Leitura de notícia
Portal O Tempo ( Economia ) - MG - Brasil - 14-01-2016 - 04:00 -   Notícia original Link para notícia
Quilo do pão vai para R$ 15, e novo mínimo 'leva a culpa'

Todos os setores da economia sentirão impacto e avaliam repasse do reajuste do salário ao preço final
"Em Belo Horizonte, o quilo do pãozinho francês deve chegar a R$ 15, ou mesmo ser vendido acima disso tranquilamente". A declaração é do presidente do Sindicato e da Associação Mineira da Indústria da Panificação (Amipão/Amip), Tarcísio Moreira, e é um reflexo do reajuste do salário mínimo. O salário passou de R$ 788 para R$ 880 - aumento de 11,67% -, e começa a ser pago aos trabalhadores a partir de 1° de fevereiro.

O presidente da Amipão diz que esse custo vai ter que ser repassado para o consumidor. Hoje, o quilo do pãozinho é vendido, na média, a R$ 12,64, segundo o site de pesquisa de preços Mercado Mineiro. Isso significa que o reajuste será de 18,67%.

No caso do setor da panificação, a previsão é mesmo um janeiro "muito difícil" porque é mês de data-base, quando empregados e patrões negociam reajustes salariais. Segundo Moreira, a mão de obra representa cerca de 35% dos custos de uma panificadora, ou cerca de 17% do faturamento. "E olha que não estamos falando nem de pagamento de FGTS, vale-transporte, tíquete-alimentação, por exemplo. Aí o custo com a folha de pagamento pode chegar a 50%", esclarece Moreira. O setor é responsável por gerar cerca de 15 mil empregos diretos somente na capital. "Nós somos responsáveis por milhares de empregos e não aguentamos mais nada de reajustes e impostos", desabafa o presidente.

Mais impacto. Hoje cerca de 46,7 milhões de brasileiros têm como remuneração básica o salário mínimo, de acordo com o Ministério do Trabalho e Previdência Social. Ele é usado como balizamento para negociações salariais, pisos salariais e remunerações do setor informal em todo o país.

Do ponto de vista da (/BH), o reajuste do salário mínimo é bastante positivo. "A massa salarial para gastar é maior", esclarece o vice-presidente, Marco Antônio Gaspar. Segundo ele, o reflexo no faturamento do setor é maior do que o impacto na folha de pagamento.

O comércio ainda avalia se vai repassar esse reajuste para os preços porque esse impacto da folha acaba sendo minimizado pelo aumento do faturamento. "Mais oneroso, mais nocivo foi o aumento médio de 12% no ICMS para o setor de papelaria, por exemplo", desabafa.

Outra realidade. Na construção civil, os salários-base são definidos pelas convenções coletivas de trabalho firmadas entre os sindicatos patronais e os de trabalhadores e, portanto, o aumento do mínimo não tem impacto direto sobre os valores das remunerações. É o que esclarece Walter Bernardes de Castro, vice-presidente de política, relações trabalhistas e recursos humanos do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG. "Hoje, a realidade dos canteiros de obra mudou. Já não se tem mais o grande montante da massa salarial ganhando o mínimo", aponta.

Seguro

Aumento. As parcelas do seguro-desemprego foram reajustadas em 11,28%, e o teto mensal do benefício passou a ser de R$ 1.542,24. Antes, o máximo mensal era de R$ 1.385,91.

Setor produtivo todo sentirá o impacto

O professor de finanças pessoais, investimentos e economia da Universidade Fumec Eduardo Menicucci prevê "tempos difíceis". "Praticamente em todos os setores da economia haverá repasse para os preços por causa do reajuste do salário mínimo", ressalta.

As empresas não têm hoje como absorver esse impacto porque elas já trabalham com margens menores de lucro. Para o professor, vai haver mais demissões no setor produtivo. "As pessoas perdem o emprego e deixam de consumir", acrescenta.

Ele esclarece ainda que um dos principais componentes da inflação é o reajuste do salário mínimo, e o custo da mão de obra tem grande impacto nessa equação. "O grande erro é indexar o salário mínimo à inflação".

Menicucci aponta três variáveis para que o cenário do país seja mais positivo: acabar com a indexação do salário mínimo - tem que ser negociação; o Estado tem que fazer ajuste fiscal "doa a quem doer", e esquecer de vez medidas que alterem tributos. "A iniciativa privada não comporta mais impostos", desabafa o professor.

Custo no salão. Dona do instituto Beleza Fashion, no bairro Sagrada Família, em Belo Horizonte, Cida Santos tem em seu salão duas funcionárias de serviços gerais que recebem salário mínimo. "Ainda não fiz esse balanço do impacto, mas o que sei é que não tenho como repassar esse custo para os preços", analisa. A clientela já deu sinais de que deixaria de frequentar o salão se os preços aumentassem, e ela confirmou que vai absorver esse impacto.

Em casa, Cida tem uma diarista que vai três vezes por semana e, portanto, tem a carteira de trabalho assinada. "Eu também não refiz as contas da minha casa diante disso, mas já deixei há um tempo de ir a bares e cinema, por exemplo. Economizo nisso", dispara ela.


Palavras Chave Encontradas: Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.