oportunidade - Novas empresas, como a Recomércio, estão de olho no aumento da demanda por smartphones seminovos. Fundada no final de 2014, a startup negociou cerca de 3 mil aparelhos no ano passado, o que lhe rendeu receita de US$ 1 milhão. "Quem compra um smartphone seminovo faz isso porque pode comprar um aparelho bom com preço acessível ou porque percebe uma oportunidade de negócio", diz Bertaud, que tem a meta de superar R$ 7 milhões em receita até o final deste ano.
 
É o caso do gerente de projetos Vinicius Siqueira, de 37 anos. Em maio, ele comprou um iPhone 5C usado por R$ 1 mil, depois de ter seu iPhone 4 roubado. "Não ligo de comprar um aparelho usado se ele estiver em bom estado. Prefiro ficar um pouco atrás na curva tecnológica e economizar", diz.
 
A Recomércio não é a única a explorar este mercado: especializada em produtos da Apple, a startup Brused realizou cerca de 10 mil vendas no ano passado - o dobro do registrado em 2014. Turbinada por parcerias com as lojas oficiais de Sony, Samsung, Motorola e LG, além da operadora Oi, a empresa argentina Trocafone diz ter dado novo destino a mais de 50 mil smartphones em 2015.


As três startups adotam fórmula parecida: o usuário entra no site oficial, preenche um formulário com os dados do dispositivo usado e, ao final, recebe uma cotação do produto. Se o valor agradar, o usuário envia o aparelho para a empresa e recebe o dinheiro. Quem quer comprar pode utilizar o site das empresas, que funcionam como qualquer e-commerce.
 
"O mercado de smartphones está se tornando semelhante ao de carros usados. Quem quer comprar um usado pode achar aparelhos com até 50% de desconto", diz o presidente-executivo da Trocafone, Guille Freire.
 
Evolução - A evolução da tecnologia dos smartphones é outro aspecto que ajuda a explicar o crescimento do mercado de usados no Brasil. Há alguns anos, a diferença entre aparelhos lançados em temporadas seguintes era substancial: um novo aparelho poderia ganhar conexão 4G pela primeira vez ou um novo processador muito mais potente que o anterior.
 
Isso mudou nos últimos anos, quando os smartphones passaram a receber mudanças apenas incrementais. O iPhone 5, da Apple, por exemplo, foi equipado com uma câmera de 8 megapixels em 2012. Já no ano passado, o iPhone 6S, versão mais recente do aparelho, ganhou uma câmera de 12 megapixels. Apesar de superior, a melhoria faz pouca diferença para o usuário leigo.
 
"Muitos usuários não conseguem sentir a diferença entre um produto com desempenho bom e um desempenho muito bom", diz Renato Meirelles, do instituto de pesquisas Data Popular. Dessa forma, o segmento de smartphones reproduz uma lógica que já acontece há anos no mercado de PCs.
 
A popularização dos aparelhos no País também criou uma oportunidade para os usados. "Há alguns anos, todos os brasileiros compravam seus primeiros aparelhos e não havia espaço para usados", diz Oliver Roemerscheidt, analista de mercado da consultoria GfK. "Agora, o mercado tem oferta de produtos usados bons o suficiente."
 Horizonte - O mercado de smartphones novos, ao contrário, não vai tão bem. Segundo a consultoria IDC Brasil, o mercado deve registrar queda de 12,8% nas vendas em 2015 e o horizonte não é muito animador em 2016. Além da continuidade da crise, o fim da Lei do Bem, que garantia isenção de PIS/Cofins para celulares de até R$ 1,5 mil vai impactar o setor, que deve fechar 2016 com queda de 8% nas vendas.
 
O cenário ruim para a indústria, no entanto, não deve afetar o mercado de usados. "O fim da isenção fiscal pode impactar o mercado de smartphones novos, mas de forma alguma vai diminuir o número de pessoas que usam smartphones", diz Meirelles, do Data Popular. "O mercado de segunda mão vai crescer", afirma. (AE)           


Modelos de segunda mão devem seguir atrativos


São Paulo - A equação para o mercado de usados parece simples: se há crise, há oportunidades de negócio interessantes - e vice-versa. Como por enquanto ainda não há sinais de melhora na economia brasileira e o câmbio continua instável, quem aposta na compra e revenda de aparelhos usados ainda acredita que o cenário no longo prazo pode se manter favorável.
 
Para o presidente-executivo da Trocafone, Guille Freire, o período de crise é benéfico para chamar a atenção para o mercado de smartphones usados, que tende a ter comportamento semelhante ao de carros seminovos.
 
Segundo o francês Amaury Bertaud, que criou a Recomércio em 2014 para popularizar por aqui um costume que já é comum na Europa, o potencial do mercado brasileiro é enorme. "No Brasil, há mais celulares e linhas móveis do que pessoas - e isso continuará crescendo. O que falta é formalizar essa atividade de compra e revenda."
 
A mudança de mentalidade em relação ao consumo é outro fator que deve auxiliar esse setor a se manter vivo após a crise. "Não faz mais sentido acumular coisas. Os sótãos e porões do futuro vão ficar vazios", acredita o presidente do instituto de pesquisas Data Popular, Renato Meirelles. "É uma questão de cultura: as próximas gerações terão uma lógica ambiental e econômica muito diferente da nossa."
 
Há, no entanto, quem acredite que este é um mercado com prazo de validade. "O celular é um item muito pessoal - mais do que um computador ou um carro. É como maquiagem, por exemplo: você não vê alguém revendendo um batom", diz Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa da IDC Brasil. "Na crise, eu aceitaria comprar um aparelho usado, mas com a melhora da economia isso deve mudar."
 
Além disso, a evolução da tecnologia para novos dispositivos é outro fator que poderá afetar esse mercado nos próximos anos. "Uma jaqueta com um sensor será revendida em qual lugar: numa loja de eletrônicos ou em um brechó?", pergunta Sakis. (AE)


Palavras Chave Encontradas: Criança
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