Refletindo a retração da economia, Bovespa encerra o dia com queda de 1,18%

A queda do PIB no segundo trimestre, colocando o país oficialmente em recessão, e um déficit histórico nas contas do setor público provocaram mais um dia de volatilidade no mercado financeiro ontem. O dólar comercial encerrou em alta de 0,98%, cotado a R$ 3,585, depois de oscilar entre a máxima de R$ 3,602 e a mínima de R$ 3,545. Na semana, a divisa americana acumula valorização de 2,63%. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o Ibovespa, seu índice de referência, abriu em queda, chegou a operar no azul, mas perdeu força e terminou com recuo de 1,18%, aos 47.153 pontos. Em uma semana marcada pela altas e baixas nos mercados provocadas pelas incertezas na China, o Ibovespa fechou com ganho de 3,14% .

BRENT LEWIN/BLOOMBERG/14/10/2014 Risco para o país. Robert Kapito, do BlackRock: "Um rebaixamento da nota do Brasil não teria um impacto positivo"

No exterior a divisa americana se valorizou frente à maioria das moedas, refletindo comentários de membros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de que os juros nos EUA podem subir ainda este ano, graças ao ritmo mais forte de expansão da economia. Mas fatores internos também pesaram.

O Banco Central (BC) vendeu ontem os 11 mil contratos de swap cambial (que equivale a uma venda de dólar no futuro) para papéis que vencem em 1º de setembro. Com isso, o BC praticamente concluiu a rolagem dos US$ 10,02 bilhões que venciam em setembro. Segundo um operador de câmbio, isso mostra que o BC está disposto a tolerar um dólar mais alto, o que pesou sobre os negócios de ontem. A expectativa agora é com relação à estratégia a ser adotada para a rolagem dos contratos que vencem em outubro, no total de US$ 9,4 bilhões.

- O mercado de câmbio agora opera apenas para o dia, não mais para médio e longo prazos. E com muita cautela diante dessa instabilidade toda. Hoje (ontem), os investidores mantiveram a cotação mais próxima de R$ 3,60, que é uma espécie de teto informal da moeda, sinalizado pelo BC - disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.

O BC informou ontem que vai renovar uma linha de empréstimo de R$ 2,4 bilhões. Isso significa que não entrará dinheiro novo no mercado, mas também não sairá. Essa é a avaliação da necessidade atual de hedge (proteção contra a variação do câmbio).

O economista-chefe da Sul-América Investimentos, Newton Rosa, lembrou ainda que o dólar também subiu para a definição da Ptax, taxa média usada na liquidação de contratos de câmbio que vencem na segunda-feira. A Ptax ficou em R$ 3,579.

BLACKROCK: PACIÊNCIA COM A CHINA

No 7º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais, em Campos do Jordão, o presidente da BlackRock, Robert Kapito, observou que uma possível perda de grau de investimento pelo Brasil - que ainda mantém a nota em três agências de classificação de risco - irá prejudicar a alocação de recursos no país. Ele afirmou que os atuais sinais da economia brasileira reduzem o apetite de investidores, mas tentou se manter otimista:

- É uma grande economia, e muitos investidores têm exposição ao Brasil. No entanto, os clientes nunca lembram quando eu ganho dinheiro para eles, só quando eu perco. Um rebaixamento da nota do Brasil não teria um impacto positivo.

A BlackRock administra atualmente US$ 4,5 bilhões em recursos, e a maior parte de seus clientes são institucionais. Desse montante, 15% são destinados a mercados emergentes, como o Brasil.

Kapito disse ainda que os investidores precisam ser mais pacientes quando o assunto é China e que a reação dos mercados financeiros em relação às notícias de desaceleração da segunda maior economia do mundo está sendo exagerada.

- Há uma movimento de correção exagerado. O melhor é ter um pouco mais de paciência e não sair vendendo - afirmou ele, ressaltando que é preciso adotar uma perspectiva de longo prazo. - É importante ter um mercado mais transparente. Isso irá encorajar investidores de todo o mundo a aplicarem na China.