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Estado de Minas Online ( Gerais ) - MG - Brasil - 10-01-2016 - 11:14 -   Notícia original Link para notícia
Blocos abrem alas para cair na folia

Cerca de mil foliões participaram ontem do ensaio geral do bloco de rua Baianas Ozadas, no Largo da Saideira, com direito a um bom batuque e ao gostinho do acarajé


O dionísio belo-horizontino Guto Borges abriu o baú carnavalesco, os frequentadores da Praia da Estação já colocaram as roupas de banho e, de agora para frente, os repiques, xequerês e tamborins poderão ser ouvidos nos quatro cantos de Belo Horizonte. O carnaval será na segunda semana de fevereiro, mas está aberta a temporada de ensaios. Embora a Belotur ainda não tenha divulgado o número esperado de foliões para curtir os três dias da festa de Momo, os blocos apostam que a curva de público continuará ascendente. Com mais foliões nas ruas, uma das preocupações são as estruturas de som que possam atender o público crescente. As negociações com a prefeitura estão em andamento para definir segurança, fechamento do trânsito e número de banheiros químicos, mas algo parece certo: os blocos de rua deverão dar o tom da festa mais uma vez. "Os blocos tendem a manter a ideia de carnaval na rua e sem cordas. No Tchanzinho Zona Norte, também temos uma preocupação com a diversidade e com o respeito à mulher", diz uma das fundadoras, Laila Heringer Costa, de 32 anos.

Com o evento de comemoração dos seis anos da Praça da Estação - que foi realizado ontem - movimento cultural e político que está na gênese do carnaval de rua de Belo Horizonte, a temporada de ensaios está simbolicamente aberta. Para quem tem energia e disposição, é possível acompanhar os ensaios de segunda a segunda (veja quadro). Momento para que os ritmistas ganhem harmonia para tocar o repertório, os ensaios são o termômetro do que será a festa. No Baianas Ozadas e Então, brilha!, a média é de 400 ritmistas a cada ensaio. No Chama o Síndico, o número varia de 150 a 200 instrumentistas. Números que podem crescer.

Folião onipresente e um dos símbolos do carnaval de rua da capital, Guto mantém o ritual de abrir o mobiliário onde guarda as fantasias que são usados para desfilar nos blocos da capital quando começa a temporada de ensaios e preparativos. Ele já trabalha para sair, em 30 de janeiro, no bloco Mamá na Vaca, tradicional pela irreverência do desfile no Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul e por ter como fonte de inspiração a vaquinha da Rua Leopoldina. Como participante orgânico dos movimentos culturais da cidade, Guto também faz reflexão sobre o processo cultural aberto pela festa na capital, que surgiu pelo desejo de ocupação e democratização dos espaços públicos da cidade. Para ele, para além da festa, o reflexo do carnaval na produção cultura de Belo Horizonte "é um dado irrefutável". Durante todo o ano de 2015, bandas que se formaram a partir dos blocos se apresentaram.

Os integrantes dos blocos querem manter o carnaval como uma festa de rua, livre e aberto à experimentação. "A história começa a ser contada. Não existe uma história. São várias. Temos divergências e tentativas de apropriação. Mas é importante perceber que a maneira como ela é contada determina o futuro", ressalta. Na avaliação do historiador, propostas de fazer o carnaval nos moldes como ocorre, por exemplo, em Salvador (com circuitos fechados e camarotes) não combina com o espírito libertário da festa mineira. "A ideia de camarote é o oposto disso. É algo que é exclusivo, de privilégio, festa paga e que segrega." Guto acredita que o número de blocos aumentará, assim como o de foliões. "Muita gente fazendo bloco. Todos compartilham da ideia de um carnaval popular."

Reconhecido por apresentar clássicos do axé, o bloco Então, brilha! terá novidade no repertório, que é cuidado por músicos independentes, como o Di Souza, Gustavito, Leandro César e Glauco Gonçalves. Os músicos deverão executar trilha sonora de desenhos animados, como Tom e Jerry e Super-Homem. Outra surpresa serão os naipes de sopro que se juntarão aos instrumentos de percussão da bateria. O Brilha é responsável por um dos desfiles mais democráticos da cidade, que ocorre na Rua dos Guaicurus. "Desde 2012, se destaca como um bloco muito diverso. É para preto, branco, índio, gay, rico, pobre, as pessoas encontram na diversidade motivos para brilhar", destaca Di Souza. O trajeto deste ano está sendo discutido, mas deverá ser na região do Baixo Centro. "A Guaicurus é a rua mais malfalada da cidade. Mas o Então, brilha! a ressimboliza e ressignifica", lembra.

O Baianas Ozadas, bloco que arrastou mais de 100 mil foliões no carnaval de 2015, também promete novidades. "Estamos cuidando do som, do repertório", diz Heleno Augusto, um dos fundadores e vocalista. O grupo, que sempre faz referência a um nome da cultura baiana, homenageará os Doces Bárbaros - grupo que era formado por Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethania. "Vamos colocar músicas do grupo e também de cada um dos intérpretes." Ao longo do ano, o bloco realizou oficinas para formação de ritmistas e participou de eventos culturais. Ainda há tempo para quem quer participar das oficinas. Basta levar um instrumento, como xequerê, timbal, surdo, caixa e repique.


 


 


A Bahia também é aqui




Ao som de xequerês, agogôs, timbales, surdos e caixas, entre outros batuques, o carnaval se antecipou ontem em Belo Horizonte. O ensaio geral do bloco carnavalesco Baianas Ozadas levou cerca de mil foliões ao Largo da Saideira, na Região Nordeste da capital. E como o próprio nome do grupo já diz, o ritmo baiano dominou a festa em todos os sentidos, a começar pela música e pela animação, com direito ao legítimo acarajé soteropolitano. A pequena Giovanna Carneiro Xavier, de 4 anos, já entrou no clima de Carnaval. "Baianinha ozada" desde os 2 anos, ela levou seu tarol de brinquedo para suas primeiras aulas de batuque, já pensando em fazer parte da banda um dia, segundo o pai, o engenheiro Pablo Xavier, de 31.

No carnaval do ano passado, o Baianas Ozadas arrastou mais de 100 mil foliões pelas ruas do Centro de BH, segundo estimava da polícia. Este ano, os organizadores prometem alegria e amor em dobro. Amor, claro, já que esse será o tema da festa. O bloco vai fazer uma homenagem aos 40 anos do álbum Doces Bárbaros, de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia, de 1976. Trata-se de uma releitura do verso "livre para amar", da música Seu amor. "Vamos discutir o amor em todas as suas formas, livre de preconceito de cor, de gênero e de tantos outros", conta um dos fundadores e vocalista do bloco, o publicitário Geo Cardoso, baiano que adotou BH como lar.

E como em festa baiana não pode faltar acarajé, o cenotécnico de teatro e maquinista Bílio Santos, de 33, viajou de Salvador (BA) especialmente para o ensaio de ontem em BH. "Sou vendedor de acarajé nas horas vagas", brincou Bílio, preparando a iguaria. "Só falta a roupa de baiana, mas o gosto é baiano legítimo. Se quiser quente, sai quente", disse, mostrando a panela de barro com pasta de pimenta. Para refrescar a garganta, os foliões experimentaram o catuçaí, a bebida do amor, que é uma mistura de catuaba com açaí. "É afrodisíaco", garante a vendedora Gabriela Corrêa, de 32.

Nem mesmo o pé quebrado impediu o representante comercial Gustavo Nowak, de 25, de ir à festa. "Já estou no ritmo do carnaval ", disse. A terapeuta ocupacional Amanda Carolina de Souza, de 26, saiu no Baianas Ozadas na folia do ano passado e marcou presença no ensaio. "Só troco o carnaval de Belo Horizonte por Salvador, mas o Baianas Ozadas consegue trazer a Bahia para perto da gente."

Como manda a tradição, o Baianas Ozadas vai repetir o trajeto que sai da Praça da Liberdade e desce a Avenida João Pinheiro até a Praça da Estação. Por esse mesmo caminho passaram os trabalhadores da construção da nova capital mineira no carnaval de 1889, conta Geo. 


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