Com queda na renda e juros altos, saques superam depósitos em R$ 7,5 bilhões

Recessão e juros altos fizeram a caderneta de poupança ter o pior resultado para meses de agosto desde que o Banco Central (BC) passou a registrar os dados há 20 anos. Os saques na aplicação mais popular do país superaram os depósitos em R$ 7,5 bilhões no mês passado.

Além de ser o pior agosto, é a segunda maior fuga de recursos em qualquer mês. Apenas em março deste ano a saída líquida foi maior: R$ 11,4 bilhões. Em 2015, a poupança ficou no vermelho em todos os meses até agosto.

MIGRAÇÃO PARA FUNDOS

Com a renda mais apertada por causa da inflação, as famílias sacam suas economias. As retiradas são feitas também para honrar as despesas em casos de demissão. E há ainda outro motivo para a saída em massa da aplicação: a alta dos juros.

O Comitê de Política Monetária (Copom) começou a subir a taxa básica de juros da economia desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff, em outubro do ano passado. Isso fez com que os fundos de investimento ficassem cada vez mais atraentes. Desde então, há uma migração de recursos da poupança para esses fundos.

Ao todo, a caderneta de poupança perdeu R$ 48,5 bilhões em 2015. No mesmo período do ano passado, os depósitos superaram os saques em R$ 14,2 bilhões.

Quem deposita recursos na poupança recebe atualmente um rendimento de 6% ao ano, mais TR. Já a inflação deve passar de 9% neste ano. Ou seja, parte da economia das famílias é corroída pela inflação.

- A caderneta de poupança é um investimento ruim, mas as pessoas continuam nele por causa do trauma do passado de perder as economias numa crise. Acham que a poupança é a forma mais segura - comentou o professor do Ibmec César Frade.

MOVIMENTO INVERSO

São, principalmente, pequenos investidores que mantêm as economias na aplicação. Eles não têm acesso às taxas diferenciadas para a aplicação em fundos de renda fixa. Enquanto isso, quem consegue desconto nas taxas corre para os fundos para aproveitar o momento de juros altos.

- É exatamente o inverso do que aconteceu antes: uma migração de recursos para a poupança porque os juros estavam baixos - explicou Frade.

O saldo total da caderneta de poupança reflete essa debandada. Atualmente, os brasileiros guardam R$ 645,1 bilhões na aplicação. No ano passado, esse saldo chegou a R$ 662,7 bilhões.