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Isto é - SP ( Entrevistas ) - SP - Brasil - 22-08-2015 - 12:04 -   Notícia original Link para notícia
João Doria Júnior - ''Dilma não tem condições de recompor o País"

O empresário que lidera um grupo responsável por 52% do PIB diz que o Brasil sofrerá muito se a presidente se mantiver no cargo até 2018 e revela por que quer ser prefeito de São Paulo


Ao longo dos últimos anos o empresário João Doria Júnior se tornou um atento e privilegiado observador do cenário político e econômico do País. À frente do Lide, grupo de líderes empresariais que fundou em 2003, ele reúne 1,7 mil empresários responsáveis por 52% do PIB privado nacional.



PRÉ-CANDIDATO
João Doria já trabalha na elaboração de um plano para São Paulo


 


As dezenas de fotos que decoram a sala de reuniões onde recebeu ISTOÉ na segunda-feira 17 mostram que, com a mesma desenvoltura que navega pela elite empresarial, Doria circula entre políticos de diversos partidos, artistas e personalidades do esporte. E foi apostando na capacidade de juntar pessoas e buscar convergências que lançou sua pré-candidatura à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB.



"Respeito muito a posição serena de Michel Temer. A serenidade
e o equilíbrio em um momento como esse são
importantes. Mas ele não é o presidente!"


 


Na entrevista a seguir, ele narra a preocupação com o atual momento brasileiro, revela a desesperança e a desconfiança dos empresários em relação ao governo federal e diz que o Brasil sofrerá muito se Dilma Rousseff permanecer no cargo até o final de seu mandato.



"O ministro Levy não está errado. Mas sem apoio político para
a implantação de medidas econômicas não se consegue caminhar"


 



ISTOÉ -



 O senhor toma café, almoça e janta com boa parte do PIB brasileiro. Nesse momento, os empresários enxergam alguma luz no fim do túnel?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Há muita preocupação, bastante desconfiança e, o que é pior, uma forte dose de desesperança. O empresário vive no Brasil o seu pior momento nos últimos trinta anos. Nunca vi tanto desânimo, tanta falta de motivação. 


 ISTOÉ -



 O País já passou por outras crises. Nelas também não havia desconfiança e desesperança?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Essa é a maior. A mais profunda no sentido de ferir o coração e a alma dos empresários brasileiros. Qualquer ser quando tem aniquilada a esperança perde parte considerável de sua força. E isso impede a vontade de no dia seguinte trabalhar em uma nova idéia, uma nova oportunidade. A falta de esperança traz a falta de dinâmica e a conseqüência disso é que muitas vezes empresas acabam sendo vendidas ou então vão murchando, reduzindo, diminuindo até fechar.


 ISTOÉ -



 Desconfiança e desesperança foi também o que se viu nas ruas durante as manifestações do domingo 16.


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Sim. Nesse momento, o empresariado reflete o sentimento do País. A desesperança e o desestímulo afetam o País todo e não só os empresários.


 ISTOÉ -



 Nesse ambiente, como é possível formular uma saída para o Brasil?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 A correção só pode ser feita pela política. Pela conduta política. Toda a crise para ser superada precisa de um líder. Quando há uma liderança, há confiança, mesmo diante das dificuldades. Sem liderança, não conseguimos avançar. 


 ISTOÉ -



 Nós temos essa liderança?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Fora do governo sim. No governo não, embora faça uma ressalva: respeito muito a posição serena do vice-presidente Michel Temer. A serenidade e o equilíbrio em um momento como esse são importantes. Mas ele não é o presidente! Na oposição há lideranças com capacidade e condições de, respeitando a democracia e a Constituição, recompor o País e retomar a esperança.


 ISTOÉ -



  É possível  essa recomposição com a presidente Dilma Rousseff no comando?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Não. Dilma não tem condições de recompor o País. Eu não desrespeito a presidente e nem o fato de ela ocupar sua posição por força do voto direto, democrático e constitucional. Respeito isso. Sou filho de deputado cassado pelo golpe de 1964 e jamais desrespeitaria a Constituição. Mas não vejo na presidente as condições necessárias para conduzir as transformações que o País precisa. 


 ISTOÉ -



 O que fazer, então?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Eu diria que uma nova eleição permitiria que esse processo pudesse ser submetido ao voto popular. Aquele que se apresentar como um líder diante de um quadro tão difícil como esse receberá os votos necessários. 


 ISTOÉ -



 O senhor acredita que as manifestações populares possam empurrar o País para esse caminho?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 A pressão das ruas aumentou. Desconsiderar essa pressão popular é deixar de reconhecer os próprios valores democráticos. Minimizar os movimentos, tentar ridicularizá-los ou classificá-los de golpistas é tentar esconder o sol com a peneira.


 ISTOÉ -



 Há unidade na oposição para transformar o desejo popular em algo concreto?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Não vejo necessidade de unidade e nem de unanimidade. O importante é que essas manifestações sejam reconhecidas como o resultado do grau de insatisfação. E na insatisfação há unidade. É inquestionável a insatisfação. Não quer olhar as ruas, então olhe para as pesquisas. Há unidade na compreensão de que é preciso terminar esse ciclo para que comece um novo ciclo. Não acredito em soluções milagrosas. A salvação para o País está em um processo coletivo, de agrupamento de forças políticas, democráticas, institucionais que juntas possam eleger suas lideranças e iniciar um novo ciclo.


 ISTOÉ -



 O Brasil suporta até 2018?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Esperar até 2018 para começar a enxergar um horizonte para 2020 é esperar muito sofrimento. Acho que o Brasil não merece isso.   


 ISTOÉ -



 Na questão econômica, quais são os fundamentos que devem ser aplicados para que se respire dias melhores?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 O ministro Joaquim Levy não está errado em seus fundamentos e é um homem respeitado. Mas a vida ensina que sem apoio político para a implantação de medidas econômicas não se consegue caminhar. Se você não tomar o remédio regularmente, ele não fará efeito. Se tomar o remédio episodicamente ou não tomar porque alguém o trancou no armário e levou a chave embora, o paciente será penalizado e pode até padecer, dependendo do grau da doença.


 ISTOÉ -



 O senhor reuniu algumas pessoas e elaborou um conjunto de propostas chamado Pacto Brasil. Como isso está encaminhado?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 É uma proposta que o Lide fez e foi entregue ao vice-presidente da República. É um documento elaborado por um conjunto de pessoas entre acadêmicos, empresários, sindicalistas, artistas, pessoas da sociedade como um todo, coordenado pelo professor Paulo Rabelo de Castro. Trata-se de uma demonstração clara de que o empresário não joga no quanto pior melhor. Joga pelo melhor e entende que é hora de colaborar, de contribuir. Mas não é hora de silenciar! 


 ISTOÉ -



  Como o vice-presidente recebeu esse documento?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 O vice-presidente reconheceu o valor do empresariado brasileiro através do Lead e de outros movimentos empresariais legítimos e agradeceu o fato de termos oferecido não só a crítica, mas um caminho. Resta saber se esse caminho vai ser praticado seja no âmbito político, seja no econômico. O vice-presidente Michel Temer vai usar isso em algum momento. É flagrante o reconhecimento de que a instabilidade política, e eu diria até institucional no País, torna mais difícil essa tarefa. Em um ambiente corroído tudo fica muito mais difícil.


 ISTOÉ -



 Como surgiu a ideia de disputar a Prefeitura de São Paulo?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Fui secretário do prefeito Mario Covas e vivi três anos e meio uma experiência no governo federal como presidente da Embratur. Portanto, vivi sete anos da minha vida no setor público. Foi uma experiência considerável e bem sucedida. Nesse momento, o governador Geraldo Alckmin e o ex-presidente Fernando Henrique falam muito em renovação do partido e isso me motivou. Percebi que havia um convite aberto para que aqueles que desejassem cumprir uma função pública pudessem se apresentar. Falei com o governador e com o presidente Fernando Henrique, que entenderam minha pré-candidatura como legítima e oportuna. Vou disputar sejam prévias, primárias ou aquilo que for definido pelo partido.


 ISTOÉ -



 Como o senhor trabalha essa candidatura?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Uma candidatura deve representar uma boa contribuição e para isso é preciso preparar um plano de governo que mostre como o cidadão pode viver melhor, com saúde, educação, mobilidade urbana, etc. Seja esse cidadão da classe média, média alta, média baixa ou da classe mais pobre. Todos precisam receber atenção, sejam os mais pobres sejam os que vivem no centro expandido. 


 ISTOÉ -



 Já existem propostas concretas?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Constitui um grupo com 32 pessoas ilibadas da academia, do setor empresarial, do setor formador de opinião e de áreas como saúde, educação, mobilidade urbana e segurança pública. Esse grupo vai contribuir com a formatação de uma proposta de um governo para a cidade de São Paulo. Não se trata de uma proposta de governo para o João Doria, mas de uma proposta para São Paulo. A essas pessoas não pedi filiação, não perguntei se eram simpatizantes do PSDB, filiados ao PT ou entusiastas do PSB.


 ISTOÉ -



 Nesse grupo há quem já foi ligado ao PT?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Há dois ex-ministros que trabalharam com o presidente Lula. O Luiz Fernando Furlan e o Roberto Rodrigues. Tenho enorme admiração e muito respeito por eles. 


 ISTOÉ -



  Quais os fundamentos desse programa?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Isso está sendo construído. Mas os fundamentos são inovação, eficiência de gestão e combate permanente à corrupção. Você tem que pressupor esses três aspectos para um plano de ação de quatro anos. 


 ISTOÉ -



 Há quem afirme que sua proximidade com o PIB acabará lhe rotulando como o candidato dos ricos. Como superar isso e levar a candidatura para Paraisópolis (favela da Zona Sul de São Paulo)?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Quero ser o candidato daqueles que gostam de São Paulo. Que nasceram aqui ou que escolheram viver aqui. Não importa se pobres ou ricos. Eu não entendo que o pobre tenha mais legitimidade do que o rico e nem o rico tenha mais legitimidade do que o pobre. Se eleito, vou fazer São Paulo acelerar. Não vai ficar como agora, devagar quase parando. Em minha gestão a mobilidade urbana terá a cor verde e não vermelha, sinal livre.


 ISTOÉ -



 A regra do jogo político hoje é se construir maioria no Legislativo com loteamento de cargos e divisão da máquina. Como mudar isso?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Essa é a regra de um jogo errado. Uma boa liderança conquista os apoios pelo diálogo. Eu prefiro atrair o entusiasmo das pessoas pela causa e não pelo bolso. 


 ISTOÉ -



 O senhor não teme ser tratado como um sonhador?


 



JOÃO DORIA JÚNIOR -


 Podem chamar. Construí uma vida de sucesso na área empresarial sonhando. Mas também trabalhando duro para transformar o sonho em realidade. E é isso que ensino aos meus filhos: nunca percam os seus sonhos, mas trabalhem muito para alcançá-los. 


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