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Diário do Comércio online - BH (MG) ( Finanças ) - MG - Brasil - 21-01-2016 - 00:00 -   Notícia original Link para notícia
Copom opta por manter juros em 14,25% ao ano

Brasília - Numa decisão marcada pela polêmica e desconfiança de ingerência política da presidente Dilma Rousseff, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve a taxa de juros em 14,25%. Na primeira reunião do ano, os membros do Copom optaram em não mexer na taxa Selic para não aprofundar a recessão no País, apesar do risco de a inflação fechar este ano mais uma vez acima do teto da meta depois de bater 10,67% em 2015.

A decisão não foi unânime. Seis integrantes voltaram pela manutenção. Os diretores Sidnei Corrêa e Tony Volpon, no entanto, votaram pela alta da Selic para 14,75%. Dividido e sob críticas generalizadas que minaram ainda mais a sua já baixa credibilidade, o BC evitou uma nova subida da Selic, movimento combatido fortemente pelo PT e até mesmo por economistas considerados mais conservadores, que colocaram em dúvida a eficácia da alta dos juros para derrubar a inflação na atual conjuntura de crise do País.

"Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, considerando a elevação das incertezas domésticas e, principalmente, externas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% ", informa o comunicado do BC, divulgado após a reunião. Desde julho, a taxa Selic está no mesmo patamar no atual ciclo de aperto monetário que teve início em abril de 2013.

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Taxa pode não ser saída para inflação

A manutenção da Selic em 14,25% pela quarta vez consecutiva marca uma reviravolta na estratégia do BC, que até segunda-feira dava todas as sinalizações de que iria usar novamente a arma dos juros para coordenar as expectativas dos agentes econômicos e mostrar que seria capaz de colocar a inflação na trajetória do centro da meta de 4,5% em 2017.

O cenário mudou depois que o presidente do BC, Alexandre Tombini, divulgou , poucas horas antes do início da primeira etapa do Copom, comunicado alertando para a piora das previsões para a economia brasileira feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

O informe provocou abalo no mercado e foi interpretado como um sinal de rendição de Tombini às pressões da presidente e uma desculpa para mudar de estratégia na última hora. Essa percepção aumentou ontem com as declarações do ex-presidente Lula minimizando o risco de inflação em 8% e recomendando ao BC que não subisse os juros, porque "nem os banqueiros querem".

A mudança do Copom alimentou a avaliação de que o BC não tem autonomia e foi vista como adesão ao projeto da presidente de dar uma nova guinada na política econômica junto com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. (AE)

Opiniões

"Essa taxa de juros no patamar que está é altamente inibidora da atividade industrial. Ela desarticula o processo produtivo e elimina investimentos de maneira substancial. E, enquanto taxa para conter a inflação, não está surtindo o efeito necessário. Na verdade, você onera o capital de giro. Reduzindo a taxa de juros, você reduz o custo do capital trazendo empresas para um patamar de operação mais competitivo e, portanto, incentiva a recuperação da atividade industrial".

Lincoln Golçalves, presidente de Política Econômica e Industrial da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg)

"Uma taxa elevada impede investimento produtivo, que gera emprego, renda e alavanca economia. Estamos em cenário de retração, com previsão de queda do PIB. Isso tudo impacta o comércio porque se não gera emprego, não gera renda, nem consumo. Além disso, restringe o crédito que é o grande alavancador econômico. O comércio só pode voltar a alavancar as vendas, quando a economia crescer, a taxa de juros cair, assim como a taxa de desemprego. É uma conjunção de fatores, sendo que a Selic tem um papel importante. "

Ana Paula Bastos, economista da de Belo Horizonte (-BH)

"Temos dois impactos. O primeiro é com os investidores que deixam de comprar imóveis para deixar o dinheiro rendendo com os juros. E o segundo diz respeito à insegurança do consumidor comum que adia a compra da casa própria porque sente o clima mais pesado na economia e adquire o crédito mais caro".

Teodomiro Diniz Camargos, presidente da Câmara da Indústria da Construção Civil da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg)

"A pretensão ao manter os juros altos seria segurar a inflação, mas em um mercado recessivo isso perde o sentido. A inflação não foi de consumo mas de preços administrados. Neste ano, nós vamos ver desaceleração do nosso setor. O mercado está afetado e as empresas estão com dificuldade de negociação para manter resultados. Manter juros altos, só atrapalha o crescimento do PIB. Quem vai endividar para abrir lojas com juros nesse patamar? E o consumidor que se aventurar para adquirir um bem terá a renda comprometida. Dessa forma, o dinheiro sai de circulação e as vendas caem".

Adilson Rodrigues, superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis)

"Na prática, juros altos levam à queda da atividade econômica com a retração do consumo. As empresas acabam perdendo escala. Com uma produção menor, as empresas têm os custos aumentados e são obrigadas a repassar para o preço. Ou seja, o efeito acaba sendo de aumento da inflação e não o contrário. Acho que os juros já provaram ser uma ferramenta equivocada para combater inflação".

Flávio Roscoe, presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas no Estado de Minas Gerais (Sindmalhas)

"O que a gente percebe é que não teria necessidade de juros altos porque o mercado está retraído, deixando indústrias e lojas estocadas. Não tem perigo ter pressão de demanda. Não vemos necessidade de ter mecanismo de aumento de juros para segurar a inflação".

Alexandre Dolabella França, superintendente da Associação de Lojistas de Shoppings Centers de Minas Gerais (Aloshopping MG)


Palavras Chave Encontradas: Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL
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