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Estado de Minas Online ( Feminino e Masculino ) - MG - Brasil - 06-09-2015 - 12:09 -   Notícia original Link para notícia
Instavitrine comércio via celular

Instagram e WhatsApp funcionam como dupla dinâmica para comércio virtual de roupas. Lojistas sugerem regulamentação das lojas que usam celular para um comércio mais justo


Izabella Figueiredo


Publicação: 06/09/2015 04:00




Ana Luiza Tavares com a filha Gabriela Tavares

Foi-se o tempo em que a compra de roupas com ajuda do mouse era a última palavra em praticidade e tecnologia. A fugacidade dos shoppings online acaba de ganhar um parceiro expressivo: as lojas cujas mercadorias são negociadas pelo celular. Mais simples que os e-commerces, esse tipo de comércio utiliza dois aplicativos gratuitos o Instagram e o WhatsApp. Nas lojas que usam o Instagram como vitrine, o processo é simples. Se o internauta se encantar por alguma peça exposta na rede social de fotos da marca e desejar efetuar a compra, a negociação migra para outro aplicativo, o WhatsApp. O número de contato do "lojista" fica disponível e basta adicionar para que a negociação aconteça via troca de mensagens. Isentos de impostos e custos legais, os "lojistas de celular" comemoram os lucros. Por outro lado, de suas lojas físicas, comerciantes legais defendem o atendimento personalizado que oferecem e propõem regulamentação da atividade "para que fique bom para todos".




Após ser proprietário de alguns estabelecimentos - de entregas de comida japonesa a camisarias-, o analista de marketing Marcos Malta decidiu mirar no talento da namorada Marcela para ganhar dinheiro com comércio. A opção do empresário foi produzir as roupas que a garota desenha e expô-las no Instagram. A loja virtual ganhou até nome, "Debut Boutique". No caso, o aplicativo age como uma vitrine virtual na qual as peças são fotografadas e exibidas para um público de quase 36 mil seguidores. Nada mal para quem começou há pouco menos de um ano.



Depois de uma experiência de pouco sucesso com site próprio de compras online, Juliana Noronha aproveitou seus mais de 50 mil seguidores no Instagram para tentar, mais uma vez, emplacar suas calças, batas e biquinis. Com o conceito de "fast fashion", a jornalista hoje canta vitória com a "Ju Noronha Store" que ganhou perfil exclusivo na rede social de fotos e conta com mais de 8 mil seguidores.



Desde que inaugurou sua loja virtual, Marcos publica fotos das peças e mantém um número de contato exclusivo para troca de mensagens com possíveis clientes. "É por meio dessa conversa que podemos tirar dúvidas sobre tamanhos, cores, formas de pagamento, trocas e oferecer outras peças de acordo com o perfil de cada cliente. É possível também atender às mulheres que não podem se deslocar", explica o empresário que afirma atender cerca de 50 consumidoras por dia e fechar negócio com dez delas. "Dentro do Brasil já enviamos mercadorias para praticamente todos os estados", orgulha-se. Juliana, por sua vez, intercala seu tempo posando para fotos com os modelos que comercializa e teclando com compradoras em potencial. "Chego a conversar com trinta clientes por dia e concluo vendas com uma média de cinco delas.", conta.



A escolha de Marcos e Juliana em instalar seus negócios somente online vai além do relacionamento com o cliente. Do ponto de vista econômico, ter uma loja na qual a vitrine é o Instagram e a negociação se dá pelo WhatsApp é muito interessante. Hoje, para se ter uma loja no Brasil é preciso pôr a mão no bolso e ter paciência para enfrentar a burocracia com concessões de abertura e licenças. "É preciso de alvará da prefeitura, do estado e além disso a loja corre o risco de assaltos. Uma das preocupações também é de ter um estoque maior de peças e funcionários", justifica Marcos, que só produz as peças por encomenda, mediante pagamento confirmado. Ter um ponto físico também não é prioridade de Juliana. "No momento estou vendendo bem só pelo WhatsApp", assegura a garota.


 


O outro lado 


 


A comerciante Ana Luiza Tavares se orgulha em contar que começou sua carreira nos anos 1980 vendendo roupas de porta em porta. "Comecei vendendo louças e camisas de seda do Paraguai e depois trazendo terninhos e casacos de Nova York. Levava minha mercadoria até o apartamento das clientes em pesadas malas. Em pouco tempo tinha uma clientela fixa de alto poder aquisitivo que me confiava grandes encomendas", relembra. O tino comercial de Ana somado à vontade de captar novos clientes alertou a empresária de que um ponto físico seria boa aposta. "Aproveitei a fama de que tinha bom gosto, a boa cartela de clientes e arrisquei", conta.



Com a concretização da multimarcas Ana Luiza no bairro Funcionários, vieram os gastos da proprietária. Além das taxas e impostos fixos, ela tem altos custos mensais para manter seu comércio de luxo. São contas, despesas administrativas, salários de funcionários, taxas de condomínio e outras despesas. Não fica barato, mas ela conta com o bom produto e bom atendimento para cativar as clientes e comercializar marcas como Alphorria, Karine Fouvry e Madrepérola. "Esse tipo de serviço as lojas de Instagram não oferecem", alfineta. Ana Luiza chega a efetivar uma venda ou outra para clientes de outro estado via Whatsapp, mas não é muito a favor desse tipo de comércio. "Do jeito que é, acho injusto porque temos custos muito altos para manter uma loja e não merecemos enfrentar uma concorrência desleal dessas, isenta de impostos e burocracias", explica.



Apesar da concorrência virtual, Ana conta com a pompa e exclusividade oferecida em seu espaço físico como diferencial para não perder clientes para as lojas de Instagram. "Sinto que o cliente também gosta de vir aqui para conversar. Por isso vendemos mais que roupa, vendemos experiência. Oferecemos conforto, serviço personalizado e consultoria de moda", defende. Além disso, ela argumenta que somente as imagens divulgadas no Instagram privam o cliente de ter acesso ao tipo de tecido e principalmente ao caimento do produto. Quem endossa o discurso é Rachel Pena, uma das proprietárias da Espaço Deluxe, multimarcas com unidades em Lourdes e Belvedere. "Existem roupas que na foto ficam lindas, mas não se adequam a alguns tipos físicos, por isso é imprescindível experimentar antes de comprar. Por aqui contamos com uma consultoria de estilo que impede que o cliente adquira uma peça que vai ficar encalhada no guarda roupa", defende a empresária que comercializa marcas como Raquel Mattar, Isolda e Última Hora.


 


"Não é tendência, é realidade"


 


Segundo a Associação Brasileira de Indústria Têxtil e Confecção (Abit) ainda não existem dados sobre o comércio desenvolvido entre o combo de aplicativos Instagram-WhatsApp,já que é impossível rastrear o volume desse tipo de transação. "Ainda não existem dados relevantes já que o comércio via WhatsApp é bastante informal", diz Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Abit. Apesar disso, Pimentel atenta que o comércio via aplicativos de celular fica cada vez mais expressivo e começa a chamar atenção. "É um encaminhamento que, sem dúvida, mostra mais que uma tendência. É uma realidade", conclui.Ciente de que a propensão é de que o mercado de roupas via aplicativos só cresça, a sugestão de Ana Luiza, é a regulamentação da atividade o mais rápido possível. "Esse tipo de comércio é interessante e acrescenta quando feito com honestidade, mas acho que os vendedores devem ser legalizados como microempresa para que fique mais justo para todos", opina. Rachel concorda e se inspira nos lojistas hi-tech para implementar novas medidas em sua loja. "Taxar todos os tipos de comerciantes é natural já que ninguém pode trabalhar na informalidade. Penso que a médio prazo posso trabalhar também via Whatsapp, porém da forma mais regular possível", pondera. "Não queremos que esse tipo de comércio deixe de existir, mas é importante que todos cumpram as obrigações junto a lei para que fique bom para todos", complementa Ana Luiza. 


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