Vendas do comércio caem 0,5% no país e 0,6% em Minas. No estado, tombo em setembro sobre agosto é o 9º consecutivo. Desemprego, inflação e juros altos derrubam o varejo

Fernanda Borges

Publicação:13/11/2015 04:00

Com poucos clientes, setor acumula retração de faturamento de 2% nos nove primeiros meses do ano sobre igual período de 2014

Sem a recessão econômica brasileira dar sinais de mudança no curto prazo, os consumidores continuam cautelosos e o comércio segue amargando perdas. As vendas do setor em Minas Gerais caíram pelo nono mês seguido, segundo informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em setembro, ante agosto, a queda foi de 0,6%. Com o resultado, as vendas do varejo já estão 5,5% abaixo do pico registrado em novembro de 2014, ponto mais alto da série. O consumidor está com o pé no freio diante do aumento da inflação, desemprego e crédito mais caro. Com o resultado, o comércio em Minas acumula queda de 2% nas vendas de janeiro a setembro deste ano e, em 12 meses, de 0,7%, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada ontem.

A queda das vendas em Minas Gerais ficou acima da média nacional, de -0,5% em setembro. De janeiro a setembro de 2015, as taxas acumuladas no varejo brasileiro ficaram em -3,3% e nos últimos 12 meses em -2,1%. Segundo Antônio Braz, analista do IBGE em Minas, alguns setores do varejo apresentam resultados negativos desde 2013, "quando o mercado de trabalho começou a ficar ruim", observa. "Desde o início do ano, as taxas de desemprego na Grande BH estão subindo, o que torna mais evidente o cenário de baixa e queda no consumo", explica.

O comércio varejista ampliado em Minas, que inclui o varejo e as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, voltou a registrar variação negativa na margem. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a queda foi de 9,1% para o volume de vendas. No que se refere às taxas acumuladas, os resultados foram: -6,9% no acumulado do ano e de -5,1% nos últimos 12 meses.

A maioria das atividades do varejo registrou recuo nas vendas em setembro, na comparação com o mesmo mês de 2014. No varejo restrito, a queda de 2,5% foi resultado, principalmente, do mau desempenho de móveis e eletrodomésticos (-14,9%); tecidos, vestuário e calçados (-12,7%); e equipamentos e materiais para escritórios (-18%). No varejo ampliado, onde a queda alcançou 9,1% em setembro ante setembro de 2014, houve recuo de 20,6% para o setor de veículos e redução de 13,3% para material de construção.

Tomando-se a variação acumulada em 12 meses, as maiores quedas foram percebidas nos setores de equipamentos e materiais para escritório (-19,7%), móveis (-14,1%), móveis e eletrodomésticos (-7,9%) e veículos (-13%). "São produtos de consumo, de setores que dependem de financiamento. Com a elevação dos juros, ficou mais difícil comprar", destaca Antônio Braz. Ainda segundo o analista, com o crédito mais restrito e alta da inadimplência, as famílias seguem mais cautelosas em relação ao endividamento, o que influencia diretamente nas compras a prazo, especialmente para a aquisição de bens de consumo. As taxas de juros do crédito para pessoas físicas subiram de 28,2% ao ano em setembro de 2014 para 37,4% ao ano em setembro de 2015, de acordo com levantamento do Banco Central.

Pé no freio O cenário no varejo ampliado - que inclui as atividades de veículos e material de construção - é mais grave, segundo o IBGE. O volume vendido está 15,7% menor do que o nível mais alto da pesquisa, alcançado em agosto de 2012. "No ampliado, por incluir atividades do atacado, a questão do menor ritmo da atividade tem um impacto mais direto. Há projetos que são engavetados, gastos que são postergados, influenciando a produção de veículos e de material de construção", explicou Isabella Nunes, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE. "E as vendas de bens duráveis vêm perdendo fôlego porque, em geral, são itens de valor mais elevado, que comprometem mais a renda", destacou.

O varejo já acumula oito meses de queda nas vendas no ano de 2015. De fevereiro a setembro, as perdas chegam a 6,8%, segundo os dados do IBGE. É a maior sequência de taxas negativas da série histórica (iniciada em 2000). Embora o resultado de janeiro tenha sido positivo, ficou muito próximo à estabilidade: 0,1%. De acordo com Isabella, houve influência na massa real de salários pagos aos trabalhadores ocupados, que saiu de alta de 0,9% em setembro de 2014 para uma queda de 6,1% em setembro de 2015. "Ou seja, a conjuntura de 2014 era outra em relação à de 2015 para a massa salarial, que é fundamental para a influência sobre o volume de vendas", justificou a pesquisadora. Em setembro, houve recuo de 6,2% nas vendas na comparação com setembro do ano passado. "Foi o pior resultado para o mês de setembro da série histórica", concluiu Isabella. (Com agências)

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