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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 17-01-2016 - 12:05 -   Notícia original Link para notícia
Carnaval do 'déjà vu'

Com menos investimentos, lojistas da Saara tentam desencalhar fantasias de 'bunda da Paolla', mascote da Copa de 2014 e enfeites de Halloween


"Não dá para comprar nada, tem que vender o que sobrou" Nilton Barcelos Gerente da loja Aidan


Verão de 2015. Na televisão, a atriz Paolla Oliveira aparece, no papel da garota de programa Denise, na minissérie "Felizes para sempre?", de costas, só de calcinha e salto alto. A cena se tornou sucesso instantâneo nas redes sociais. Na véspera do carnaval, não demorou para se transformar em fantasia e tomar de assalto os blocos de rua. Um ano depois, a "bunda da Paolla" - como ficou conhecida a peça - corre o risco de desfilar novamente na avenida. A julgar pelo leque de produtos à venda na Saara, polo de comércio popular do Rio, 2015 foi um ano em que nem o carnaval teve fim. Cautelosos após um ano fraco para o varejo, muitos lojistas adotaram a estratégia de tentar se desfazer de estoques e investir pouco para recuperar o prejuízo. E já há quem preveja que a reposição de mercadorias para a folia não passará de 20% do catálogo.



CUSTÓDIO COIMBRA Revisitando a história. Vendedoras usam fantasia da "bunda da Paolla" junto com máscaras de Joaquim Barbosa e José Dirceu


Na loja Chantily, a fantasia de Paolla divide espaço com outras peças de catálogo antigo. Segundo a gerente Gina Sampaio, 90% dos produtos à venda foram comprados em anos anteriores. Com um investimento menor, a estratégia foi concentrar esforços no que traz brilho aos olhos do folião: glitter, confetes e algumas fantasias. Quase nada comparado aos R$ 100 mil gastos no ano passado.


DESCONTO DE 92% NO FULECO


Com uma reposição tão baixa dos estoques, o folião pode reencarnar personagens de escândalos de ontem e hoje. Numa parceria improvável, as máscaras do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu ocupam a mesma gôndola que a do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa. Os acessórios estão expostos na frente da Chantily por R$ 3. O julgamento do mensalão, que alçou Barbosa ao estrelato e fez do adereço um hit do carnaval de 2013, já foi concluído. O magistrado curte a aposentadoria desde julho de 2014. Dirceu voltou a ser preso no ano passado, após ver seu nome envolvido na Operação Lava-Jato.


- A expectativa é usar produtos de estoque para, pelo menos, igualar com o ano passado. As peças do ano passado estão com mais de 50% de desconto. Sempre sobra de um ano para o outro, mas desta vez, sobrou mais - explica Gina.


A estratégia parece estar funcionando. Na última quarta-feira, o movimento no pequeno espaço na Rua Senhor dos Passos era grande. O entra e sai era de clientes em busca de descontos, como Maura Moura, que circulava pelo corredor com três amigas. - Os preços baixos nos fizeram entrar. A um quarteirão dali, na Maik Mik, a ordem do patrão, o comerciante Maiko Riche, era clara: tirar de cena as guirlandas do Natal e descer para a frente da loja as lembranças do carnaval passado. Riche repete várias vezes que "o Natal não chegou" para seus negócios e calcula que 80% dos produtos expostos nas suas três lojas na Saara são do ano passado.


O catálogo é mais tradicional, composto por plumas, máscaras e perucas. Um ou outro adereço de bruxa pode marcar presença no carnaval, mas Riche e outros lojistas afirmam que as vendas do Halloween no ano passado superaram as expectativas. Mesmo assim, ele diz que a meta para a folia deste ano é pagar os prejuízos acumulados ao longo de 2015:


- No carnaval passado, investimos uns R$ 130 mil. Neste ano, não chegou a R$ 30 mil. O carnaval do ano passado foi a última data que vendeu bem.


Para completar o clima de flashback, algumas lojas estão trazendo de volta os enfeites em verde e amarelo da Copa de 2014. Se, às vésperas do Mundial, cornetas e chapéus coloriam a Saara no embalo da torcida pelo hexa que não veio, agora, a aposta é focar em turistas que esticaram a estadia na cidade após o réveillon.


- Por causa da Copa, veio aquela esperança que não se concretizou. A esperança agora são os gringos - diz Luciana de Souza, gerente da Brink Festas.


Na Aidan, uma das mais tradicionais lojas da Saara, o plano também é queimar estoque.


- Não dá pra comprar nada, tem que vender o que sobrou - resume Nilton Barcelos, gerente da loja, com 30 anos de experiência no ponto. - Estamos focando também em volta às aulas, mas quando estivermos mais próximos do carnaval, vamos descer coisas da Copa, como corneta, e também produtos do Halloween.


No melhor estilo déja vu, até o Fuleco - o mascote do Mundial do Brasil - voltou a dar as caras. Uma dezena deles pode ser encontrada na loja de pelúcias Barra Rey, no que pode ser considerado uma das maiores liquidações já vistas no comércio. O bichinho sai por R$ 10, desconto de 92% em relação ao preço de lançamento, R$ 129.


O assistente administrativo Bruno Cortes resolveu levar o mascote para dar de presente aos dois filhos. Ele já tinha procurado o bicho de pelúcia durante o Mundial, mas o preço foi considerado à época uma goleada de 7 a 1 sobre o seu orçamento:


- Agora vou aproveitar a promoção.


APOSTA EM CAMISETAS DE BLOCOS


Mas os lojistas da Saara não vivem só de saudosismo e para alguns este carnaval não será igual aquele que passou. É assim na Turuna, centenária loja de fantasias do Centro do Rio. Depois do tombo de 40% nas vendas no ano passado, a expectativa é de recuperar parte do prejuízo e vender ao menos 15% mais.


- O carnaval está melhor. Não sei se é por causa do dólar, que mantém mais turistas aqui, ou então pelo réveillon, que também mantém mais turistas. Mas, no ano passado, o pico de vendas só ocorreu nos 15 dias que antecederam o fim de semana do carnaval. Nesse ano, o movimento já começou a aumentar, e a expectativa é trabalhar bem por quatro semanas - conta o dono da loja, Marcelo Servos.


Na Dimona, a expectativa é de folia mais gorda. Segundo Leonardo Zoneschein, diretor comercial da loja, a rede já fechou contratos com os principais blocos da cidade. Perguntado se vê queda de investimentos, Zoneschein, que representa o Polo Centro Rio, associação de lojistas da Saara, nega:



- Na Dimona é justamente o contrário. Estamos com uma linha de carnaval mais completa, com camisas de blocos, marchinhas e temas do carnaval. As lojas estão repletas de produtos novos e, embora estejamos num momento de crise, temos chance de ter um resultado legal com preços competitivos e produtos temáticos.      


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