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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 10-10-2015 - 10:47 -   Notícia original Link para notícia
Crise leva quase 40% dos brasileiros adultos a ter nome no SPC

Com inadimplência alta, comércio espera o pior Natal dos últimos 12 anos


- BRASÍLIA E RIO- Com a crise afetando o bolso, está mais difícil para o brasileiro pagar suas contas em dia. Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) mostram que, em setembro, 38,9% da população adulta do país (entre 18 e 94 anos) estava com o nome no cadastro de devedores. São 57 milhões de pessoas. Nos primeiros meses do ano, a lista de maus pagadores aumentou em 2,4 milhões de consumidores.


FOTOS DE AILTON DE FREITASContas básicas. Juraci Fernandes deve água e luz


Os nomes vão para o cadastro negativo do SPC após 30 dias do vencimento da dívida. É um critério diferente do utilizado pelo Banco Central, que considera inadimplente quem tem dívidas com mais de 90 dias de atraso. Segundo o SPC, em setembro, o total de pessoas com contas atrasadas aumentou 5,45% em relação ao mesmo mês de 2014. Em agosto, esse número já havia crescido 4,86%.


Os dados preocupam comerciantes e analistas, que esperam para 2015 o pior Natal dos últimos 12 anos. As estimativas de queda nas vendas em relação ao ano passado variam de 2,5% a 10%. Para Rodrigo Baggi, da Tendências Consultoria, em setores como móveis e eletrodomésticos, mais dependentes da confiança do consumidor e do crédito, a perda pode chegar a 17%.


- A inadimplência gera aumento de risco ao sistema financeiro. Então, os bancos reduzem a oferta de crédito, são mais seletivos e aumentam os juros, inibindo as compras. É um ciclo que se retroalimenta - explica Baggi.


A estudante Mariana Aló, de 23 anos, sabe bem disso. Vinculada ao programa de financiamento estudantil do governo, o Fies, ela não conseguiu pagar sua parte da mensalidade de R$ 1,6 mil. A situação gerou uma reação em cadeia. Atrasou o pagamento do cartão de crédito e a parcela do próprio Fies (paga a cada trimestre, referente aos juros do financiamento) e suspendeu a faculdade, um semestre antes da formatura.


- A mensalidade é muito cara. Apesar de o Fies pagar metade do valor, ficou pesado para mim. Quando atrasei a primeira parcela do Fies, eles já me inscreveram de forma imediata no SPC. Minha mãe e meu avô sempre me ajudaram mas, dessa vez, todo mundo foi pego pela crise - diz.


Na avaliação do economistachefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, o desemprego vai agravar o quadro.


- A inadimplência está crescendo mais do que o esperado porque o desemprego está aumentando além do que imaginávamos. No começo de 2016, os números da inadimplência devem chegar ao fundo do poço, porque no fim do ano, por mais que as pessoas estejam endividadas, sempre compram algo. E, quando o ano novo chegar com pagamento de escola, IPTU e IPVA, a inadimplência deve subir - avalia.


ATÉ NAS CONTAS DE ÁGUA E LUZ


Para Nuno Manoel Dias Fouto, um dos diretores do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar), a dificuldade de acesso ao crédito é o principal limitador das vendas.


- Com o consumidor sem uma sobra para poder comprar, por estar com a renda comprometida, o crédito poderia ser um escape, mas não é - diz.


A maior parte das dívidas dos brasileiros, 48,17%, é com os bancos. Esse tipo de débito aumentou 10,32% no mês passado. Mas foram os calotes nas contas de água e luz que tiveram maior crescimento: 12,55% em relação a setembro de 2014. Do volume total, porém, representam apenas 7%.


A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, explica que o atraso nesse tipo de conta pode ser um sinal de alerta.


- O atraso nas contas de água e luz é preocupante porque significa que o consumidor não está dando conta de pagar a maior parte das suas dívidas, mas preocupa menos do ponto de vista de espalhar um risco de crédito (uma vez que representa parte pequena do total de dívidas) - avalia.


Juraci Fernandes, de 65 anos, está no grupo que não tem conseguido pagar nem as contas básicas. Com os três meses de greve do INSS, ele não conseguiu se aposentar e tem sobrevivido da venda de picolés:


- Nem água, nem luz. Não estou pagando nada! Já cheguei num ponto que estou morando de favor, por conta das dívidas.


Entre consumidores mais velhos, como Juraci, as contas atrasadas também cresceram muito. Na faixa entre 65 e 84 anos, a alta foi de 10,92% na comparação com setembro de 2014.


As distribuidoras de água e luz do Rio não confirmam aumento da inadimplência. A Cedae não quis divulgar números sobre atraso nas contas, e a Light informou que os índices não foram alterados em relação a 2014.


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