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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 25-09-2015 - 09:48 -   Notícia original Link para notícia
Câmbio é um termômetro do desconforto com o país

Para ex- presidente do BC, não há ação deliberada contra a moeda, mas um haraquiri causado por políticas internas equivocadas



"Polícia é sempre capaz de controlar multidão. O crucial é saber por que ela está nervosa"



O que o BC pode fazer para controlar o dólar?



A situação atual é sui generis, já que não se trata propriamente de um ataque especulativo para forçar o BC a fazer isso ou aquilo, mas, sim, um mal- estar generalizado ao ver o câmbio funcionando como um termômetro da sensação de desconforto das pessoas com o país. Quem opera câmbio sabe fazer conta, as coisas ficaram ruins. É uma pedra rolando a ribanceira, e a situação só vai mudar se houver mudança na ribanceira.



O dólar caiu forte após as declarações do presidente do BC. O que mudou?



Nada mudou no líquido, tudo é espuma. Estamos em uma situação em que qualquer fala, ainda que não tenha muito conteúdo, tem impacto. Mas ele é passageiro, uma vez que as fragilidades continuam do mesmo tamanho.



Então o Brasil não sofre um ataque especulativo, como muitos falam?



Não há um ataque contra a moeda, até porque o BC tem instrumentos poderosos que permitem controlar o câmbio. Mas polícia é mesmo sempre capaz de controlar a multidão. Mas o crucial é saber por que a multidão está tão nervosa. E a multidão não é só o mercado financeiro e, sim, todo mundo. Basta olhar os níveis de aprovação do governo.



Mas o que o senhor faria se estivesse no comando do BC hoje?



Não sei responder, porque é preciso ter um panorama da cadeia de comando para saber. Mas uma diferença crucial em relação ao que eu vivi foi que passei, mais de uma vez, por situação de ataque especulativo. Ou seja, evento cambial em que existe motivação associada à política cambial e a uma crise externa. O que ocorre hoje é um haraquiri, um derretimento da moeda devido a políticas equivocadas dentro de casa. E o BC não tem instrumento para tratar disso. São problemas ligados às políticas fiscal e partidária e, portanto, o BC só poderá fazer uma atuação tópica. Mas a pedra vai continuar rolando a ribanceira. Em tempos de Rock in Rio, me ocorre o "Like a Rolling Stone", de Bob Dylan...



O sr. acha que o BC deve vender reservas?



Ele pode até vender reserva, mas o fluxo cambial não está negativo a ponto de precisar disso. Não se trata de um movimento cambial e, sim, de uma crise de confiança. As empresas não precisam de dólar, precisam da proteção do swap, que não compromete reserva. Essa é uma atuação relevante e importante.



Nos anos 90, os juros foram importante para manter o câmbio. O BC deveria elevar as taxas?



Não vejo razão para isso. A dosagem já é apropriada. Mas não se sabe o efeito que essa desvalorização cambial vai adicionar à inflação. Essa deve ser uma preocupação do BC, mas é apenas uma delas.      


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