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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 20-12-2015 - 12:36 -   Notícia original Link para notícia
Nem as promoções conseguem salvar o Natal

Lojas cortam preço, dão brindes e tentam fisgar cliente. Mas setor prevê o pior resultado em 20 anos



"Este ano a lista está bem mais enxuta. Antes, a média era de roupas e sapatos de R$ 50. Este ano caiu para R$ 20, no máximo R$ 30" Zeneide Vieira Vendedora



Se em 2014 o Natal foi o da lembrancinha, este ano é o Natal da promoção. Tradicionalmente, essa é a melhor data para o comércio, mas o que se vê nos shoppings e no comércio de rua é muita liquidação antecipada e poucos clientes com sacolas cheias. Endividados e temerosos com a situação econômica do país, os consumidores não estão sendo seduzidos nem pelas promoções mais atraentes.





ANA BRANCO Estratégia.  A principal tática dos lojistas para driblar o momento ruim e atrair os clientes foi antecipar as promoções que costumam acontecer em janeiro



Não sem motivo, o economista-chefe da Confederação Nacional da Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, espera o pior Natal dos últimos 20 anos, com queda de 3% nas vendas em relação ao ano de 2014 - que já havia sido ruim.



Ano passado, o setor cresceu apenas 2%, contra média de expansão de 4%a 5% registrada desde 2004.



 O Natal deste ano já acabou e foi muito ruim. Para não ficarem no prejuízo, os lojistas anteciparam as liquidações, que aconteciam em janeiro. Mesmo com a crise, as pessoas não deixam de comprar no Natal, mas estão comprando muito menos. Até o fim do primeiro semestre, podemos esperar muito mais promoções - prevê o economista.



FECOMÉRCIO: QUEDA DE 15%



Para Freitas, 2015 só vai acabar de verdade a partir de julho, "quando a economia estiver reajustada" e as pessoas recuperarem o poder de compra:



Até lá, a previsão é que o comércio continue muito devagar, mesmo com todas as promoções.



Pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) indica que o faturamento do setor no Natal deste ano deve ser 15% menor do que o registrado em 2014. O estudo também estima que, no país, o gasto médio com presentes deverá ser o menor em dez anos, com o valor de R$ 138,47. No ano passado, o tíquete médio para a data foi de R$ 223,83.



A pesquisa mostra ainda que, este ano, 53% dos brasileiros têm a intenção de presentear alguém neste Natal, o que equivale a 77,1 milhões de clientes e representa injeção de R$ 10,6 bilhões na receita do comércio. No entanto, a escolha de presentes sugere a preferência por produtos mais baratos, como lembrancinhas (42%), seguidas por roupas e acessórios (40%).



Para atrair o consumidor, as táticas dos lojistas variam. No Norte Shopping, por exemplo, há liquidações com até 60% de desconto, o famoso "compre dois e ganhe um", kits de presentes e brindes, e condições de pagamento facilitadas.



A rede de roupas femininas Folic vai sortear uma semana em Paris com acompanhante e mais mil reais em produtos da loja.



DESCONTO NA COLEÇÃO NOVA



Mas, apesar de todos os esforços do comércio, os números não são bons. De acordo com Guilherme Santos, gerente da Hering do Norte Shopping, mesmo com estratégias voltadas para superar a crise, as vendas caíram 22% este ano em relação a dezembro de 2014.



 Em novembro, tivemos uma queda de 5% e, para melhorar as vendas, resolvemos reunir todos funcionários e criar estratégias de abordagem. E, principalmente, fizemos uma remarcação, reduzindo todos os preços. É uma promoção da coleção nova, o que só aconteceria no ano que vem. Acredito que está funcionando, mesmo com números ruins. Eles poderiam estar ainda piores, como está acontecendo com algumas lojas - conta.



A funcionária pública aposentada Helena Rocha reúne a família em casa no Natal e todos os anos faz o ritual de troca de presentes. Para manter a tradição sem extrapolar o orçamento, ela foi a três shoppings e pesquisou bastante antes de fazer as compras. Helena conta que não deixou de comprar presente para ninguém. Ao todo foram 15, mas todos com preços mais baixos, o que representou uma economia de mil reais.



 Comprei presente para os filhos, netos, amigos, todo mundo. Mas todos com um preço muito mais em conta e estou feliz com as compras - diz Helena.



Já para a vendedora Zeneide Vieira, a prioridade este ano foi colocar as contas em dia. E o que sobrou foi destinado a presentear apenas familiares e amigos mais próximos:



 Eu gosto muito de presentear e antes eu comprava presentes para mais gente. Este ano a lista está bem mais enxuta, e os presentes também estão mais simples. Antes, a média era de roupas e sapatos de R$ 50. Este ano caiu para R$ 20, no máximo R$ 30.



CORREDOR CHEIO, LOJAS VAZIAS



Quem passa pelos shoppings percebe que os corredores estão cheios, mas há lojas totalmente vazias. Além de muita gente pesquisando, uma grande parcela vai apenas em busca de lazer, como é o caso da artesã Renata Ferreira que, junto com o marido Márcio Sales, foi passear no shopping na última quarta-feira e levar a filha Mariana para ver a decoração natalina.



Fiz minhas compras de Natal pela internet, porque dá para pesquisar mais, encontrar promoções reais e é mais cômodo. Mas, diferentemente de outros anos, os presentes foram direcionadas apenas para as pessoas mais próximas e especiais - explica Renata.



SAARA JÁ ESPERA OLIMPÍADAS



Na Saara, no Centro do Rio, ontem - último sábado antes do Natal - em vez de ruas e lojas lotadas, o movimento era bem mais fraco em relação a anos anteriores. E as promoções também não ajudavam a melhorar as vendas. Segundo Denys Darzi, presidente do Polo Centro Rio, associação que representa os lojistas da Saara, a queda nas vendas chega a 50% em relação a 2014.



Ano passado já não foi um ano muito bom, comparado a outros anos, mas algumas lojas conseguiram ter resultados bons. Este ano não, a queda é generalizada e muito grande. Cada loja, independente do tipo, está tendo uma queda de no mínimo 30%, e muitas estão com uma redução de até 50% - lamenta.



Gerente da loja Casa das Sandálias, Wladiane Moura conta que, para não ter prejuízo este ano, a loja reduziu o preço das sandálias em 50% e o número de funcionários também caiu pela metade.



O preço normal da mais barata é R$ 15. Ano passado que já estava com um movimento mais fraco, colocamos a R$ 10 e o resultado foi muito bom. Elas saíram rápido. Este ano não. Colocamos pela metade do preço, e as prateleiras continuam cheias. Em outros anos, e até no ano passado depois da promoção, os funcionários, que eram 16 entre vendedores e caixas, não davam conta de atender a todo mundo e até os estoquistas ajudavam. Este ano, infelizmente só temos oito funcionários e nem parece que é Natal. A nossa esperança agora é com as Olimpíadas e a chegada dos turistas - afirma Wladiane.



Para Rogério Ramalho, coordenador da pós-graduação da Gestão Estratégica do Varejo do Ibmec/RJ, as promoções não serão suficientes para atrair o consumidor. Segundo ele, em meio à crise, as exigências dos clientes se tornam ainda maiores. Em sua avaliação, as empresas precisam investir mais no consumidor do que em preços baixos.



Não tem uma receita de bolo para vender. É preciso olhar mais atentamente para o cliente. Eles não estão procurando necessariamente preço baixo, mas o mais justo. É preciso reconhecer quem é o consumidor, se adequar a quem a empresa quer atingir, trabalhar seus produtos e em seguida se aproximar do consumidor - diz ele.





Segundo Ramalho, a estratégia passa por muitos quesitos, inclusive a valorização do funcionário. Ele afirma que no Brasil, por mais que haja uma crise, há uma cultura forte de presentear no Natal.


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