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Estadão ( Geral ) - SP - Brasil - 17-09-2015 - 09:17 -   Notícia original Link para notícia
Em crise, indústria prevê fechamento de mais de 610 mil vagas neste ano

Em seis grandes setores, número de demissões vai mais que triplicar em relação ao ano passado, que já foi considerado ruim; para presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, o governo continua sem atacar os 'problemas reais'









BRASÍLIA - Em meio a uma crise classificada como uma das piores da história, seis grandes setores da indústria nacional preveem que mais de 610 mil vagas de emprego serão fechadas neste ano. O número é puxado pelos trabalhadores da construção civil, segmento que deve eliminar 500 mil postos de trabalho. No ano passado, esses seis setores - construção, máquinas, siderurgia, automóveis, química e eletroeletrônicos - demitiram 200 mil pessoas. 





O setor de máquinas, que depende fundamentalmente das obras da construção civil, já acusou o golpe. Mais de 25 mil vagas foram fechadas no 1.º semestre e outros 25 mil cortes estão a caminho até dezembro, carimbando 2015 como o pior ano na história para as empresas do segmento. 





Sem obras ou máquinas, não há o que fazer na siderurgia, que já adiou US$ 2,1 bilhões em investimentos neste ano e desativou 20 unidades produtivas País afora. O resultado foi a demissão de 11,2 mil funcionários, 10% de toda a força de trabalho do setor. Outros 4 mil postos de emprego devem ser fechados até o fim do ano.

















Indústria brasileira enfrenta forte crise em 2015









Com a paralisação da indústria e as demissões em massa, cresce a pressão sobre as vendas minguadas das montadoras, que já cortaram mais de 11 mil empregos até agosto e, para evitar novos cortes em massa, têm hoje 27 mil funcionários em férias coletivas ou em suspensão temporária do contrato, o chamado "lay off". 





O consumidor, que tem adiado a troca do carro, também decidiu postergar a compra de bens mais acessíveis, como telefone celular e computador, que viram suas vendas caírem 17% e 20%, respectivamente, no 1.º semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2014.





A indústria de eletrônicos reagiu imediatamente. As demissões, que em 2014 atingiram 15 mil trabalhadores, reduzindo de 310 mil para 295 mil o número de empregados no setor, aceleraram o processo de deterioração neste ano.





A cada mês, 3 mil pessoas que trabalham para a indústria eletroeletrônica perdem o emprego. Em 2015, serão mais de 30 mil demitidos. 





Problemas. "Começamos o ano com 3 milhões de empregados e fecharemos com 2,5 milhões. É realmente inacreditável o que estamos vivendo hoje, e o governo continua sem atacar os problemas reais, que são os gastos públicos", diz disse José Carlos Martins, presidente Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).





Luiz Moan, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), diz que, em termos de número de trabalhadores, as montadoras recuaram para 2010, com 134 mil funcionários. "Quanto à produção, retornamos ao nível de 2006. Hoje, nosso empenho está em buscar alternativas para evitar mais demissões."





Até mesmo setores menos expostos às oscilações do varejo, como a indústria química, têm sentido o peso da paralisação da economia. O segmento conseguiu fechar 2014 com os mesmos 400 mil funcionários com os quais começou, mas neste ano as coisas se complicaram. Entre janeiro e julho, cerca de 6 mil pessoas já foram demitidas. 





Os estragos na indústria e, consequentemente, no mercado de trabalho, estão refletidos nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Nos últimos 12 meses, a crise na economia já acabou com mais de 850 mil vagas no País, o pior desempenho da série desde a sua criação, em 1996. As previsões mais atuais indicam que o número poderá superar 1 milhão de cortes neste ano.





Há dez meses Willian Farias procura trabalho em Brasília, batendo na porta de empresas e de agências. "Estou atrás de qualquer coisa, mas está muito difícil. Trabalho desde os 15 anos de idade. Nunca fiquei tanto tempo sem conseguir emprego", diz o rapaz de 26 anos, que já foi vigia, ajudante geral e porteiro. Da "Agência do Trabalhador", ele saiu mais uma vez sem perspectiva de ter a carteira assinada. Ouviu que não tinha vaga para o seu perfil. 


Na década de 1950, foram seus avós que deixaram o Ceará em busca de trabalho no Cerrado. Trabalharam, na época, na construção da futura capital federal. "Hoje, estamos aqui, tentando sobreviver. Eles fazem a crise, e o povo é a vítima disso tudo", diz o pai de Willian, Alberto de Araújo.





Willian Farias (direita) procura emprego há 10 meses



As perspectivas econômicas sinalizam que o jovem pode demorar a arrumar um novo emprego. "Estamos vivendo hoje um círculo vicioso na economia. E o maior problema é que a retomada do emprego vai demorar", diz Renato da Fonseca, gerente de pesquisa e competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Demitir as pessoas custa caro, contratar também, mas como não há perspectivas de mudança no curto prazo, muitas empresas optam por mandar embora parte de seus funcionários."


A avaliação é a mesma do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que nesta semana divulgou relatório sobre a conjuntura do trabalho no País.


"De maneira geral, as perspectivas para o mercado de trabalho são pouco animadoras, dado que o prolongamento da crise atual tende a acentuar a deterioração das condições de emprego e renda. Adicionalmente, há o fato de que o mercado de trabalho reage de forma defasada às variações da atividade econômica", declara o instituto.


Para Carlos Pastoriza, presidente Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as atuais tentativas do ajuste fiscal não apontam luz no fim do túnel. "Hoje estamos numa situação de calamidade. Está acontecendo de empresas não mandarem embora porque não têm dinheiro para pagar", diz Pastoriza. "Essa crise econômica foi fabricada pela crise política. É preciso que o governo agora dê um jeito nisso.


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