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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 03-10-2015 - 11:29 -   Notícia original Link para notícia
Crise acelera venda de usados

Procura por carros zero caiu 22% este ano, enquanto demanda por seminovos cresceu 4,1%



Com juros mais altos, crédito restrito e sem perspectivas de que a economia volte a crescer no curto prazo, o consumidor está optando pelos "seminovos" na hora de trocar de carro. As vendas de automóveis novos despencaram 31,82% em setembro, em relação ao mesmo mês de 2014. É o pior desempenho para um mês de setembro desde 1998. No ano, a retração chega a 21,73%. Na contramão, o mercado de usados cresceu 4,1% este ano e deve terminar 2015 com expansão de 4,5%, diz a Fenauto, associação que representa o setor. Já Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) prevê queda de 23% nas vendas de zero quilômetro este ano.



- No segmento de automóveis com tempo de uso entre um e três anos, o crescimento das vendas é de 39%. O setor de seminovos não pode reclamar - diz Ilídio dos Santos, presidente da Fenauto.



Em setembro deste ano, foram vendidos 192.610 automóveis e veículos comerciais leves zero quilômetro. Já no mercado de usados, as vendas em agosto, dado mais recente, chegaram a 1,16 milhão de unidades. Nos oito primeiros meses de 2015, as vendas de usados somam 8,8 milhões de veículos, frente ao 1,8 milhão de automóveis novos comercializados entre janeiro e setembro.



- Este é o ano dos seminovos, e 2016 também será - afirma Raphael Galante, consultor da Oikonomia, especializada no segmento automobilístico.



DISPUTA DE PREÇOS



Ele prevê que a venda de veículos na faixa de um a três anos de uso pode aumentar de 10% a 12% em 2016, mesmo após o salto deste ano. Isso porque, diz, mesmo com a economia ruim, os compradores estão no mercado. E, para driblar os preços altos do carro zero, procuram um carro mais novo, só que usado. Foi o que fez o auxiliar de enfermagem Renato Sampaio, que estava fechando uma compra ontem, numa loja do Rio.



- Eu não teria condições financeiras de comprar um carro zero. Por causa do valor das prestações, optei por seminovo.



Segundo Galante, os carros novos subiram entre 5%e 7% este ano, apesar das vendas em queda. Já a Fenauto diz que o preço dos seminovos ficou praticamente estável. Como não existem dois carros usados iguais, mesmo da mesma marca e modelo, especialistas dizem que as tabelas de preços existentes no mercado são apenas referência. A variável é a conservação.



Santos, da Fenauto, lembra que, entre as vantagens de comprar um carro com um ou dois anos de uso, há a garantia de pelo menos seis meses da loja, além da garantia da fábrica, já que muitas estenderam esse prazo para cinco ou até seis anos.



Ainda segundo a Fenauto, hoje, apenas 35% dos carros usados são financiados. Outros 5% saem através dos consórcios, e o restante é pago à vista, com o veículo antigo do consumidor entrando como parte do pagamento. O prazo médio de financiamento fica em 40 meses, e os juros mensais variam entre 1,8% e 2%. Para os carros novos, segundo a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), as taxas estão em 1,8%.



Em São Paulo, muitas concessionárias que antes só tinham carros novos nas vitrines estão fazendo um mix com os usados.



- Os estoques de carros novos não estão girando. O que vende é o seminovo e, por isso, há uma exposição maior nas concessionárias. Até porque a margem dos usados está maior do que nos carros zero, que, para terem saída, precisam ter descontos elevados - diz Galante.



As concessionárias do Rio confirmam recuo na venda de carros novos. Na Azurra, revendedora Fiat, a demanda por veículos zero já chegou a recuar 20% este ano.



- Hoje, estão 10% abaixo do ano passado. Estamos fazendo um forte trabalho de promoção, sendo mais flexíveis nas negociações - conta Ruy Pondé, diretor comercial da Azurra.



OFICINA MAIS CHEIA



Com menos pessoas comprando um carro novo, continua ele, caiu a disponibilidade de veículos usados no mercado, o que pode pesar na percepção de aumento da demanda nesse segmento.



Cláudio Vieira, gerente do grupo Viamar, da Chevrolet, vê mudança real.



- O mercado está mais favorável ao carro usado - diz.



Na Caer, concessionária da Ford, as vendas de usados saltaram 20% de janeiro a setembro, ante igual período de 2014. E houve alta de 6,5% na saída de novos. Hermon Fontoura, gerente comercial do grupo, explica que há maior demanda por carros mais econômicos e, em paralelo, queda na procura pelos modelos top.





- Ajustamos nossos estoques, apostando nos carros de maior vendagem, que custam até R$ 55 mil. A oficina está mais cheia, sinal de que o cliente está prolongando o uso do carro.


Fabricação de veículos despenca e leva indústria a encolher 9%


"O setor de bens de consumo está sendo afetado pelo alto nível de endividamento e pelo fantasma do desemprego" Fabio Silveira Diretor da GO Associados


A recessão na indústria se aprofundou em agosto, disseminando taxas negativas entre 23 dos 26 ramos de atividades pesquisados pelo IBGE. A produção encolheu 9% na comparação com igual mês do ano passado, o pior resultado para agosto em 12 anos e a 18 ª queda seguida, o que significa um ano e meio de retração. De todos os setores analisados na Pesquisa Industrial Mensal (PIM) o setor automotivo foi o que mais contribuiu para os resultados negativos da indústria. A fabricação de veículos, reboques e carrocerias caiu 9,4% em agosto, 21% nos primeiros oito meses de 2015 e 26,2% nos últimos doze meses.



- O setor automotivo cresceu bastante até dois anos atrás, mas carro não é um bem que se compra todos os dias. Com os juros de financiamento mais caros, queda na renda e desemprego, se posterga a decisão de compra. Em razão da demanda insuficiente, a indústria automobilística está com os estoques além do desejado - analisa o economista Flávio Castelo Branco, gerente executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI).


EFEITO EM TODA A CADEIA


Como a cadeia automotiva é longa, o impacto de oscilações do setor sobre a economia é ainda mais relevante, explicam os analistas da LCA Consultores, em relatório sobre os índices divulgados ontem.


Já na avaliação do pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ( IPEA) Leonardo Carvalho preocupa o fato de atividades de todas as categorias de consumo terem apresentado resultados negativos em agosto. Na comparação com o mesmo mês de 2014, apenas a indústria extrativa, de celulose e produtos de papel, e o setor de bebidas tiveram alta na produção, de 2,9%, 1% e 0,6%, respectivamente. De acordo com o gerente da PIM, André Luiz Macedo, a indústria está produzindo 15% menos do que em junho de 2003, o ponto mais alto da produção, e o mesmo que em maio de 2009, quando o país estava em recessão causada pela crise financeira global.


- É claro que o impacto de resultado do setor automotivo é muito maior por causa da sua representatividade na indústria. Mas, com exceção desses três setores, as taxas negativas se disseminaram. Não é um quadro recente, pois desde 2010 a indústria estava estagnada, mas ele se agravou muito a partir do ano passado - ressalta Carvalho.


BENS DE CAPITAL CAEM 33%


Entre as grandes categorias econômicas, quatro tiveram queda de produção em todas as comparações. A única exceção foi bens intermediários ( matérias-primas), que cresceu 0,2% em relação a julho. A retração mais acentuada foi em de bens de capital, que são as máquinas e equipamentos usados nas fábricas. O setor recuou 33,2% em um ano - a 18 ª taxa negativa consecutiva e a maior da série histórica, iniciada em 2003.


De acordo com o IBGE, o segmento foi influenciado pelo recuo na produção em todos os seus grupamentos, com destaque para a redução de 39,1% de bens de capital para equipamentos de transporte, ou seja, de novo, a influência da indústria automobilística. Nesse mesmo período, o segmento de bens de consumo duráveis recuou 14,6% - também a 18ª queda seguida - influenciado pelo desempenho ruim de automóveis e de eletrodomésticos.


Segundo o gerente da PIM, as duas quedas são reflexo do cenário econômico incerto, que leva empresários e consumidores a adiarem decisões de investimento e consumo.


- O setor de bens de capitais está encolhendo a olhos vistos e não há expectativa de recuperação em curto prazo, já que o nível de ociosidade da indústria é grande. Já o setor de bens de consumo está sendo afetado pelo alto nível de endividamento e pelo fantasma do desemprego - explica Fabio Silveira, diretor de Pesquisas Econômicas da GO Associados.


De acordo com o último boletim Focus do Banco Central, divulgado na segunda-feira, a previsão é de que a produção industrial encerre o ano com queda de 6,65%.


Procurada para comentar os resultados da PIM, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não tinha porta-voz disponível.


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