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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 05-12-2015 - 13:01 -   Notícia original Link para notícia
'Estamos em processo de desinvestimento'

Em reestruturação, o BTG vai encolher para enfrentar a maior crise de sua história. Sob o comando de Persio Arida, o banco já iniciou a venda de participações em uma série de empresas. Segundo ele, os compradores estão 'batendo à porta'



"De um lado, esse processo não acaba do dia para a noite; de outro lado, o banco tem uma agilidade muito grande nos seus negócios, o que faz com que o término desse processo seja muito mais rápido do que as pessoas esperam"



O BTG Pactual vai se desfazer da maior parte dos negócios não financeiros do grupo, diz o novo presidente, Persio Arida, em entrevista a BRUNO ROSA. A crise que assola o BTG Pactual desde a prisão de seu então controlador, André Esteves, há duas semanas, exigiu de seu novo presidente, Persio Arida, um dos idealizadores do Plano Real e expresidente do Banco Central (BC), uma mudança de estratégia. A instituição, que a partir do governo Lula registrou crescimento expressivo em participações em empresas, busca se desfazer de ativos considerados não essenciais para voltar a se concentrar apenas em atividades "próprias de uma instituição financeira". Além disso, o banco passará por investigação independente para apurar se ocorreram irregularidades.




MARCOS ALVES/27-1-2011 Nova gestão. Sem citar nomes, Persio Arida, no comando do BTG , diz que várias vendas estão sendo feitas a preços muito atraentes



Qual é o plano do BTG para enfrentar o atual momento?



Estamos em processo de desinvestimento de vários de nossos ativos que não são essenciais à atividade bancária ou que, de certa forma, podem ser apartados sem nenhum efeito maior sobre a atividade bancária aqui no Brasil. Esses processos estão em curso. A Rede D'Or foi só a primeira (venda). Vários outros anúncios serão feitos. Há muitos interessados nos ativos porque a qualidade é boa. Os compradores estão naturalmente batendo à porta. Não precisei procurar. Os compradores já apareceram. Mas o que são atividades essenciais? Se disser isso, você sabe o que está à venda. O que posso dizer é o conceito que estamos usando na nossa estratégia. Diria que atividades essenciais do banco... O banco é instituição financeira. São atividades próprias de uma instituição financeira. Como está a reestruturação? Primeiro foi a aprovação pelo Banco Central da mudança do controle da instituição, que passa a ser exercida pelos sete maiores sócios da companhia holding .A segunda informação é referente à linha do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Resolvemos tomar a linha por razão puramente prudencial. Estamos administrando a liquidez e o caixa do banco da forma mais prudente possível. Nossa obrigação é ter um colchão de liquidez que nos deixe muito confortáveis. A linha pode ser sacada a qualquer momento. O terceiro ponto é a investigação independente conduzida por membros independentes do board (conselho) sobre quaisquer alegações que tenham sido feitas ou supostamente feitas a respeito do BTG. Esse grupo vai contratar um escritório de advocacia internacional. A venda do banco suíço BSI procede? Não quero falar sobre nada. Como o boato está muito difundido, se eu desmentir tem efeito; se eu confirmar tem efeito.



Preocupa o rebaixamento das agências de classificação de risco?



Se você perguntar se elas tiveram razões substantivas para fazer esse movimento, provavelmente não. Mas, quando a agência de rating percebe mudança no acionista controlador e a insegurança em vários investidores que sacam os fundos, naturalmente a qualidade de risco, percebida pela agência e pelo mercado, mudou. O BTG corre o risco de quebrar? O banco é sólido. A pergunta que cabe não é essa. É outra: qual será o desenho do banco quando a situação se normalizar? É cedo para dizer. Evidentemente será um banco com o mesmo patrimônio, mas com quantidade de negócios substancialmente reduzida porque estamos vendendo várias partes do negócio. Um banco de natureza diferente, mas não do ponto de vista patrimonial, mas, do ponto de vista do tamanho do banco, como inserção no mundo de negócios, será menor, inclusive porque várias vendas estão sendo feitas a preços muito atrativos. Quem são os compradores? Se você observar, independentemente do BTG, foram feitas várias transações de aquisição no Brasil. E claramente tem uma predominância dos investidores estrangeiros. O câmbio depreciou e para esse investidor ficou muito mais barato. E o fato de os preços terem caído muito, como no setor imobiliário, torna os preços em dólares muito atrativos.



Esse período de instabilidade no BTG vai durar quanto tempo?



É impossível falar do futuro. A minha experiência aqui é a seguinte: de um lado, esse processo não acaba do dia para a noite; de outro lado, o banco tem uma agilidade muito grande nos seus negócios, o que faz com que o término desse processo seja muito mais rápido do que as pessoas esperam.



O cenário atual pode afetar o futuro da Sete Brasil (O BTG é acionista)?



Os infortúnios da Sete são de conhecimento público. Nós já fizemos, como outras entidades financeiras, marcações no balanço, declarando perda. Parte preponderante já está marcada como prejuízo. Enfim, é o que se pode imaginar de um projeto que até agora se afigura como mal-sucedido. Mas o projeto vai sair? Vou pedir desculpas a você, mas meu tempo infelizmente acabou.  


BTG pretende vender até R$ 12 bi de participações em empresas          


Banco vende créditos ao BB e obtém linha de R$ 6 bi com fundo garantidor


O BTG Pactual tem hoje uma meta de vender entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões em ativos. De acordo com uma fonte a par das negociações, o valor não é fixo e funciona como referência, mas pode variar de acordo com o volume de saques e captações nas próximas semanas.


SILVIA COSTANTI/ "VALOR ECONÔMICO"/ 6-5-2013 Mudança. Na gestão de Esteves, banco apostou em participações em empresas


- Esse é o objetivo dos gestores atuais, que querem reduzir o tamanho do banco e voltar a focar em ativos financeiros - disse a fonte, que pediu para não ser identificada.


Diferentemente de outros bancos de investimento, que costumam financiar operações de fusão e aquisição ou ter cotas em fundos de private equity (compra de fatias de empresas), o BTG Pactual na liderança de André Esteves gostava de investir diretamente nas companhias. Agora são esses negócios que o banco tem pressa em vender. Enquanto não se desfaz deles, a instituição recorreu ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para conseguir uma linha de R$ 6 bilhões e fugir dos custos de captação mais elevados, uma das consequências da prisão de Esteves no último dia 25.


A operação foi informada ao mercado ontem, mesmo dia em que o banco prestou uma série de esclarecimentos à Bolsa sobre os rumos da instituição. A negociação para o acordo durou menos de 48 horas e foi liderada pelo presidente do Conselho de Administração do BTG, Persio Arida, e os dois copresidentes, Marcelo Kalim e Roberto Sallouti.


GOVERNO ACOMPANHA CASO


Para ter acesso aos recursos, o BTG emitirá Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) garantidos por operações de crédito do próprio banco. Os sete sócios são avalistas da operação. Mesmo com o reforço em caixa, as ações do BTG recuaram ontem 3,86%, para R$ 19,42. Desde a prisão de Esteves, o valor de mercado caiu 37,13%, o equivalente a R$ 10,76 bilhões.


Segundo o diretor jurídico do FGC, Caetano Vasconcellos Neto, a linha anunciada ontem é uma operação comum e costuma ser usada quando um banco tem problemas de liquidez ou enfrenta aumento de custos:


- Se os investidores entendem que um banco está sob pressão, vão fazer exigências maiores, vão cobrar mais. Além de ser uma operação prática, é de menor custo nesse cenário.


Para o sócio da consultoria Apsan, Fabio Rubino, o objetivo é não deixar que a instituição fique exposta ao risco de quebra. Além disso, trata-se de um sinal de prevenção contra um risco sistêmico do setor financeiro, que neste momento está descartado:


- Os R$ 6 bilhões do FGC dão tranquilidade ao mercado em relação a um risco sistêmico, e tenta evitar saques mais agressivos dos clientes.


Segundo fontes, o Banco do Brasil analisa a compra de R$ 2,5 bilhões em créditos do BTG Pactual. Até agora, já foram fechadas operações que somam cerca de R$ 600 milhões. A compra é considerada uma boa oportunidade de negócios. Procurado, o BB não quis comentar. "O Banco do Brasil sempre avalia a possibilidade de aquisição de carteiras com boas condições de liquidez. Mas, no momento não vai comentar avaliações específicas do banco BTG".


Ontem, o BTG confirmou ter vendido debêntures (títulos de dívida) ao Bradesco que somam R$ 822 milhões. Informou ainda que pretende captar R$ 1 bilhão por meio da emissão de Depósitos a Prazo com Garantia Especial.


A equipe econômica acompanha de perto o desempenho do BTG:


- O banco tem condições de tocar os próximos meses tranquilamente - disse um técnico do governo.


A preocupação do governo não é apenas em relação às turbulências no setor financeiro, mas também ao impacto que a prisão de um dos homens mais ricos do país poderia ter no crédito privado.


No processo de reestruturação, nada está descartado. Estão na lista de venda o banco suíço BSI, a empresa de recuperação de créditos Recovery e as participações na rede de estacionamentos Estapar (de 77,4%) e na varejista Leader (de 70%). Segundo fontes, o banco cogita se desfazer de ativos na América Latina. Hoje, ele tem presença maior no Chile e na Colômbia.


RECOVERY VALE R$ 400 MILHÕES


Das vendas em andamento, a mais emblemática é a do BSI, que foi incorporado à instituição brasileira em setembro e era visto como um grande passo na internacionalização do banco. O valor pago à época foi de US$ 1,29 bilhão. Com o BSI, o BTG Pactual esperava que 50% das receitas passassem a vir do exterior. Internamente, a avaliação do banco é que o BSI é um "ativo fantástico", mas que dada a atual situação, "é preciso repensar o banco". Segundo uma fonte, já há interessados.


Assim como na venda da participação da Rede D'Or, que foi feita por R$ 2,38 bilhões para o fundo soberano de Cingapura (GIC), o banco pode novamente fechar negócio com estrangeiros. No caso da Recovery, a gestora americana Cerberus, já está avaliando os números da empresa.


Calcula-se que a Recovery valeria entre R$ 200 milhões e R$ 400 milhões, enquanto os fundos com créditos vendidos do BTG teriam um valor estimado entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão.


- Além de dois grandes fundos, há outros olhando os ativos do BTG - disse uma fonte.      


Caixa não aumentará participação no banco Pan                                                                 


Aquisição teve resultado abaixo do esperado. BTG também é sócio


-BRASÍLIA- A Caixa Econômica Federal não pretende aumentar sua participação no banco Pan (antigo PanAmericano, que pertenceu a Sílvio Santos), comprando ações do sócio, o BTG Pactual, depois dos problemas gerados com a prisão do banqueiro André Esteves. Também não quer vender sua parte porque isso significaria admitir que fez um mau negócio em 2009, quando comprou 36,56% do PanAmericano por R$ 739,3 milhões. Um ano depois, descobriu que comprara um banco quebrado e cheio de fraudes, com rombo de R$ 4,3 bilhões, conforme identificou o Banco Central.


MICHEL FILHO/11-11-2010 Impasse. Agência do PanAmericano: sócios fizeram aportes na instituição


O problema obrigou os sócios a fazerem novos aportes para salvar a instituição e a expectativa era que o Pan voltasse a ter lucro nos dois anos seguintes, o que não aconteceu. Para o governo, controlador da Caixa, o banco federal precisa continuar no negócio para recuperar o investimento passado. Além disso, o Pan tem atuação em nichos que interessam à Caixa, como financiamento de veículos, crédito consignado e empréstimo pessoal.


Mesmo considerando todas as atividades do grupo Pan (empresas de leasing, consórcios e securitizadora), o negócio está longe do retorno esperado: em 2011, o grupo teve lucro de R$ 67 milhões; em 2012, prejuízo de R$ 495,9 milhões; em 2013, perdas de R$ 151,7 milhões e no ano passado, lucro de R$ 7,8 milhões, de acordo com dados da Caixa.


SEM COMPRADOR POTENCIAL


Segundo um interlocutor do governo, que participou das negociações sobre a aquisição da Caixa na época, a transação foi costurada no Palácio do Planalto, com a participação do ex-presidente Lula, de Sílvio Santos e André Esteves. O sócio, contou essa fonte, não era unanimidade nas áreas do governo envolvidas com o tema, como o Ministério do Planejamento.


- Muita gente torceu o nariz quando soube que o sócio era André Esteves. Perguntamos se não havia outro e tinha que ser ele - contou uma fonte, acrescentando que a avaliação era que o banqueiro tinha fama de perseguir o lucro adquirindo bancos falidos, de olho em créditos tributários.


Segundo essa fonte, a Caixa não pode comprar a participação integral do BTG no Pan, porque o banco se tornaria estatal, com a Caixa assumindo os funcionários, o que não é permitido pela legislação. A contratação só pode ser feita via concurso público. Mas, a Caixa, que detém hoje 40,35% do capital total do Pan, poderia ampliar a sua fatia, desde que não ultrapassasse 49% das ações ordinárias (com direito a voto). Por outro lado, o governo avalia que não há no mercado comprador potencial, a não ser um investidor estrangeiro.


ATUAÇÃO EM NOVOS SEGMENTOS


Para o analista João Augusto Salles, da Lopes & Filho Consultoria, o impacto negativo da prisão de Esteves para o Pan é menor do que os problemas de funding enfrentados pelo BTG, justamente porque a Caixa está na sociedade. Segundo ele, isso dá segurança ao investidor.


- O problema é o BTG Pactual. O Pan é um banco blindado - disse Salles, citando que o banco é estratégico para a Caixa.


Ele destacou, ainda, que o Pan passou por um processo de reestruturação e, hoje, o crédito consignado já supera a carteira de veículos, o que era um dos principais problemas do banco, devido ao alto índice de inadimplência e baixa capitalização da instituição. Além disso, o Pan começa a operar em novos nichos, como financiamento imobiliário. A longo prazo, quando a economia reagir, o banco poderá ter bons resultados, avalia Salles.


Procurada, a assessoria de imprensa da Caixa informou que a instituição não iria se manifestar sobre o assunto.


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