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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 29-08-2015 - 11:25 -   Notícia original Link para notícia
Consumo das famílias é o pior desde 2001

No segundo trimestre, recuo foi de 2,1%. Analistas preveem queda em 2015, o que não ocorria há 19 anos


Diante da piora do mercado de trabalho, queda da renda, alta da inflação e redução do crédito, o consumo das famílias deve fechar este ano em queda, o que não acontecia desde 2003, quando caiu 0,7%. Agora, no entanto, o tombo deve ser maior: a projeção é de perda de até 2,5%. Caso se confirme, será a maior queda de toda a série histórica, iniciada em 1996. O consumo das famílias responde por mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB).



MÔNICA IMBUZEIRO Cortes. Cláudia Belsito e a filha Mirela reduziram gastos com roupas e passaram a evitar mais desperdício de comida


Agora, o impacto da crise bateu forte no dia a dia das casas. O consumo encolheu 2,1% no segundo trimestre, frente aos primeiros três meses do ano, a segunda queda seguida. Esta é a pior taxa desde o terceiro trimestre de 2001, quando recuara 3,2%. Na comparação com igual período de 2014, o recuo foi de 2,7%. Antes disso, o consumo das famílias subiu por mais de 11 anos - 45 trimestres seguidos - e sustentado o crescimento do PIB.


- O grande determinante disso é o mercado de trabalho, que vinha segurando seu desempenho, mas agora capotou. Consumo é emprego, renda e crédito. O emprego ainda vai piorar, a inflação ao longo desse ano vai comer o salário, e o crédito continua caindo - afirma o professor de Economia da FEA/USP e economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.


Rodolfo Margato, economista do Santander, projeta cenário semelhante:


- O mercado de trabalho vem piorando de forma expressiva. Isso é observado nos dados do Caged (cadastro do Ministério do Trabalho que contabiliza a criação de vagas com carteira assinada), na intensidade da elevação da taxa de desemprego e na redução de salários reais. É uma piora muito expressiva.


Para Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, o freio no consumo das famílias ressalta dois fatores:


-Éa conjunção entre mercado de trabalho, visto os indicadores de desemprego batendo de forma forte e cada vez mais rápida, e também o crédito mais caro e cada vez mais difícil. A expectativa é de que vamos continuar na retração nos próximos meses.


Fabio Silveira, da GO Associados, reforça a expectativa negativa para o orçamento das famílias:


- As famílias precisam cortar gastos, viver com o que for possível. Não tem jeito.


MENOS MÓVEIS E CARROS


Coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis destaca que o recuo no consumo familiar se deu especialmente em bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos.


A família da professora Cláudia Belsito integra o grupo dos que seguraram o consumo. Os gastos com roupas foram reduzidos, enquanto os cuidados para evitar desperdício de alimentos aumentaram.


- A gente fica preocupado em evitar o desperdício de comida em casa, em usar roupas que já temos, e começa a inventar maneiras de economizar. Isso afetou a classe média e os menos favorecidos. Deu uma impressão daquele "milagre econômico", estavam todos consumindo, mas foi uma ilusão. Agora veio essa crise - diz.


Para os economistas, mesmo quando o ânimo para as compras for retomado, as patamares altos de consumo dos últimos anos ficarão para trás.


- Existem ciclos de consumo, e o Brasil começou o seu em 2004. Agora, o consumo cai, mas não vai durar para sempre. De qualquer forma, a impressão é que quando o consumo voltar a subir será num ritmo menor - diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.


PIB PER CAPITA EM QUEDA


Sua avaliação é que a redução da inflação a partir do segundo trimestre de 2016 - o que permitirá que os ganhos salariais fiquem acima da alta de preços - será "a senha para que as famílias voltem a consumir".


Com a estagnação de 2014 e a recessão esperada para este ano e o próximo, o país vai amargar três anos seguidos de queda do PIB per capita. No ano passado, o indicador que representa a produção dividida pela população caiu 0,7%. Este ano, a perda chegar perto de 4%, já que as previsões para o comportamento da economia em 2015 pioraram após a divulgação dos números de segundo trimestre. Para o ano que vem, nova queda parece estar contratada, de acordo com as projeções. Nesse cenário recessivo, os indicadores sociais que melhoraram continuamente há mais de uma década devem piorar. Segundo a economista Sonia Rocha, do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), especialista em pobreza e desigualdade, desde 2004, o mercado de trabalho teve comportamento favorável ao pobre. Mas com a alta do desemprego, pode haver piora nos indicadores sociais:


- A renda do trabalho é elemento fundamental na renda das famílias, mesmo as mais pobres. A participação das transferências de renda, como o benefício de prestação continuada, Bolsa Família, Previdência Social, tem aumentado, mas a renda do trabalho tem a fatia maior.


Ela acredita em piora, mas não num retrocesso em todo o avanço das últimas décadas:


- O país mudou de forma estrutural. Mesmo aumentando um pouco os níveis de desigualdade e de pobreza, não vamos retornar ao início da década de 2000.      


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