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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 13-12-2015 - 11:46 -   Notícia original Link para notícia
Recessão aumenta as diferenças salariais

Estudo mostra que abismo entre ganhos de trabalhadores mais e menos instruídos volta a crescer



A recessão tem abatido os menos instruídos. Estudo do economista Naercio Menezes, do Insper, revela que aumentou a distância salarial entre os trabalhadores com menor escolaridade e os que têm nível superior. Este é mais um indicador sobre o comportamento da distribuição de renda no mercado de trabalho, que vem piorando este ano diante da crise que castiga os mais pobres.





ANA BRANCO Efeitos no bolso. Alailson Brito e Jaciara Azevedo estudaram até o sétimo ano do ensino fundamental e trabalham como camelôs no Rio: vendas caíram 50%



De acordo com números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, é possível constatar que o Brasil vinha diminuindo sistematicamente as distâncias salariais provocadas pelo grau de instrução. Esse movimento vinha firme até o fim de 2014. A tendência se inverteu, a ponto de o salário de quem tem curso superior ser 179% maior do que o de quem completou o ensino médio. A diferença aumentou em relação ao início de 2012, quando o percentual era de 175,4%:



- O tipo de crescimento econômico dos últimos anos foi muito concentrado no mercado de trabalho, muito baseado na inclusão de trabalhadores menos qualificados, com a expansão do emprego no setor de serviços. Como a recessão atingiu o mercado de trabalho, esse grupo que foi incluído começa a ser excluído novamente, aumentando a desigualdade - afirma Menezes.



Em razão da desigualdade, o retorno da educação no Brasil é muito alto. A diferença salarial entre quem tem nível superior e os analfabetos ou com pouca instrução é de 342,4%. Com o avanço da escolaridade entre os trabalhadores, principalmente no mercado de trabalho, esse abismo de renda determinado pelos bancos escolares vinha caindo. Em 2004, 10,2% dos ocupados não tinham instrução. Essa parcela baixou para 6,6% em 2014. E, entre os mais escolarizados, houve avanço: 50% tinham 11 anos ou mais de estudo em 2014. bem acima dos 34,3% em 2004.



'POVO ESTÁ COM MENOS DINHEIRO'



Alailson Brito vende capa para banco de carro e proteção para volante na Rua Uruguaiana, no Centro do Rio, há 22 anos. Com o fundamental incompleto, viu o movimento cair 50% nos últimos meses:



 Acho que o camelô nunca sentiu uma crise como essa agora. O povo está com menos dinheiro. Então, as pessoas preferem comprar comida, roupa, coisas mais essenciais. Nem os itens que custam R$ 10 ou R$ 15 estão vendendo como antes.



Brito trabalha com a mulher, Jaciara Azeredo. Os dois pararam de estudar quando cursavam o sétimo ano do ensino fundamental. Eles conseguiam faturar, até um ano atrás, cerca de dois salários mínimos e meio, cerca de R$ 1.800. Agora, nem um salário mínimo conseguem ganhar com a atividade informal. Os tempos já foram bem melhores, lembra Brito. O filho chegou a trabalhar com ele nas vendas na Uruguaiana, mas não foi possível continuar com a ajuda extra.



Ele teve de procurar outro emprego. Não deu para continuar pagando o salário.



Os números do economista Naercio Menezes mostram apenas a desigualdade no mercado de trabalho. Nessa conta, não entram rendas de aposentadorias, pensões e benefícios, como o Bolsa Família. Mas Menezes lembra que a melhora na distribuição de renda da última década foi ditada pelo mercado de trabalho, que responde, em média, por uma fatia de 70% a 80% da renda das famílias.



 Desde janeiro, a distância salarial vem subindo continuamente. Parece que o ciclo de melhora na distribuição de renda vai chegar ao fim. A situação vai ficar bem difícil.



MENOS QUALIFICADOS



O economista Lauro Ramos, especialista em mercado de trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que os primeiros trabalhadores a serem sacrificados quando há crise econômica são os menos qualificados. Nos momentos de crise, acontece o que os economistas chamam de represamento da mão de obra:





 O custo do treinamento sobe com o nível educacional. No primeiro momento da crise, segura-se a mão de obra cujo treinamento custou mais. *Estagiário, com a supervisão de Cássia Almeida      


Só crescimento deve melhorar distribuição de renda novamente                      


Quando economia reagir, trabalhadores menos qualificados serão os primeiros beneficiados


Apenas a volta do crescimento econômico pode mudar essa tendência de aumento da desigualdade que começa a se desenhar no mercado de trabalho, depois de mais de uma década de bonança e de caminho em direção à igualdade, de acordo com avaliação do economista Naercio Menezes. do Insper.


- Só melhorando a economia, fazendo o ajuste fiscal, a distribuição de renda começa a melhorar. É o único jeito de a desigualdade voltar a cair.


Os mecanismos de proteção social, como Bolsa Família, podem impedir o aumento da pobreza, mas não da desigualdade, diz o economista.


- O programa foi bem costurado, bem sedimentado e focalizado. Pode ser que não aumente a pobreza.


Segundo Lauro Ramos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os trabalhadores menos qualificados serão os primeiros a serem beneficiados quando a economia começar a reagir:


- Esses trabalhadores são mais sacrificados no primeiro momento da crise, mas serão esses trabalhadores que começarão a ser contratados primeiro.


Outros indicadores também já mostraram a piora na distribuição de renda do trabalho este ano. O Índice de Gini é usado para medir o grau de desigualdade. Ele varia de zero a um e, quanto mais perto de zero, mais igualitária é a sociedade. O indicador começou a subir no segundo trimestre de 2015, de acordo com estudo de Sergei Soares, economista do Ipea. O índice subiu de 0,5084 no início do ano para 0,5178 no segundo trimestre. (Cássia Almeida)      


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