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Estado de Minas Online ( Economia ) - MG - Brasil - 06-09-2015 - 11:46 -   Notícia original Link para notícia
A crise estampada na 'TV de cachorro'

Vedete do início do Plano Real, o frango desceu do poleiro da economia. As vendas do tradicional almoço de domingo, comprado assado em padarias e lanchonetes, caíram cerca de 30% em BH


Símbolo do Plano Real em 1994, nem o frango de domingo escapou da crise na economia brasileira, temperada agora com a recessão técnica. Tradicional nos almoços das famílias nos finais de semana, o frango assado perdeu a preferência à mesa para o aperto no orçamento. Em casas especializadas e também padarias da cidade, a venda do alimento caiu em torno de 30% este ano. A baixa demanda somada aos custos cada vez maiores, tem feito comerciantes não reajustar os preços da iguaria. Alguns apostam em promoções e também na entrega em casa para driblar os impactos que a retração na economia trouxe para a "televisão de cachorro".

Com o objetivo de mostrar ao brasileiro o poder do real, a estratégia usada por Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República, para conquistar a confiança dos consumidores diante da nova moeda era a de associar os produtos do dia a dia ao real, nos primeiros anos do plano lançado em 1994. "Foi assim com o frango, por ser tradicional no almoço de domingo. Vínhamos de um período muito longo de elevada inflação, em que as pessoas perderam muito o seu poder de compra. Associando a moeda a um produto do cotidiano brasileiro, FHC quebrou aquilo que chamamos de memória inflacionária. Anunciava que, com R$ 1, comprava-se o frango de domingo e ganhou a confiança do brasileiro", comenta o professor de economia do Ibmec Minas Felipe Leroy.

Durante muitos anos, ele foi, então, sinônimo de descanso da cozinha e de uma boa refeição no fim de semana. Porém, atualmente, as filas nas manhãs de sábado e domingo nas portas das padarias, açougues e casas especializadas estão minguando. "Até o ano passado, vendíamos 140 frangos por fim de semana. Hoje, não chega a 80", comenta o gerente da Padaria Pão de Casa, Wilton dos Reis Meireles. O estabelecimento, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul, vende frango assado há mais de 15 anos e tem como público as classes A e B da capital. O frango entre 1,8 quilo e 2,2 quilos custa ali R$ 28, e o freguês leva batatas e farofa como acompanhamento. "Era o nosso forte nos finais de semana, mas as pessoas estão economizando. O frango assado é visto como uma comodidade que, em tempos de crise, ele acaba saindo da mesa", comenta a também gerente do local Raquel Tavares.

O grande problema, como destacam os dois gerentes, é que a máquina para assar o alimento usada na padaria, a popular televisão de cachorro, comporta até 30 frangos. "Aos sábados de bom movimento, chegava a ter os 30. Agora, ficam 15 rodando. E a energia gasta é a mesma", compara Wilton. E Raquel reforça que a conta de luz da padaria subiu de R$ 7 mil para até R$ 11 mil. "Temos um custo muito alto com todo o estabelecimento e com os reajustes das contas de energia. Com isso, não conseguimos baixar o preço do frango assado, porém, não aumentamos o valor dele desde o ano passado, essa tem sido a nossa estratégia", diz Raquel, acrescentando que a costela no bafo e o pernil pararam de ser vendidos ali. "Havia muito desperdício", justifica.

Embora tenha caído o consumo da carne bovina, que já custa praticamente três vezes mais que a de frango, no caso da ave assada, o economista Felipe Leroy explica: "O produtor agrega valor ao alimento. Tem a máquina para assar, tempero, a limpeza do frango. O consumidor já foi menos sensível ao preço alto desse produto, porque sabia que pagava pela comodidade", comenta.


 



Na Frango do Zói, o proprietário Adriano Araújo diz que crise afeta vendas no fim de semana

IMPACTO A situação também apertou a tradicional casa Frango do Zói, no Bairro Santa Inês, na Região Leste. Segundo conta o proprietário, Adriano José de Lima Araújo, há nove anos ele está no mercado e durante a semana chegava a vender cerca de 100 frangos assados por dia e, hoje, não chega a 30. "Começamos a sentir o impacto da crise em janeiro deste ano. Porém, achávamos que a situação ia melhorar em fevereiro. Mas as vendas estão caindo cerca de 30% e começaram, agora, a afetar o nosso fim de semana, que era quando vendíamos mais", conta.

Ele lembra que às terças-feiras, o dia que era considerado o pior da semana, chegava a vender todos os frangos assados, que custam R$ 24 cada, nas três máquinas do estabelecimento, ou exatos 90 frangos. "Hoje, não chega a 45", diz, revelando apostar na entrega em casa, que tem tido um aumento de 10%. Até mesmo no Centro da cidade, ao preço de R$ 15, o frango assado tem perdido espaço. Segundo conta o gerente do Frigorífico Serradão, Igor Froes, eram vendidos ali, há mais de 20 anos, cerca de 300 a 400 frangos por dia. "Hoje, não passa de 200. Aos fins de semana, então, passamos de 450 para 390", reclama, dizendo que a estratégia do lugar é fazer uma promoção de venda de refrigerante mais o frango a R$ 20.

PREOCUPANTE O economista Felipe Leroy considera a queda nas vendas do frango assado preocupante para o cenário econômico. "Quando cai a demanda de um bem que trazia comodidade é que a coisa começa a ficar mais preocupante. Pois isso quer dizer que o consumidor está reduzindo a sua qualidade de vida e bem-estar. Ele passou, agora, a calcular o valor que pagava por um item desses. Se ele comparar com um quilo do frango congelado, que pode custar R$ 7, ele substitui imediatamente", observa.


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