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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 08-11-2015 - 11:27 -   Notícia original Link para notícia
Desce uma local, por favor!

Em três anos, número de microcervejarias no Estado do Rio cresce 138%, acima da média do país


O número de cervejarias artesanais no Estado do Rio cresceu 138% nos últimos três anos, um avanço acima da média nacional, de 81%. Empresas planejam expandir produção. Um quadro negro escrito com giz anuncia a venda de 15 tipos diferentes de chopes desenvolvidos por cervejeiros fluminenses. A cena aconteceu na última quarta-feira, na Lapa, e promete ser cada vez mais comum. O Rio vive uma explosão no setor de cervejas artesanais - ou especiais, como definem os analistas - nos últimos três anos, quando pulou de 13 fábricas pequenas e médias, em 2012, para 31, no fim do ano passado. O crescimento de 138% no período é maior do que a média nacional, de 81%.


CUSTÓDIO COIMBRATrabalho duro. O mestre-cervejeiro Gilmar Gutbrodt testa uma das receitas da Noi, em Niterói, que passa por sua terceira expansão em apenas quatro anos de funcionamento e se prepara para produzir 200 mil litros por mês


Quando se incluem no cálculo as empresas que não têm fábrica própria e, por isso, terceirizam sua produção - conhecidas no mercado como "ciganas" - o total de microcervejarias no Estado do Rio chega a 60. De acordo com o Sebrae, em todo o país já são 391 microcervejarias, de um total de 450 fábricas produtoras de cerveja.


Principal festival cervejeiro do estado, o Mondial de la Bière, que acontecerá de 19 a 22 deste mês, no Pier Mauá, é um retrato do crescimento do setor. Em sua terceira edição, registrou aumento de 585% de marcas fluminenses. De sete, em 2013, saltou para 48.


Empresários do setor citam dois fatores que poderiam acelerar ainda mais a expansão. O primeiro é a inclusão das microcervejarias no Simples, regime que prevê a redução de tributos, uma questão em análise no Senado. No caso específico do Rio, outro aspecto em discussão são as barreiras na legislação municipal, que acabam incentivando a migração para cidades no interior do estado.


- O Rio está explodindo com cervejas boas. Chega a ser assustador - diz o empresário Osmar Buzin, que fundou há quatro anos a niteroiense Noi, hoje em sua terceira expansão, de 60 mil litros mensais para 200 mil litros. - Em um ano e meio, este crescimento terá sido totalmente absorvido.


SETE TENTATIVAS DE INSTALAR FÁBRICA NO RIO


A Noi não é a única. Criada há 12 anos em Volta Redonda, a Mistura Clássica está de mudança para a Marina Verolme, em Angra dos Reis, onde, a partir de janeiro, será a primeira do país a poder ser visitada por barcos. No início de 2016, a produção passará dos 40 mil litros mensais para 130 mil. No mercado há menos de um ano, a "cigana" Trópica saltará de 8 mil para 27 mil litros por mês - com chance de chegar a 150 mil - ao arrendar fábrica em Campos, onde começará a operar no início de 2016. Além disso, terá uma loja conceito em Botafogo.


Outra empresa "cigana", a Jeffrey se estabelecerá na Fazenda Inglesa, em Petrópolis, onde, além de abrigar uma galeria de arte, produzirá 70 mil litros mensais a partir de 2016, com planos de ultrapassar os 300 mil litros mensais em três anos. Hoje, 60 mil litros são fermentados a cada mês em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. A marca manterá a produção fora do estado para abastecer São Paulo.


- O mercado de cervejas especiais cresce nos últimos anos com vigor. O consumidor passou a experimentar novos produtos e sabores, o que criou hábitos de consumo. E, como são mais caras, têm como seu principal público as classes Ae B, que ainda não sofrem os efeitos da crise com a mesma intensidade que as classes sociais mais dependentes de crédito - diz Adalberto Viviani, sócio da consultoria Concept, que prevê que as cervejas especiais cheguem à faixa de 2%a 4% do mercado até 2022; contra menos de 1% hoje.


Levantamento de distribuidores mostra que os pontos de venda de cervejas especiais na Região Metropolitana do Rio saltaram 132% de 2013 a 2014, passando de 250 para 580. Apesar do interesse maior do consumidor, a capital vive o desafio de atrair novos investimentos. Empresários reclamam que o decreto municipal que trata do zoneamento urbano carioca está ultrapassado, proibindo, por exemplo, fábricas próximas a instituições religiosas e de ensino. Quando foi elaborado, em 1976, o país nem sonhava com o boom no segmento de cervejas especiais. Estão ativas apenas quatro microcervejarias na cidade do Rio, a mais recente de 2008.


Um dos pioneiros da produção de cervejas caseiras e proprietário do Botto Bar, na Praça da Bandeira, o advogado Leonardo Botto já fez sete tentativas de instalação de fábricas. Todas rejeitadas pela prefeitura: uma na própria Praça da Bandeira, além de duas em São Cristóvão, duas na Penha, em Santo Cristo e Parada de Lucas. Botto cita um caso de São Paulo, onde uma microcervejaria que produz 7 mil litros mensais da Academia Barbante foi instalada no terceiro andar do edifício comercial Eataly, polo gastronômico inaugurado em maio.


- As dificuldades no Rio são muitas. A primeira é de não saber o que é uma cervejaria artesanal, classificando-a da mesma forma que fábricas de uma gigante do setor - avalia Botto, que lança no Mondial de la Bière sua própria marca, a Beertoon, e fará em 2016 sua oitava tentativa de instalar uma cervejaria na cidade. - Pelas dificuldades que temos, ocorre a migração para municípios vizinhos, atentos ao turismo e à geração de empregos.


PREFEITO PROMETE MODERNIZAR DECRETO


A falta de fábricas atrapalha o desenvolvimento das "ciganas". Espécie de incubadora de marcas cariocas, a fábrica Allegra, em Jacarepaguá - que, em 2016, investirá em suas próprias receitas -, não consegue atender a todos os pedidos. Assim, marcas como Hocus Pocus, Hija de Punta e Green Lab buscaram abrigo em Juiz de Fora, numa planta receptiva às "ciganas". Hoje, elas formam uma espécie de cooperativa para reduzir custos, como o de distribuição.


- Tem gente que quer entrar no setor e não consegue. As "ciganas" que estão em uma fábrica não querem sair. Nós nos reunimos para conseguir negociar preço - diz Pedro Butelli, sócio da Hocus Pocus. - Não nos vemos como fábrica no Rio. A burocracia é maior que na Região Serrana.


Do outro lado, o prefeito Eduardo Paes, que se define como "cervejeiro de fim de semana", prometeu diminuir os obstáculos.


- O decreto municipal que rege a permissão de instalação de fábricas de cerveja é bem antigo, de 1976, e só contempla as indústrias. Por isso, vamos rever o documento para modernizá-lo e adequá-lo à realidade deste novo mercado que surgiu com as cervejarias artesanais. Vamos estudar a possibilidade de instalação destas pequenas fábricas em áreas mais urbanas e de relevância turística - afirma.


Francisco Moreira, sócio tributarista do escritório CBSG, diz que obter espaço é desafio para quem tenta investir. Segundo ele, é preciso criar na capital polos turísticos de cerveja, como ocorre na Região Serrana e em diversas outras cidades:


- Falta um plano diretor para a cidade nesse sentido. Já o Estado do Rio criou todas as condições para estimular o mercado, com a redução, em 2014, do ICMS das microcervejarias, que caiu de 25% para 13%. Houve ainda um trabalho conjunto para se criar uma rota cervejeira na Região Serrana, hoje uma das mais importantes do país.


Assim, o interior age rápido. Em agosto, Nova Friburgo sancionou lei que isenta microcervejarias da taxa de emissão do alvará e de IPTU por cinco anos. O município tem três cervejarias, Ranz, Barão Bier e Rock Valley, todas em expansão; e três novas serão lançadas em 2016. O objetivo é estimular o turismo.


Agora, há uma expectativa para que as pequenas sejam incluídas no Simples. Nele, a alíquota única varia de 4,5%, para faturamento anual de até R$ 180 mil, a 12,11% (até R$ 3,6 milhões).


- A carga tributária para bebidas alcoólicas é bastante elevada, com impostos que representam 60% do valor de venda, podendo chegar a até 68% da receita das cervejarias - diz o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos. - A política tributária é a "exterminadora do futuro" dos pequenos.


A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), relatora da comissão que analisará o projeto de inclusão das microcervejarias no Simples, diz que o setor poderá oferecer produtos com preços mais competitivos, ampliando as vendas e o seu faturamento.


Num momento de recessão e agravamento do desemprego, interessa estimular o dinamismo da economia, além de favorecer os consumidores, que poderão contar com várias opções, num mercado competitivo afirma a senadora, por e-mail.


Gigantes da cerveja entram na disputa por sabores exóticos


Ambev, Petrópolis e Schin partem para aquisições e selam parcerias


De olho em um segmento em que uma cerveja pode custar até R$ 120, as maiores companhias do setor têm investido pesado na ampliação dos chamados rótulos especiais. Na busca por uma maior rentabilidade nos negócios, gigantes como Ambev (dona de Skol e Brahma), Brasil Kirin (Schin) e Petrópolis (Itaipava) decidiram partir para o ataque com novos sabores. Para incluir em seus catálogos bebidas com ingredientes inusitados como pimenta-rosa, jabuticaba, abacaxi e até mel, estão comprando cervejarias locais e firmando parcerias com as "pequenas" concorrentes.


CUSTÓDIO COIMBRADiversidade. As maiores cervejarias do país apostam em novidades, de olho na rentabilidade dos rótulos especiais


Mas, segundo analistas, o segmento vai passar ainda por novos processos de aquisições. Recentemente, a Ambev, por exemplo, comprou a mineira Wäls e a paulista Colorado. Há quem acredite em novos negócios, já no curto prazo, envolvendo as rivais Petrópolis e Kirin. Segundo o dono de uma microcervejaria do Rio que pediu para não ser identificado, as grandes companhias estão "sedentas" pelas inovações das empresas menores:


- Eu, que tenho uma cervejaria pequena no interior do Rio, já recebi pedido de conversas com as grandes do setor - disse.


CERVEJA EM BARRIL DE VINHO


Segundo o consultor Alexandre Loures, diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos e na Europa, onde as maiores empresas assistiram a um crescimento do segmento especial e só depois começaram a comprar as marcas menores, no Brasil, esse processo foi diferente:


- As grandes companhias querem participar desse movimento. Então, esse processo começou quando a Brasil Kirin comprou Baden Baden e Eisenbahn (a partir de 2007). O crescimento de renda nos últimos anos permitiu que o brasileiro descobrisse novos sabores. E, agora, o segmento de cervejas especiais vem crescendo porque muitos consumidores estão trocando os vinhos pelas cervejas. As artesanais ainda ganham vantagem em relação às importadas, suas principais concorrentes, já que o dólar alto encareceu esses produtos.


Assim, as empresas correm com os lançamentos. A Ambev, por exemplo, com mais de 50 rótulos, apresenta no fim deste mês uma nova cerveja, feita em parceria com a Wäls e a americana Goose Island (da AB InBev), envelhecida em barris de vinho. Segundo Ricardo Amorim, diretor de Conhecimento Cervejeiro da Ambev, deve chegar ao mercado em breve a nova cerveja Travessia, feita em parceria com a rival Therezópolis, que tem aroma de tangerina:


- Queremos oferecer novas opções para os consumidores. E há a questão da rentabilidade, embora os volumes sejam pequenos. Reformulamos o site Empório da Cerveja, que só vende cervejas especiais.


Quem também prepara novidades é a Petrópolis, dona de marcas como Black Princess e Petra, e que é a única a produzir, fora da Alemanha, as cervejas da marca Weltenburger Kloster, criada em 1905. Ao todo, são 11 rótulos. Segundo Eliana Cassandre, gerente de Propaganda do grupo, a companhia prepara um novo rótulo para 2016.


- Vamos ainda ampliar a distribuição e aumentar os investimentos em marketing. Apesar da crise, o segmento cresce. Hoje a nossa fábrica em Teresópolis só produz as marcas especiais - disse Eliana.


Para Glaucia Gomes, diretora de marketing da Brasil Kirin, a aposta em cervejas especiais é um caminho sem volta. Segundo ela, há enorme potencial de crescimento, "já que essa é uma fatia de mercado que começou a ser explorada há pouco tempo".


- Sempre estamos atentos para trazer novos paladares. Em março, lançaremos a cerveja vencedora do 6º Concurso Mestre Cervejeiro Eisenbahn.


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