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O Globo Online (RJ) ( Opinião ) - RJ - Brasil - 28-08-2015 - 09:20 -   Notícia original Link para notícia
Lero-lero na economia

Aqueles que acreditarem nas 'explicações' pseudotécnicas para vaivém diário das cotações correm risco de sofrer tonturas como os sentidos na montanha-russa


Aeconomia deu um mergulho, no segundo trimestre, mas ainda não chegou ao fundo do poço. O ritmo da contração, entre abril e junho, promete ser o mais forte, em termos trimestrais, deste e dos próximos anos, mas o nível de atividades, segundo projeções confiáveis, ainda se retrairá, em doses menores, até pelo menos meados de 2016.


Confirmado esse quadro, pelo menos até o previsto fundo do poço, nos mercados de ativos, o ambiente estará propício a turbulências e, no curtíssimo prazo, a reviravoltas. Nem por isso, analistas se furtarão a difundir análises para eventos de um dia e aí mora um perigo para quem quiser entender o que se passa na conjuntura econômica. Aqueles que acreditarem nessas "explicações" para as altas e as baixas, na cadência do vaivém diário das cotações, correm sério risco de sofrer enjoos e tonturas como os sentidos quando terminam as voltas na montanha-russa.


Não é necessário ser especialista para perceber que a argumentação dos ditos especialistas não passa de lero-lero pseudotécnico. No dia seguinte, se a cotação recua, as supostas causas da alta, nas 24 horas anteriores, ficam penduradas no vazio, deixando ver o quanto costumam ser ridículas. É, por exemplo, o que mostra, para vergonha alheia, a trajetória recente do mercado de câmbio, o mais suscetível aos diagnósticos descabelados.


As ocorrências com a cotação do dólar nesta semana são abundantes o suficiente para sustentar o ponto. Sob o impacto da perspectiva de alta nos juros americanos, das turbulências nas bolsas de valores da China e da forte intervenção das autoridades chinesas nos mercados, além dos desequilíbrios e da recessão internas, a cotação do dólar, no Brasil, vem pipocando com mais força desde junho. Assim, o dólar superou em sucessivas altas a linha dos R$ 3,50 e, nos últimos dias, ultrapassou a barreira dos R$ 3,60. No pregão da terça-feira, a moeda americana, no chamado câmbio comercial, subiu 1,54% e fechou a R$ 3,607. No dia seguinte, porém, o dólar fechou estável ante o real e ontem encerrou a sessão em baixa, a R$ 3,56. A tendência é de que o mercado se acalme um pouco por um tempo, mas é impossível saber como a antecipar dança das cotações nos próximos dias.


Agora acompanhem a lista das explicações para estes acontecimentos. De acordo com economistas de bancos e corretoras de valores, o dólar subiu no começo da semana influenciado não só pelo pedido de investigação no TSE das contas da campanha presidencial de Dilma, mas também por causa do afastamento do vice-presidente, Michel Temer, da coordenação política do governo. Completaram a "lógica" da alta do dólar os números ruins no mercado de trabalho e as declarações da presidente segundo as quais o governo subestimou o tamanho da crise e também porque Dilma afirmou não ter como garantir que a situação 2016 será "maravilhosa".


Perguntar não ofende: o que mudou nesse quadro, em dois dias, para sustentar um recuo das cotações? Por que, no lado positivo, a melhora evidente das contas externas não teria influenciado o mercado, assim como, no lado negativo, a piora consistente da situação fiscal não é mencionada como elemento a afetar o câmbio neste momento?


Desde o começo do ano, o real de fato descolou da trajetória adversa das moedas de outros países emergentes exportadores de commodities. A distância tem a ver, sim, com a crise política que se instalou já a partir da posse de Dilma em seu segundo mandato. Mas a verdade é que as altas recentes do dólar parecem muito mais vinculadas às instabilidades econômicas externas, agora potencializadas pela chacoalhada chinesa, e às pouco mencionadas peculiaridades do mercado brasileiro de câmbio futuro, que operam como incentivo à especulação mais forte com a moeda brasileira, sobretudo nas ondas de valorização global do dólar.      


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