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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 30-12-2015 - 10:09 -   Notícia original Link para notícia
Bolsa na lanterninha

Em 2015, Ibovespa acumula queda de 11,98%, a maior entre os principais índices globais


Recessão econômica estimada em 3,7%, disparada de 50% do dólar, tombo das commodities, perda do grau de investimento, as intermináveis consequências da Operação Lava-Jato e a crise política. O ano de 2015 foi cruel com o mercado de capitais brasileiro, e o segmento acionário foi um dos que mais acusaram o golpe. O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) vai encerrar com a terceira queda anual consecutiva. O Ibovespa, que reúne as principais ações brasileiras, recuou 11,98% até 27 de dezembro, puxado para baixo sobretudo pela desvalorização de ações do setor bancário, da Petrobras e da Vale, que têm maior peso no indicador. Considerando-se os dados atualizados até ontem, a perda acumulada é de 12,70%, ou seja, a tendência se mantém. Isso torna o desempenho da Bolsa brasileira o pior entre os principais índices acionários do mundo este ano. Já entre todas as ações listadas na Bovespa (359 atualmente), a perda de valor de mercado no ano, até dia 27, foi de R$ 319 bilhões, uma queda de 14,93%.


Quando o Ibovespa é analisado em dólar, parâmetro importante para determinar seu valor aos olhos de investidores internacionais, o quadro é pior. Com a depreciação do real, o índice registrou recuo de 41,2% até o dia 27, o pior desempenho anual desde 2008. Naquele ano, quando a eclosão da crise financeira global derrubou o valor dos ativos e a aversão a risco levou à apreciação da moeda americana, a Bolsa brasileira despencou 55,33% em dólar. Mas o nível do Ibovespa em dólar é o menor desde 2005.


NEM FORTES LUCROS SEGURARAM AÇÕES DE BANCOS Com maior peso na composição do Ibovespa, o setor bancário foi o maior responsável pela retração do índice no ano, apesar de ter registrado aumento nos lucros. O Bradesco registrou queda de 26,30% em suas ações ordinárias (ON, com direito a voto) e de 33,71% nas preferenciais (PN, sem voto). Já o Itaú Unibanco teve perda de 16,24% no papel ON, enquanto sua holding, a Itaúsa, recuou 18,86%. Bastante influenciado pelo noticiário político, o Banco do Brasil despencou 38,89% em 2015.


- Se olharmos sob o prisma do lucro, os bancos "bombaram" este ano. Eles desaceleraram muito as operações de crédito, correram para operações de Tesouraria para aproveitar os juros de 14,25% e ganharam muito dinheiro. Então não foi o desempenho operacional que puxou a desvalorização. Esta, na verdade, reflete uma expectativa ruim para o futuro, um futuro de PIB em queda continuada, de inadimplência em alta e de necessidade de maiores provisionamentos. Além disso, o próprio rebaixamento da nota soberana do Brasil teve como resultado o downgrade dos bancos - explica João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho & Associados.


A conjuntura econômica também deprimiu as outras blue chips da Bolsa, Vale e Petrobras - que ainda tiveram o fator complicador das commodities. O minério de ferro, principal produto da Vale, desabou 42,46% este ano, para US$ 41 a tonelada. O movimento está diretamente ligado à desaceleração econômica da China, o maior consumidor global do insumo e principal cliente da Vale. Para completar, a companhia foi castigada nos últimos dois meses do ano por causa do acidente da Samarco, joint-venture com a anglo-australiana BHP.


PERSPECTIVA CONTINUA NEGATIVA PARA 2016 Alexandre Wolwacz, diretor da Escola de Investimentos Leandro&Stormer, observa que o ocaso da Vale respondeu por parte significativa do tombo de 63,60% das ações da Bradespar. O braço de participações do Bradesco tem 17% do capital da Valepar, controladora da Vale. A Bradespar teve a quarta maior queda percentual entre membros do Ibovespa em 2015. No caso da Petrobras, a estatal sofreu com a continuidade do derretimento dos preços do petróleo. O barril do tipo Brent, negociado em Londres, acumulou queda de 34,91% em 2015, para US$ 37,89, perto do menor valor em 11 anos.


- Mas não foi apenas o petróleo que prejudicou a empresa. Como parte relevante de sua enorme dívida está denominada em dólar, a companhia sofreu um forte aumento de custo por causa da valorização da moeda americana. Além disso, o rebaixamento do Brasil levou a uma venda forçada de investidores institucionais que não podem, por regulamento, aplicar em papéis de nível especulativo, e esse investidores estavam posicionados nas principais ações, como a Petrobras - diz Wolwacz.


Outra empresa de peso cujo revés atrapalhou o desempenho do Ibovespa no ano é a Kroton. As ações da rede de universidades despencaram 40,77% em 2015. Metade desse recuo se concentrou em janeiro, um impacto direto das mudanças no programa de financiamento estudantil federal Fies, promovidas no fim de 2014.


Embora bancos, Vale e Petrobras tenham sido os principais "responsáveis" pela baixa no Ibovespa, outras ações menos relevantes no índice sofreram queda muito mais expressivas. O maior tombo foi o da Metalúrgica Gerdau: 85,31%. Enquanto isso, a siderúrgica à qual está ligada, a Gerdau, caiu 49,9%. A Usiminas despencou 70,19%. Além de problemas internos, como disputas entre acionistas, o setor de siderurgia amarga a fraca demanda interna pelo aço e a disputa com o produto chinês. O resultado tem sido o desligamento de fornos e demissões em massa.


Já a Gol recuou 83,6%, devido à queda da demanda doméstica e à apreciação do dólar, moeda à qual está exposta grande parte de sua dívida.


Na outra ponta do Ibovespa em 2015 ficaram os papéis de companhias exportadoras, favorecidas pela alta do dólar, e da fabricante de bebidas Ambev, considerada um porto seguro dos investidores porque seu desempenho vem resistindo à crise. A Ambev, a empresa brasileira de maior valor na Bolsa, avançou 11,18%. No setor de papel e celulose, a Fibria avançou 56,47%, enquanto Suzano subiu 63,03% e Klabin, 56,69%. Outra forte exportadora, a JBS avançou 9,72%. A Embraer subiu 17,49%. Exceção entre os bancos, o Santander, embora seja pouco expressivo no Ibovespa, ficou entre as dez maiores altas percentuais, com 17,78%.


- Por ser internacional, o banco ficou fora da onda de rebaixamentos no Brasil e registrou melhora em sua carteira de crédito - explica João Augusto Salles, da Lopes Filho & Associados.


Para 2016, a perspectiva para a Bolsa continua negativa, na opinião de analistas.



- Não vimos avanço no lado fiscal com o ministro Joaquim Levy, e pouco se espera de seu sucessor, Nelson Barbosa. Esperamos inflação, dólar e juros em alta, uma conjunção altamente desfavorável para a Bolsa. Muita gente tem falado que a Bolsa está chegando perto do piso e que depois terá de voltar a subir, mas isso só poderá acontecer com diminuição de juros, melhora no superávit, estabilização política e arrefecimento da inflação. Infelizmente, não é o que prevemos - afirma Wolwacz.      


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