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Estado de Minas Online ( Economia ) - MG - Brasil - 08-11-2015 - 04:00 -   Notícia original Link para notícia
Preços em queda num Brasil que ninguém vê

A despeito da alta de 7,69% da inflação, neste ano, na Grande BH, 36 produtos e serviços apresentaram inflação negativa, mas passam despercebidos entre 360 itens do IPCA


Marta Vieira


Publicação:08/11/2015 04:00



Com dinheiro no bolso, Elmerso Gomes pesquisou e conseguiu baixar em R$ 400 o preço na compra de um aparelho de som

Aparelhos de som vendidos a preços 15,6% mais baixos na comparação com o ano passado, televisores oferecidos em tabelas com descontos de 5,7%, microcomputadores, carne de porco, sapato feminino, banana-prata e abacaxi, surpreendentemente, sustentam uma inflação negativa na Grande Belo Horizonte. Isso mesmo, os preços caíram. Parece piada, mas é o que está ocorrendo num Brasil que pouca gente identifica com o país da atual crise econômica e política que encareceu as despesas, comprimiu a renda das famílias e impõe perda de vendas a comércio, prestadores de serviços e indústrias.

Enquanto a inflação subiu 7,69% de janeiro a outubro na Grande BH, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), um grupo de 36 itens que compõem o indicador fez o caminho inverso. Como têm peso menor no orçamento doméstico ou não fazem parte da lista frequente de compras, perdem força para conter a alta do custo de vida, mas conhecer cada um desses produtos pode ajudar o consumidor a aliviar a pressão das contas ou a realizar algum desejo de consumo adiado (veja o quadro).

As deflações de eletroeletrônicos, serviços de hotelaria, seguro de veículos e de motocicletas lideram esse batalhão de preços em queda na comparação com a pesquisa do IPCA de dezembro do ano passado. Não é por pouco que eles passam despercebidos. O indicador oficial da inflação é formado por mais de 360 produtos e serviços dispostos em nove grupos de itens.

A dona de casa tem dificuldades de perceber esse movimento não só em razão da alta geral do custo de vida, observa o analista Antonio Braz de Oliveira e Silva, do escritório de Belo Horizonte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Esses produtos somem no meio da multidão de índices que compõe o IPCA e a maior parte deles não está na relação de itens de consumo essencial e contínuo", afirma. Na linha de frente das reduções de preços, estão os eletroeletrônicos e motocicletas, produtos que, em comum, estão em baixa no comércio porque dependem de crédito financiado e a taxas de juros recordes, ao consumidor.

Não foi sem motivo que o número de dívidas em atraso subiu 2,27% em Belo Horizonte no mês passado, quando comparado ao registro do mesmo período de 2014, representando o maior índice dos últimos cinco anos, de acordo com levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da da capital mineira (/BH). Para a economista da /BH Ana Paula Bastos, não há a menor dúvida de que a combinação explosiva de crédito caro e a compra feita em longas prestações explica a redução dos preços de 4,9% em média, de janeiro a outubro, dos produtos do grupo do IPCA composto de TV, som e informática.

"As pessoas estão com medo de se endividar a longo prazo com o crédito caro como está e temem o desemprego. Por isso não estão comprando esses produtos", diz Ana Paula. As vendas do comércio de BH caíram 2,41%, na média, durante os primeiros oito meses do ano e o varejo de máquinas e eletroeletrônicos é o que mais sofre, de acordo com a instituição. Os números do IPCA acumulado em 2015 indicam redução de 4,79% até outubro dos preços de aparelhos de DVD e de 5,65% de televisores.

BARGANHA PROVEITOSA Com vendedores desesperados para fechar negócio, na outra ponta, o consumidor que tem dinheiro disponível ganha poder de barganha. Dinheiro em mãos, o empresário Elmerso Gomes, depois de muito pesquisar, conseguiu, na semana passada, uma redução de R$ 400 no melhor preço encontrado pelo sonhado aparelho de som. Na prateleira, o produto era oferecido por R$ 1.800 para pagamento à vista. Preparado para o desembolso, Elmerso ainda conseguiu negociar desconto de 22,23%. "Está tudo caro. Este é o presente de Natal da família", brincou o empresário quando colocava o produto no banco de trás do carro.

Meire Ivone se recusou a financiar um televisor para a filha e percorreu várias lojas até encontrar a condição para pagar à vista
À chegada dos compradores que anunciam ter dinheiro para pagar à vista, antes mesmo da primeira tentativa de negociar, os vendedores logo informam que os preços já estão menores por causa da baixa procura, mas a balconista Meire Ivone Clemente não se deu por vencida, ao procurar um televisor para a filha. Decidiu bater pernas na Rua Curitiba, no Centro de BH, tradicional ponto do comércio de eletroeletrônicos, para conseguir o aparelho com o dinheiro disponível.

"Quero pagar à vista, mas tem que caber no bolso", afirma Meire. Dividir? Nem pensar. Com as taxas de juros nas alturas, a TV de R$ 1.400 parcelada em 12 vezes sairia por R$ 2 mil. Os encargos nas compras a prazo em BH variam de 0,90% ao mês no financiamento imobiliário a 14,95% no cartão de crédito rotativo, de acordo com pesquisa realizada em outubro pela Fundação Ipead, vinculada à UFMG.


Ceia mais barata


Publicação:08/11/2015 04:00


Frutas, carne de porco e frango oferecidos a preços mais baixos na comparação com o fim do ano passado intrigam, em meio às pressões que o grupo dos alimentos tem exercido sobre a inflação. Os preços de abacaxi e laranja-pera caíram 2,48% e 7,95%, respectivamente, no acumulado do ano até o mês passado. Para Ricardo Martins, chefe do setor de Informações do entreposto de Contagem da CeasaMinas, o movimento reflete a chegada da safra. "O período de janeiro a maio costuma ser o mais difícil em termos de oferta, mas, a partir de junho, alguns produtos entram na safra e a situação fica mais favorável ao consumidor", afirma.

Martins diz que o último trimestre do ano tende a ser o melhor para a oferta de abacaxi. Da mesma forma, a produção de mamão e banana-prata, outros dois itens com queda de preços no IPCA, tem bom desempenho a partir de agosto. A abóbora, por exemplo, se destaca, agora, entre os tubérculos e legumes, com queda de preços de 7,73%, devido, pelo menos em tese, à oferta maior.

Entre as carnes, com tantos aumentos dos preços dos cortes de boi, a de porco foi oferecida com redução de preços no acumulado de 2015 de 1,29%, em média. A retração ocorreu num período de queda das exportações da carne de porco, o que levou a aumento da oferta no Brasil, também combinada à elevação do consumo, conta José Arnaldo Cardoso Penna, vice-presidente da Associação de Suinocultores de Minas Gerais (Asemg).

Os produtores estavam trabalhando até o fim de agosto com remuneração paga pelos frigoríficos de R$ 4,60 por quilo do animal vivo. Nos últimos meses, o valor desceu a R$ 4,20. "Se ainda for possível trabalhar, por que não? Na medida em que o consumidor passa a comprar mais a carne suína, isso nos dá estímulo. Teremos um motivo a mais para permanecer na atividade", afirma Arnaldo Cardoso. As vendas externas caíram depois do acirramento dos conflitos políticos entre a Rússia, grande importador da carne suína brasileira, e a Ucrânia. Minas detém a quarta posição no ranking nacional da produção de suínos e é, ainda, o centro do melhoramento genético no Brasil, com 260 mil matrizes.

Até onde os preços em queda deverão chegar, ninguém se arrisca a dizer, portanto, cabe ao consumidor ficar de olhos bem atentos. Há quem, inclusive, duvide das quedas anunciadas de preços. Conhecedora do mercado de eletrônicos, a técnica em enfermagem Cíntia Alves aproveitou os descontos para comprar a quarta TV LED para a casa em que vive. No mês passado, ela pesquisou em sites e lojas de rua até conseguir o melhor preço. "Aqui saiu mais em conta que no site. Consegui um bom preço e já veio com o conversor digital", contava ela na semana passada, enquanto fechava o negócio em uma rede de eletroeletrônicos do Centro de BH.

PARA ONDE VÃO O analista do IBGE Antonio Braz de Oliveira e Silva destaca que a concorrência acirrada pode ajudar a explicar recuos de preços de itens como a atividade física, diante da proliferação de academias de ginástica. Há casos, ainda, de produtos que podem estar associados ao desuso, como telefones fixo e público, possível razão de preços em baixa. A perspectiva para a inflação, em geral, é de queda no ano que vem, mas, por enquanto, cerca de 90% dos índices que compõem o IPCA mostram elevação de preços. Para Ana Paula Bastos, da -BH, as indecisões na economia e a crise política geram desconfiança sobre os rumos dos indicadores o próximo ano. José Arnaldo Cardoso, da Asemg, diz que, se depender do mercado de carne de porco, não haverá altas significativas de preços nos próximos meses. (MV)



Palavras Chave Encontradas: Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL
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