Leitura de notícia
O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 25-12-2015 - 12:15 -   Notícia original Link para notícia
Natal da recessão

Dinheiro mais curto reduz a lista de compras e o movimento no comércio



O desemprego e a inflação devem reduzir em 3% as vendas de Natal este ano, prevê a associação de shopping centers. Ontem, as ruas da Saara tiveram movimento mais fraco que em 2014. "Será o Natal da recessão", resume Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio. -RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO- No Natal do ano em que a economia brasileira atravessa sua pior crise em duas décadas, com recessão de mais de 3,5%, o varejo não tem motivos para comemorar. Nem mesmo os presentes de última hora parecem ter salvo a data, a mais importante do ano para o comércio, e as vendas podem cair mais do que em 2014. Nas ruas da Saara e da 25 de Março, regiões de comércio popular de Rio e São Paulo, as imagens eram bem diferentes de outros anos, sem a tradicional multidão nas ruas e com lojas vazias. Ontem, nas últimas horas de compras, os vendedores da Saara faziam de tudo para tentar atrair mais clientes e tentar salvar o Natal. Valia gritar, oferecer desconto e sair às ruas em busca do consumidor.




PEDRO KIRILOS Popular. A Rua 25 de Março, em São Paulo, ficou quase irreconhecível com o fluxo fraco a dois dias do Natal



O cenário de vendas fracas não era muito diferente nos shoppings. Se a previsão da Associação Brasileira dos Lojistas de Shopping (Alshop) se confirmar, as vendas reais (descontada a inflação pelo IPCA) nos 894 shoppings do país encolheram 3% neste Natal em relação a 2014. Às vésperas do Natal, o movimento foi intenso, mas não significou aumento expressivo das vendas.



 Será o pior Natal dos últimos dez anos - afirmou Luís Augusto Ildefonso da Silva, diretor de relações institucionais da Alshop. VALOR DOS PRESENTES CAI ATÉ 15% Segundo ele, no Natal, o movimento aumenta entre 30% e 35% nos shoppings em relação à média dos outros meses. Mas, este ano, diz, a Black Friday, na última semana de novembro, reduziu esse fluxo. E os valores de presentes ficaram entre 10% e 15% menores.



 O presente foi de menor valor tanto para o mais rico quanto para o mais pobre - afirma.



Na Saara, no Centro do Rio - onde nem a decoração de Natal escapou dos cortes -, até a semana passada, as ruas estavam quase vazias para a época. O movimento começou a crescer timidamente a partir do dia 21, dizem os lojistas. De acordo com o presidente do Polo Centro Rio, Associação Comercial da Saara, Denys Darzi, as vendas tiveram um aumento de cerca de 20% de uma semana para outra. No entanto, ele ressalta que não compensam o fracasso do desempenho do mês e afirma ter sido o pior Natal da Saara dos últimos 20 anos.



 Nem em 2002 e 2003 o Natal foi tão ruim. Além da crise econômica que atinge todo o Brasil, nós tivemos um agravante que foi a falta de estacionamento com as obras do Centro da cidade. A Saara ficou irreconhecível no Natal - lamentou.



Entre quem tentava conseguir clientes no grito estava a vendedora Ingrid da Silva, que subiu em um banquinho e anunciava a plenos pulmões a principal promoção da loja Damai: a saia longa que caiu de R$ 10 para R$ 5 na véspera de Natal.



 De vendedora virei locutora também. Fazemos de tudo e tem funcionado, as vendas estão crescendo - disse Ingrid, animada. SACO DO PAPAI NOEL VIRA SACOLINHA Maria Ferreira, gerente da loja Over Black na Rua da Alfândega, conta que, mesmo com promoções de 50%, as vendas caíram cerca de 60% em relação ao ano passado e nem na véspera de Natal o movimento melhorou:



 Está absurdamente menor. Ano passado eu tinha dez funcionários que não paravam, era uma correria do início do dia ao fim, durante o mês inteiro. Este ano, eu tenho seis funcionários que estão ficando desocupados, estou pedindo para eles chegarem mais tarde e liberando mais cedo.



A comerciante Lúcia Costa pesquisou preços na Saara na semana passada e voltou ontem para fazer as compras disposta a gastar até R$ 150, a metade de 2014. Além da lista mais enxuta, ela deu prioridade para os preços mais em conta:



Com a crise eu estou vendendo muito menos e também não posso gastar. O jeito é presentear só os mais próximos e apelar para as lembrancinhas.



O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, estima que, este ano, as vendas do varejo devem cair 4% - acima do 1,7% de queda em 2014 apontado em levantamento da Serasa Experian. Entre os fatores que puxam o consumo para baixo, ele cita a renda corroída pela inflação e a alta do desemprego.



 Este será o Natal da recessão. Ele deve ser igual ou até pior do que em 2003, quando os números foram ruins porque o dólar subiu demais, mas não tinha uma recessão como a de hoje - explicou.



Na Rua 25 de Março, em São Paulo, os preços mais altos fizeram o saco do Papai Noel virar uma sacolinha. Dias antes do Natal, quem foi à região reclamou dos preços e do dinheiro mais curto. Wedson França, que se veste de Papai Noel e distribui presentes à vizinhança no bairro de Artur Alvim, Zona Leste de São Paulo, contou que, este ano, só as crianças serão presenteadas. Ele e a mãe, Maria Batista, arrecadam dinheiro dos vizinhos que querem receber a visita e vão às compras na 25 de Março.



 Temos experiência nisso e posso dizer que está tudo bem mais caro, e as lojas, mais vazias também disse França, que foi às compras no dia 23.



Em tempos de dinheiro curto, priorizar o presente das crianças parece ser a estratégia da maioria dos consumidores. O casal Thiago Oliveira e Flávia Borges era dos poucos com uma sacola mais volumosa na 25 de Março, mas logo explicavam que ali estavam cinco presentes: só para as crianças da família. A dupla, que deixou a compra para a última hora, explicou que estava pesquisando preços e esperando os pagamentos de dezembro. A pesquisa, dizem, valeu a pena: um dos presentes (uma espada de super herói) custou R$ 79 na 25 de Março. A mesma espada era vendida por R$ 210 no shopping. Ao todo, eles gastaram R$ 320. ESPERANÇA DE UM NATAL MELHOR EM 2016 O ajudante de caminhão Joaquim Eduardo estava na 25 de Março determinado a gastar R$ 50 no presente da filha - e conseguiu, comprou uma boneca por R$ 40,89. Com "menos trabalho que no ano passado", como ele disse, a mulher ficou sem presente. Para reduzir os gastos, ele e os vizinhos fizeram uma ceia comunitária.



A intenção menor de compra dos consumidores paulistas já havia sido identificada por entidades como a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e a Fecomércio-SP. Ambas preveem uma retração real de 7% nas vendas do Natal ante o ano passado e também citam que o recuo é o maior desde o início de suas séries históricas. No caso da ACSP, o levantamento começou em 1994, e no caso da Fecomércio, em 2013.



Fábio Pina, economista da Fecomércio-SP, explica que a incerteza em relação ao futuro, a redução do poder de compra e a escassez de crédito são os motivos para a retração do consumo: - Este é o pior Natal da década. Marcel Solimeo, da ACSP, concorda e se mostra pessimista com o futuro. Segundo ele, não há perspectiva de melhora para o varejo em 2016.



 Enquanto o cenário político não se organizar, vai ser difícil reverter - afirmou.



Freitas, da CNC, é mais otimista e prevê recuperação no ano que vem.





No segundo semestre de 2016, a inflação deve cair, e teremos um Natal melhor - acrescentou ele, que acredita que em janeiro os consumidores podem esperar muitas promoções, já que os lojistas, que devem encerrar o ano com estoques elevados, vão querer se desfazer dos produtos.      


Palavras Chave Encontradas: Criança
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.