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Isto é Dinheiro online ( Negócios ) - SP - Brasil - 19-09-2015 - 13:00 -   Notícia original Link para notícia
O novo alvo de Lemann

Depois de criar a maior cervejeira do mundo, o bilionário brasileiro quer ampliar o seu domínio com a compra da SABMiller. O caminho para isso, no entanto, não será tranquilo


Por: André Jankavski


Loiras geladas: unidas, as cervejarias controlarão marcas como Budweiser e Miller Lite ( foto: Joe Raedle/Getty Images/AFP)


Em março, a empresa brasileira de private equity 3G Capital, que tem entre os seus sócios o empresário Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, movimentou o setor alimentício mundial com a fusão entre as americanas Kraft e Heinz. O negócio resultou na criação da quinta maior empresa de alimentos do planeta. Meio ano depois, as atenções de Lemann retornam para o setor cervejeiro, no qual ele deu início à formação do seu império de bebidas, com a criação da Ambev, em 2000, resultado da união entre Antarctica e Brahma.


Na quarta-feira 16, a AB InBev, controladora da Ambev, informou à rival britânica SABMiller, vice-líder mundial do setor, que iria fazer uma proposta para uma união de suas operações. Caso o negócio se concretize, a nova companhia será responsável pela venda de três a cada dez cervejas bebidas diariamente no planeta. Seu valor de mercado chegará a US$ 245,2 bilhões, ultrapassando Procter & Gamble e Nestlé. Para completar, a concorrente que estaria mais próxima seria a Heineken, que possui 9% do mercado mundial, menos de um terço da gigante.


No papel, faz todo o sentido. Na prática, Lemann e seus sócios terão trabalho para fazer o negócio acontecer. A começar pelo convencimento dos principais acionistas da SABMiller. O grupo Altria, que também é controlador da Philip Morris, possui 26,6% da empresa. Já a família colombiana Santo Domingo é dona de 13,9% da SABMiller desde 2005, quando vendeu a cervejaria Bavaria para a empresa britânica. "A AB InBev precisará ser hábil para convencer essas duas partes", afirma o consultor americano Brian Sudano, da Beverage Marketing Corporation (BMC), especializada no setor.


Além disso, segundo a BMC, o negócio pode representar um respiro nos resultados da companhia belgo-brasileira. No primeiro semestre de 2015, pressionada por turbulências macroeconômicas no Brasil e na China, além de observar uma queda no consumo de seus produtos nos Estados Unidos, como a icônica Budweiser sendo ultrapassada pelas cervejas artesanais, a AB InBev viu seu ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cair 7,6%. A junção com a SABMiller daria a oportunidade da 3G Capital aplicar seu modelo de gestão e melhorar a rentabilidade da cervejeira incorporada, o que compensaria os resultados insatisfatórios da AB Inbev.


A negociação também coloca o atual CEO da SABMiller, Alan Clark, sob pressão. O executivo assumiu o cargo há dois anos. Desde então, as ações da cervejaria caíram 14%. Para o banco Barclays, caso a venda se concretize, Clark perderá o emprego. O segundo desafio de Lemann e companhia será persuadir os órgãos antitruste de diversos países a aprovar o negócio. Sozinha, a AB InBev domina cerca de 45% do mercado americano e detém 14% de participação no chinês. A SABMiller, que atua na China através de uma joint venture com a americana Molson Coors, é a primeira colocada no gigante asiático, um market share de 23% e é vice-líder nos EUA com 25%.


Ou seja, ambas seriam ainda mais dominantes nos dois países, algo que especialistas do setor duvidam que vá ser aceito facilmente pelos reguladores. Em alguns mercados da América Latina, a nova empresa se transformaria num verdadeiro monopólio. No Peru e na Colômbia, por exemplo, sua participação chegaria a inacreditáveis 99%. "Não vejo outro cenário além da SABMiller vendendo parte de suas operações e até mesmo saindo da joint-venture na China", afirma Sudano. A companhia belgo-brasileira já passou por problemas parecidos quando adquiriu a mexicana Modelo, em 2013.


Na época, o Departamento de Justiça dos EUA iniciou um processo para melar a compra. A AB InBev precisou abrir mão da cervejaria Piedras Negras e dos direitos de distribuição da Corona, nos Estados Unidos, para a Constellation Brands, a maior produtora de vinhos do mundo. O valor do negócio foi de US$ 2,9 bilhões. "Há espaço para uma empresa desse porte", afirma Pedro Galdi, analista da consultoria Whatscall. "Mas os concorrentes irão reclamar." No Brasil, a princípio, nada muda.


A SABMiller, apesar de ter um acordo de produção e distribuição com o Grupo Petrópolis, dono das cervejas Itaipava e Crystal, ainda não possui operação relevante no País. A Ambev comunicou aos seus acionistas que não está participando da negociação iniciada pela matriz. Em relatório, o analista Thiago Duarte, do banco BTG Pactual, diz não fazer sentido a afirmação da empresa, pois a SABMiller atua fortemente na América Latina, onde a Ambev, e não a AB InBev, opera. No entanto, um eventual fracasso da fusão pode ser uma boa notícia para a Ambev, pois as margens de lucro da SABMiller são inferiores.


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