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Estado de Minas Online ( Feminino e Masculino ) - MG - Brasil - 22-11-2015 - 04:00 -   Notícia original Link para notícia
Especialista em conforto

Com investimento inicial de US$ 5 mil, ele criou o conceito de roupa de cama de luxo no país


Romeu: para avaliar a qualidade de uma roupa de cama, a origem e o tipo de algodão são mais importantes que o número de fios


Recém-casados, Romeu Trussardi Neto e Adriana Trussardi fundaram uma loja de artigos de enxoval em uma rua de comércio popular da cidade de São Paulo. Como não tinham condições de concorrer com empresas de grande porte, apostaram no diferencial de customizar as peças, comercializadas em pequena escala. Um belo dia, o negócio foi tema de uma reportagem, ganhou visibilidade, e o casal ganhoufôlego para buscar no mundo peças e matérias-primas cada vez mais sofisticadas. Trouxeram para o país o conceito da roupa de cama de muitos fios e, depois, o algodão egípcio. Hoje, a grife criada por eles é referência em artigos de cama e banho, presentes e homewear. Com fornecedores exclusivos, atendimento especializado e obsessão por qualidade e design, figura entre as melhores do mundo.



 


Como começa sua história na fabricação de roupas de cama?
A nossa história na área têxtil começou em 1898, quando meu bisavô, Mateus Trussardi, emigrou de Milão (Itália) para o Brasil (São Paulo) e fundou uma pequena tecelagem que fabricava acessórios para confecção. Desde então, começou a se criar o DNA têxtil da nossa família. Fato interessante é que minha bisavó foi uma das primeiras empresárias do Brasil porque meu bisavô faleceu e ela acabou assumindo a empresa com quatro filhos pequenos. Para encurtar a história, meu avô e meu pai continuaram na área têxtil e eu também, mas em 1991 acabei desenvolvendo um lado comercial. Eu, a quarta geração, e a minha esposa, recém-casados, decidimos abrir um negócio de varejo. Sou o sexto filho de 10, não esperei nenhum tipo de ajuda material dos meus pais, pessoas bem de vida, mas com muita responsabilidade. Não tive ilusão em relação a dinheiro.

Fale sobre o projeto inicial.
Tínhamos um investimento inicial de apenas US$ 5 mil e começamos usando um imóvel da família (pagava aluguel para a minha irmã), em uma rua de comércio popular de SP (Rua João Cachoeira). Minha mãe sugeriu o nome da empresa (Trousseau, enxoval em francês). Com uma loja de 60m2 não tínhamos a menor condição de sonhar grande e nem de concorrer com as grandes empresas. Assim, começamos a customizar as peças em busca de um diferencial. Apostamos em exclusividade, bordados, estampas diferentes, gifts ricos em criatividade,

Dali fizeram fama?
A Adriana, na época com 19 anos, era quem atuava no dia a dia da loja. Eventualmente, ela saía para tomar um lanche e, nesse intervalo, conheceu uma jornalista de revista de circulação nacional que estava fazendo uma reportagem sobre oportunidades de consumo interessantes na nossa rua. Adriana a convidou para conhecer a loja, e ela gostou. Depois dessa reportagem, passamos a ter fila na porta antes de abrir. O episódio foi um divisor de águas. A partir daí, a Trousseau não dependeu mais de amigos ou de familiares que compravam lá para nos ajudar.

Mas os produtos já eram bons...
Ah, sim, dentro das características da época. E sempre fomos obcecados por oferecer produtos exclusivos e o atendimento personalizado, porque a Adriana saia da loja e ia até a casa das clientes para montar as camas. E eram pessoas "conhecidas", que prezavam aquele tipo de serviço, o que ampliou nosso círculo de amizades e de bons clientes. Esse atendimento continua até hoje, faz parte do nosso DNA cada vendedora agir como a dona da loja, querendo satisfazer os desejos e sanar as necessidades de cada cliente.

Como foi a evolução do negócio? 
Começamos a descobrir que o Brasil tinha pouco acesso a coisas boas (falo de 25 anos atrás), e que havia uma demanda reprimida para isso porque o brasileiro sempre foi um povo sofisticado, que gosta de receber, de curtir a casa. Então, resolvemos ganhar mundo para ver o que havia de melhor em nosso segmento. E foi interessante porque nós temos hoje parceiros que estão conosco há mais de 20 anos. Muitos deles conheci inclusive sem dinheiro para fazer negócio. Mostrava um álbum com fotos da loja e dizia: quero comprar, mas você precisa me dar crédito. Eles achavam graça, e alguns realmente confiaram. Tanto que fomos pioneiros em trazer as melhores matérias-primas para o mercado nacional.

O que destaca?
Nesse meio tempo criamos um monstro, porque um dos produtos que trouxemos foi um lençol americano cujo apelo era o número de fios, só vendiam pelo número de fios, de 200 a 300. Até então, só havia tergal e 100% algodão (de um algodão muito ruim) no mercado brasileiro. Mesmo em enxovais classe A, a matéria-prima base era de qualidade inferior, tanto que o costume era "esconder" a roupa de cama sob a colcha. Voltei e promovi uma verdadeira catequização em nossa equipe, falando que nosso diferencial seria o número de fios. Fomos os primeiros importadores nacionais desse artigo e, paralelamente, desenvolvíamos aqui produtos complementares, toalhas de banho (por gramatura), tapetinhos e tal.

Como descobria fornecedores? 
Em feiras, íamos a três ou quatro por ano. Frankfurt, Paris, NY. Começamos a nos familiriazar com as pessoas. Em um determinado momento, aquela empresa americana que havia me apresentado as peças com muitos fios foi à falência, tive um pedido grande furado, e, em uma das feiras, conheci um outro grupo de pessoas muito mais sofisticadas, os europeus: franceses, italianos e belgas. Nesse momento, a Trousseau deu um outro salto.

Por quê?
Porque voltei dessa viagem e disse: Pessoal, o número de fios não quer dizer nada." Descobri que o lençol americano de 300 fios que tínhamos era muito inferior ao italiano de 200, porque a fibra deles é de algodão egípcio, que recebe tratamento muito especial para dar toque diferenciado. Dali fomos nos aprofundando nesses detalhes e investindo na nossa própria confecção.

Como é o funcionamento da empresa? 
Temos 256 pessoas trabalhando diretamente para nós (registradas), sendo 50 delas no ateliê, que hoje faz os produtos mais sofisticados do mundo porque nós importamos as máquinas que os italianos usam para fazer os acabamentos mais delicados e primorosos (que traz pontos ajour ultraprecisos, simétricos). Porque as costureiras da empresa estão conosco há 20, 25 anos. Porque nossa tecnologia de estampa é dream touch (você pega uma peça estampada e não há relevo) e nosso fornecedor especializado em desenvolver os melhores tecidos do mundo, entre outras características.

Qual é o pilar de trabalho da Trousseau?
Nossa constelação é a parceria com cerca de 10 fornecedores exclusivos para o Brasil, que produzem as melhores matérias-primas do mundo e só vendem para nós e para as melhores boutiques mundiais.

Que matéria-prima é essa?
Cada um tem a sua particularidade. Ou é o tecido de algodão egípcio (cultivado em uma área mínima e realmente bastante especial do Egito), ou a estamparia em cima de um tecido de algodão penteado, sanforizado e com vários outros processos que dão esse produto final. São produtos que duram mais de 10 anos, mantendo a suavidade do toque. É o maquinário único (elas não estão à venda em indústrias, mas vêm de um laboratório de pequenos artesãos italianos que as adaptam), entre outros.

A oferta da grife inclui produtos importados e também os fabricados aqui?
Geralmente, importamos apenas a matéria-prima. E até por isso o consumidor é beneficiado: o produto Trousseau, que pode ser comparado àqueles das melhores grifes do mundo, custa hoje entre 30% e 40% menos (em dólar). Não falo aleatoriamente, mas com base em uma pesquisa. E isso porque há alguns anos, com as altas taxas de importação, muitas pessoas preferiam comprar roupa de cama em Miami. Então, elaboramos a estretégia de comprar matéria-prima e criar o melhor ateliê do mundo. Com isso, conseguimos oferecer para esse cliente exigente a melhor relação custo/benefício.

Você compra matéria-prima em dólar, em euro. Como fecha a conta e ainda oferece um produto mais competitivo?
No custo de um lençol você tem 30% de matéria-prima, 20% mão de obra, 20% de despesas, 30% de impostos. Quando você importa o produto acabado, o que custa 100 chega ao Brasil a 190. Quando você importa matéria-prima, o custo de 100 vai para 140. E você só vai aplicá-lo em 30% do valor do produto, porque o resto é despesa no Brasil. Criamos essa estratégia a partir de uma necessidade da empresa há 10 anos, e não agora. Hoje, fazemos 100% da nossa roupa de cama aqui.

A Trousseau exporta?
Já começamos, e a ideia é focar também o mercado externo. Fechamos negócio com três lojas revendedoras no Uruguai (Montevidéu e Punta Del Leste), acabamos de fazer a primeira venda para um hotel em Amsterdã (Holanda) e, hoje, no Brasil, atendemos às cadeias de hotéis Grand Mercure, Pullman e Sofitel (da Accor) , além de mais de 60 hoteis-boutique. Estamos em processo de expandir a parceria para hotéis da rede fora do país porque realmente estamos com preço muito competitivo.

São 20 lojas no Brasil? 
Sim, e os produtos também são comercializados em mais 30 multimarcas superselecionadas. Além das vendas via e-commerce, para hotelaria e para o setor corporativo.

A Mônica Gonçalves é parceira em BH desde quando?
Não é uma franquia, e ela é a única parceira. Não temos sócios. A ideia de abrir uma loja na cidade lá atrás partiu dela, em 1993. Na época, a Mônica conseguiu trazer uma marca de SP que estava iniciando para um mercado novo, e contribuiu muito para que ela crescesse não só em Minas, mas nacionalmente e globalmente. Aqui, temos famílias que compram desde o início das nossas operações e que continuam comprando. É uma construção a quatro mãos que nos dá muito orgulho.

Quem é o público-alvo? 
Não só a família abastada com poder aquisitivo para comprar luxo, mas pessoas que buscam uma diversidade de produtos. Há toalhas ultrassofisticadas, e também toalhas de preço comercial, mas também diferenciadas. O glamour da marca está impresso em todas as linhas. No entanto, há produtos a partir de R$ 50, a Trousseau off (que comercializa coleções passadas com descontos de até 40%). Há itens como uma vela feita à mão no interior da Bélgica (que descobrimos em uma viagem), de fragrância expepcional e três pavios que garantem a queima por igual, cujo preço é quase R$ 1mil. Mas também uma vela "mais normal" que custa R$ 90. Há de linhas cujos produtos custam R$ 1 mil até outras, com peças de R$ 10 mil.

Qual é o carro-chefe? 
O carro-chefe é a roupa de cama (atualmente, o designer italiano Sandro Oberhammer assina as coleções, e a grife acaba de lançar campanha na temática Flores e jardins), mas o que levamos para todos os outros produtos é a mesma obsessão por qualidade e design. As camisetas, por exemplo, tem sido feitas com o melhor algodão pima (peruano) do mundo (produzido também em uma área minúscula), cujo toque é extraordinário.

Planos? 
Manter o que construimos, crescer nas oportunidades que vão surgir na exportação e no mercado interno. Somos uma empresa 100% formal, com todos os processos validados por auditoria. Porque vai haver uma peneira em empresas que estão descapitalizadas e/ou funcionando em desacordo com a legislação, e elas não vão sobreviver.

Você tem concorrentes? 
Em todas as esquinas. Uma loja de roupa feminina, por exemplo, é uma concorrente. Mas foco em vender nosso produto.

O que a sua mulher, Adriana, é para você, para a marca? 
A gente tem uma tradução da Trousseau própria, que é true (verdade) soul (alma). A Adriana é essa tradução.

Como avalia a sua trajetória?
O que gostaríamos de deixar de mais importante nesta comemoração dos 25 anos é que criamos uma família com os mesmo valores, os mesmos princípios de respeito ao cliente, ao fornecedor e à comunidade (principalmente por meio da ação Trousseau do Bem, inaugurada há 18 anos, com o objetivo de direcionar parte do valor arrecadado com vendas para instituições como a Apae-BH, contemplada com 1.354 cestas básicas em 2014).

Como define o seu diferencial?
Primeiro, o fato de ter escolhido a mulher certa. Além disso, sempre procurei fazer tudo o que estava ao meu alcance e deixar o resto nas mãos de Deus. Nunca quis ser mais que Ele, ou fazer mais que Ele fez, e continua fazendo. A maior herança que recebi dos meus pais foi justamente essa fé, que realmente tem feito a gente não só se orgulhar de um negócio, mas da família que construímos na Trousseau.

Sonhos? 
Ver Trousseau nos lares mais felizes do Brasil e do mundo, não importa se em palácios ou não.


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