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Diário do Comércio online - BH (MG) ( Negócios ) - MG - Brasil - 01-09-2015 - 11:05 -   Notícia original Link para notícia
Doiselles concorre a maior premiação feminina

Vender para o mundo inteiro e, ainda assim, desenvolver uma ação local responsável e garantir a sustentabilidade do negócio. Essa é a meta da estilista e diretora da Doiselles, marca de moda em tricô, Raquell Guimarães.

Instalada desde 2008 em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a empresa surgiu da vontade da jovem em empreender logo que deixou a faculdade de moda. Atualmente, tem sua produção nas mãos de presidiários da cidade e de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A inciativa rendeu à empresária a indicação ao Prêmio Cláudia 2015, na categoria Negócios, a maior premiação feminina da América Latina.

"Com 18 anos eu já sentia a necessidade de buscar minha independência. Quando entrei para a faculdade, comecei a trabalhar como comissária de bordo e permaneci na aviação por quatro anos. Depois comecei a trabalhar com figurino, buscando sempre inovação. As pessoas me falavam para abrir minha marca. Foi assim que começou a Doiselles", relembra Raquell Guimarães.

Depois de apresentar sua produção para a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), em 2008, a estilista foi chamada a participar de uma feira em Paris, na qual fechou vários pedidos. Para conseguir a produção necessária contratou mão de obra autônoma, mas como cada uma trabalhava em sua casa, ficava difícil seguir um padrão de acabamento. Foi aí que surgiu a ideia de empregar detentos do presídio local. Recentemente, ao se mudar para Belo Horizonte, Raquell Guimarães transferiu parte da produção para Ribeirão das Neves. Hoje, trabalham 30 detentos na Região Metropolitana e outros cinco na Zona da Mata.

"Todo mundo me desaconselhou a trabalhar com os presos. Até hoje as pessoas se espantam e acham que vai dar problema. Claro que não era uma mão de obra especializada, tive que dar treinamento, mas vale a pena. Mas não podemos simplesmente ignorá-los e achar que eles vãos sair de lá melhores se não tiverem oportunidades. A solução é ensinarmos valores e o trabalho é ferramenta pra isso", explica a empresária.

Cada três dias de trabalho rende ao detento um dia a menos na cadeia e recebem três quartos de um salário-mínimo por mês para usar em liberdade. "Tenho uma relação natural com os presos, extremamente profissional. Dos mais antigos, conheço a família. Me envolvo como um empresário deve se envolver com seus colaboradores", destaca a estilista.

A Doiselles tem showroom em São Paulo, Tóquio, Paris e Nova York. A atual desvalorização do real, se por um lado ajuda a marca a exportar, de outro encarece a matéria-prima. Em 2014, aos primeiros sinais de problemas na economia nacional, a empresária se colocou em alerta e buscou soluções sustentáveis. Com criatividade criou a primeira coleção feita somente com resíduo têxtil.

"A crise tem que ser vista como desafio e não como uma derrota. Seja no recursos humanos, na comercial, na criação ou em qualquer outro setor é preciso ser criativo. A coleção foi feita com sobras das oito anteriores. Foi uma forma de diminuir custos, ganhar espaço no estoque e ainda poupar recursos naturais", afirma.

A perspectiva é de que os resultados de 2015 empatem com os do ano passado. Apesar de ter recebido propostas, inclusive da China, 2016 deve ser um ano de consolidação e investimentos mais modestos. "Essa é uma hora mais de observação e não de grandes investimentos. Vamos trabalhar buscando cada vez mais sustentabilidade. O mundo está vivendo uma transformação. Os consumidores querem comprar conteúdo, histórias autênticas e não apenas marketing. O luxo pelo luxo está cada vez mais cafona. Quem não souber ser uma empresa realmente responsável social e ambientalmente não vai sobreviver no mercado", completa.


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