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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 03-09-2015 - 09:11 -   Notícia original Link para notícia
BC decide manter juros em 14,25%

Em cenário de inflação e dólar altos, analistas atribuem decisão à recessão econômica


- BRASÍLIA E SÃO PAULO- Para não aprofundar ainda mais a recessão econômica, o Banco Central decidiu manter os juros em 14,25% ao ano. O Comitê de Política Monetária ( Copom) interrompeu uma sequência de sete altas, iniciada logo após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, mesmo com as estimativas de inflação acima da meta de 4,5%, tanto para este ano quanto para 2016. Mas, na última sexta- feira, o IBGE informou que a economia encolheu 1,9% no segundo trimestre. Em comunicado, o BC afirmou que o nível de juros é suficiente para fazer com que a taxa alcance a meta no fim de 2016. Indicou com isso que a crise aguda na economia ajudará na tarefa e que os juros básicos devem ser mantidos no atual patamar por um longo período.



"O comitê entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016", afirmou o Copom, no comunicado que confirmou a expectativa de praticamente todo o mercado financeiro.


- A economia já está se contraindo, e a retração é bastante extensa e deve se prolongar de uma forma inédita na historia recente - disse o economista- chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, para quem não seria prudente continuar o aumento dos juros.


Nem a explosão do dólar, que caminha para R$ 4, seria, na visão de analistas, um argumento suficientemente forte para prosseguir com o aperto da política contra a inflação. A alta da moeda americana deixa produtos e insumos importados mais caros, mas o consumo está em queda.


MAIOR JURO REAL ENTRE 40 PAÍSES


Dado o complexo quadro da economia, os analistas do mercado financeiro pararam de cobrar a elevação dos juros para ancorar as expectativas e aceitam que a inflação só volte para a meta em 2017.


Para o economista- chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, o fato de alcançar ou não a meta no fim do ano que vem dependerá de fatores que não estão respondendo à política de juros, como a mudança de bandeira tarifária da conta de luz, aumento da mensalidade escolar e de planos de saúde. No entanto, o fato de estar mais perto da meta, segundo ele, é uma vitória da política monetária, que tenta corrigir os excessos do passado.


- O que estamos vivendo é o resultado dessa farra do consumo. Recessão é que nem ressaca. Se você beber muito, é uma consequência natural do processo. Tem de esperar, porque uma hora passa - explicou Leal.


Para os especialistas, há muito tempo o Brasil não enfrentava uma situação econômica tão delicada. Há quem compare a turbulência com 2002, quando temia- se uma ruptura da política econômica se o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva chegasse ao Palácio do Planalto.


O economista- chefe da corretora Ativa Wealth Management, Arnaldo Curvello, no entanto, considera o momento atual ainda mais drástico, porque, em 2002, os fundamentos da economia não eram tão sólidos:


- Entrei no mercado em 1994. É a primeira vez que eu vejo o mercado à deriva.


Para Curvello, a solução seria uma retomada de confiança para conseguir fazer reformas estruturais e microeconômicas. Mas, devido ao isolamento da presidente, ele não acredita que ocorrerá.


Na semana que vem, o BC divulgará a ata da reunião desta quarta- feira. Todo o mercado financeiro estará de olho na questão fiscal. Querem entender como o anunciado rombo das contas públicas pode ter impacto no controle da inflação. A saúde das contas públicas era outro argumento contrário à alta dos juros. Quando o BC aumenta a Selic, faz com que o país pague juros ainda maiores e precise de uma economia maior de recursos para equilibrar as finanças do país.


Mesmo com a manutenção da Selic, o Brasil continua com a maior taxa de juro real, segundo ranking de 40 países elaborado pelo economista Jason Vieira, da Infinity Asset Management. Descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses, a taxa de juro real no país é de 5,01%. Na segunda colocação, ficou a China, com 3,05%, seguida da Polônia, com 2,11%. Vieira lembra que para o Brasil mudar de posição no ranking, seria necessário um corte de 2,25 pontos percentuais na Selic.


GASTOS SUPERIORES AOS DA GRÉCIA


Para a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, o BC só deve começar a baixar os juros em junho de 2016, com um corte de 0,25 ponto. Ela espera que a Selic encerre o ano que vem a 12%. Thiago Biscuola, economista da RC Consultores, também só vê redução dos juros a partir do primeiro trimestre de 2016, fechando o ano a 13%. Para ele, a alta do dólar restringe a capacidade do BC de reduzir a taxa com mais intensidade:


- Todo mundo vai querer reajustar preços por causa do dólar. A questão é se isso vai ser possível num cenário de demanda desaquecida.


Biscuola observa que manter os juros em patamar tão elevado tem um custo. Segundo ele, a cada um ponto percentual de elevação da Selic, o governo gasta mais R$ 20 bilhões no pagamento de juros, considerando um período de 12 meses:


- Atualmente, já pagamos juros que equivalem a 8% do PIB, o maior patamar desde janeiro de 2004. Até julho de 2015, foram desembolsados R$ 451 bilhões. É um nível muito elevado de pagamento de juros. A Grécia, por exemplo, que está superendividada, paga juros equivalentes a 6% do PIB.


A manutenção da Selic em 14,25% ao ano foi criticada por Abimaq, Firjan, ACSP e Força Sindical, que classificou a decisão do BC de "escândalo".      


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