O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil | - 29-08-2015 - 11:23 - | Notícia original | Link para notícia |
Em meio retração, consumo do governo sobe, mas número não reflete déficit fiscal |
Indicador teve alta de 0,7%, puxada por reajustes automáticos dos salários de servidores "A expansão reflete a dificuldade que o governo tem por causa da rigidez do nosso Orçamento" Em contraste com todos os outros dados do PIB, o consumo do governo foi o único componente a crescer no segundo trimestre, na comparação com os três meses anteriores. Em ano de ajuste fiscal, o indicador subiu 0,7%. Mas, segundo especialistas em finanças públicas, isso não significa que o governo esteja, necessariamente, aumentando as despesas. - Contas nacionais compreendem apenas uma parte das contas dos governos. Só trata de salários, custeio, benefícios e investimentos. Logo, não são uma fonte adequada para medir saúde fiscal e eventual ajuste fiscal. É preciso computar outras transações, e resultado fiscal aqui é medido pelo regime de caixa - explica José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV. DESPESAS COM SERVIÇOS CAEM Na comparação com igual trimestre de 2014, o indicador recuou 1,1%, depois de cair 1,5% no primeiro trimestre. Segundo Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE, a alta trimestral é explicada principalmente pelo aumento da remuneração de servidores. Esses gastos continuam crescendo, enquanto demais despesas, como material e serviços, por exemplo, já recuam em termos reais. - O gasto com material do governo está caindo em termos reais, o que já não é o caso da remuneração. A remuneração (salários e benefícios) foi o que puxou (a taxa de consumo do governo) para cima, e os outros gastos puxaram para baixo - explica Rebeca. O professor de Economia da FEA/USP e economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, concorda: - O grosso do gasto do governo é com o pagamento de servidores, e isso não pode ser cortado. Há redução de despesas de custeio e de investimentos, mas há coisas que dependem da população, como, por exemplo, a compra de remédios. Já a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, afirma que a alta do consumo em ano de ajuste mostra que o governo tem despesas difíceis de cortar, o que torna o controle das despesas públicas mais difícil: - A expansão reflete a dificuldade que o governo tem por causa da rigidez do nosso Orçamento. Esses gastos estão atrapalhando o setor privado. SEM IMPACTO NA NOTA DO PAÍS Se o dado do gasto do governo não é tão preocupante para a saúde das contas públicas, a forte desaceleração da economia é. Isso porque, se o PIB cai, recua também a arrecadação de impostos. No segundo trimestre, o volume de impostos sobre produtos caiu 5,7%, frente a igual período de 2014, devido principalmente a tributos como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto de Importação (II), segundo o IBGE. - Certamente, o aprofundamento da recessão econômica impacta a arrecadação, tornando mais difícil o alcance da meta oficial - avalia o economista do Santander Rodolfo Margato. Esse tipo de dado é observado de perto pelas agências de classificação de risco, o que pode levar o Brasil a perder o grau de investimento. Para Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, o resultado do PIB não muda as perspectivas para a avaliação do rating do Brasil pelas agências de risco. Ele lembra que a Moody's já deixou claro que espera recuo do PIB de 2,5% em 2015 e estabilidade em 2016: - O que vimos não é novidade para as agências de risco. Os números teriam de ficar piores para haver alguma mudança. ( Marcello Corrêa, Lucianne Carneiro e Lucas Moretzsohn) Nenhuma palavra chave encontrada. |
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