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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 27-09-2015 - 12:37 -   Notícia original Link para notícia
Endividados enfrentam fila até para tentar sair do vermelho

Defensoria do Rio dobrou atendimento. No Procon-SP, espera é de dois meses


Até junho, a espera para o consumidor endividado agendar uma reunião de conciliação com seus credores, com a mediação do Procon-SP, era de uma semana. Agora chega, em média, a dois meses. No Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública do Rio ( Nudecon), o mesmo serviço que era marcado também em menos de um mês, até o primeiro trimestre deste ano, chegou a demorar um mês e meio. Foi preciso dobrar o número de atendimentos, para regularizar a marcação da agenda de auxílio aos cidadãos fluminenses que estão no vermelho, mas querem achar uma solução para sair dessa situação de inadimplência e, muitas vezes, até de superendividamento.


CUSTÓDIO COIMBRA Desemprego. As dívidas de Tatiany se agravaram após a perda do emprego: na Defensoria obteve apoio para negociar débitos


- A demanda quintuplicou com o aumento da recessão. Os devedores querem resolver suas dívidas e adequar às despesas a sua renda- explica o coordenador do Núcleo de Apoio ao Superendividado do Procon-SP, Diógenes Donizete.


Segundo Patrícia Cardoso Tavares, coordenadora do Nudecon no Rio, a procura pelo serviço vem aumentando, nos últimos cinco anos, devido a grande bancarização da classe De a ampla concessão de crédito. A crise econômica - o mês de agosto registrou um aumento de 52,1% no número de desempregados nas seis maiores regiões metropolitanas do Brasil (Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre) - só agravou a situação.


-E a responsabilidade por esta situação também é do fornecedor, que oferece crédito de maneira criminosa. Tem banco que a primeira tela já informa sobre o valor pré-aprovado para empréstimo. Há uma década, pegar empréstimo era uma operação complicada, agora basta um clique. A nossa população não estava preparada para isso. Tem gente que só entende o contrato quando chega aqui e nós explicamos, quando tem um contrato - diz Patrícia, acrescentando que a procura por cursos e palestra sobre educação financeira aumentou 50%.


EMPRESAS ESTÃO DISPOSTAS A NEGOCIAR


Para diminuir o tempo de espera das mediações, o Procon-SP disponibiliza, desde a semana passada, um link no site, "Apoio ao Superendividado", onde o devedor pode preencher um formulário com dados da vida financeira. Em até 30 dias, é chamado para curso de planejamento financeiro e para a negociação.


Moradora de Vicente de Carvalho, a professora Tatiany Portal de Carvalho viu suas contas acumularem - e, consequentemente, as dívidas viraram uma bola de neve - ao perder o emprego numa escola particular, no fim de 2014. Sem conseguir um novo trabalho fixo, os débitos com cartões de crédito somaram-se e as contas de serviços, como água, luz e telefone, passaram a ser pagos mês sim, mês não:


- Íamos empurrando com a barriga. Mas precisei me reinventar para honrar meus compromissos. Fui trabalhar como autônoma, com vendas. Como não tenho salário fixo, foi mais difícil negociar as dívidas diretamente com os bancos e as empresas. A solução foi buscar ajuda na Defensoria Pública do Rio.


Tatiany já quitou suas dívidas com o Banco do Brasil e começa a pagar em outubro a primeira parcela para o Itaú.


- O maior problema são os juros - queixa-se a professora, que tem esperança de firmar acordo com Santander, Caixa e Carrefour, enxergando mais disposição para negociações.


Segundo a Serasa Experian, que atende a seis milhões de consulta por dia, entre lojistas e consumidores, de janeiro a setembro, 11,3 milhões de pessoas buscaram renegociar suas pendências por meio do serviço "Limpa Nome Online". O Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor registrou um crescimento de 16,9% no acumulado do ano até agosto, comparado ao mesmo período do ano passado.


- Se já observávamos que o consumidor estava buscando mais a negociação, esta semana, em uma reunião com credores, estes admitiram que é difícil atender as expectativas de acordo dos inadimplentes, mas sinalizaram que pretendem flexibilizar as condições para receberem - conta Raphael Salmi, gerente de Recuperação de Crédito da Serasa Experian.


Especialista em investimentos do Banco Ourinvest, Mauro Calil tem a mesma percepção:


- Não é interessante para ninguém um embate jurídico. O consumidor, ao se deparar com contas apertadas, pode e deve procurar os credores para negociar.


Mas, ressalta o economista, para facilitar o caminho, é bom fazer o dever de casa: verificar tudo o que deve e sua capacidade real de pagamento; fazer uma lista com o nome do credor, saldo da dívida, número de parcelas e juros; e, só então, partir para a negociação. E o principal: honre o que ficou acertado com os credores para não se enrolar ainda mais.


O entregador de pizza, Rubens Marcos da Silva, de 36 anos, era um entre as dezenas de consumidores na fila do Sistema de Proteção ao Crédito (SPC), em São Paulo, que tentavam tirar o nome do cadastro de mau pagador. Com um salário R$ 1,1 mil por mês, quase metade comprometida com aluguel, ele espera conseguir negociar o pagamento da dívida de R$ 270.


- Tenho quatro filhas e perdi a moto que trabalhava no fim do ano passado. Por isso, não consegui pagar essa dívida. Preciso regularizar a situação. Tira o sono - disse Silva


ESPECIALISTAS: AJUDA É FUNDAMENTAL


A principal causa do endividamento, segundo o Procon-SP, é o credito fácil nos cartões e contas correntes. Mas, segundo Donizete, coordenador do Programa de Apoio ao Superendividado do órgão, as instituições financeiras e as administradoras têm, em sua maioria, se comprometido com a negociação das dívidas:


- Há um acordo entre o Procon e os bancos em oferecer prazos maiores e juros menores nas negociações realizadas pelo serviço de apoio ao superendividado. Temos tido sucesso.


Patrícia, do Nudecon, alerta os endividados a terem muito cuidado ao renegociar seus débitos:


- Costumo dizer que o superendividado é um bom pagador. Normalmente, ele começa a se enrolar com as dívidas pegando um empréstimo para pagar outro e isso é ciclo vicioso. Não é incomum que cheguem a defensoria com renegociações feitas que são desfavoráveis. Por isso, recomendamos sempre que busquem orientação.



Geralmente, o Procon-SP aconselha reservar 30% da renda para o pagamento de dívidas. Patrícia lembra que como a crise pode se agravar, mesmo quem não tem dívidas ainda deve ser cauteloso com gastos para evitar problemas futuros.      


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