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Valor Online ( Empresa ) - SP - Brasil - 20-08-2015 - 10:25 -   Notícia original Link para notícia
Empreendedor cada vez mais jovem vê chances de ascensão

Por Katia Simões | Para o Valor, de São Paulo




Gustavo Albanesi, da rede Budha Spa: "O perfil dos candidatos vem mudando, sobretudo nos últimos três anos"



Formada em direito, Jéssica Escobar não se encontrou na profissão. Sentia-se melhor trabalhando na empresa do pai, especializada em terceirização de mão de obra. Empreender, porém, não era tarefa fácil, principalmente para uma jovem de 21 anos. Faltava dinheiro e experiência. Depois de muita pesquisa, ela convenceu o pai a investir em uma franquia.


"Ele seria o sócio investidor e eu operaria o negócio", conta Jéssica. A marca escolhida foi a Subway. O que a jovem não sabia, entretanto, é que a única praça livre em 2013, próxima de Volta Redonda (RJ), sua cidade natal, era Angra dos Reis. Desistir, jamais. Ela se mudou para Angra e abriu a primeira franquia de rua, meses depois, começou a negociação da segunda unidade, desta vez em shopping center.


Hoje, aos 24 anos, ela responde por duas unidades da rede Subway e tem fome de crescimento. Não perde um treinamento e não deixa de transmitir suas ideias para o coordenador de campo e até para a matriz. "A franquia é o primeiro degrau de quem quer empreender na atualidade, porque a cartilha já está pronta e o negócio testado", afirma Jéssica. "A chance de dar certo e crescer é maior do que começar um negócio do zero e bater a cabeça sozinha."


Jéssica não é mais uma exceção no universo do franchising. Nos últimos dois anos, jovens com formação universitária, alguma experiência no mercado e ávidos para empreender têm encontrado nas franquias uma porta de entrada para o primeiro negócio. O movimento é recente, não tem mais do que três anos, mas já tem peso nas estatísticas. É o que mostra o estudo Franquias Brasil, realizado pela Associação Brasileira de Franchising (ABF) em parceria com o Sebrae. Segundo o levantamento, 27% dos franqueados têm de 18 a 30 anos e 56% entre 31 a 45 anos. Um percentual significativo de gente jovem, com muito gás e uma forma diferente de pensar e fazer negócio.


Hoje, já há exemplos de redes em que franqueador e franqueado possuem trajetórias bem semelhantes, tendo em comum o franchising como meio para empreender. Aos 18 anos, conversando com o pai, Hugo Rosin, sócio fundador da rede DVI Radiologia, especializada em diagnóstico por imagem em odontologia, ouviu o seguinte conselho: Escolha algo em que você consiga ser dono do próprio nariz.


O filho escutou. Formou-se em odontologia e, aos 25 anos, fundou a DVI. "Senti na pele o ônus e o bônus de ser jovem", lembra Rosin. "Cansei de ser chamado de menino. O desafio era fazer a competência valer mais que a minha idade."


Com dez anos de mercado e desde 2012 como franquia, a rede vê com bons olhos o crescimento da demanda de candidatos com menos de 30 anos. Das 13 unidades em operação, três são comandadas por jovens empreendedores.



Se por um lado, os jovens têm mais disposição, sonham alto, dominam com facilidade as inovações tecnológicas e imprimem uma comunicação mais inovadora às redes, por outro, são mais questionadores, ansiosos, buscam resultados imediatos e são emocionalmente menos preparados. "Eles pensam mais fora da caixa e isso é bom para as redes", avalia o consultor Marcelo Cherto, do Grupo Cherto. "Trata-se de uma geração diferente, movida não apenas pelo ganho financeiro, mas, principalmente, pelo bom ambiente de trabalho, pela defesa de uma causa e pelo valor de aprender coisas novas, equilibrando trabalho e bem estar."


Outra característica importante destacada pelo consultor é a energia e a falta de medo para recomeçar, além da preocupação em fazer as coisas certas, porém, não rigorosamente "certinhas", o que ajuda a acelerar o crescimento. "Esse conjunto de pontos exige uma mudança na forma das franquias de atuar, no modo como se comunicam com a rede", adverte Cherto.


Trata-se de uma geração de empresários que troca o e-mail pelo WhatsApp, o treinamento presencial pelo e-learning e com grande afinidade com as ferramentas tecnológicas.


Com 21 unidades em operação, das quais seis comandadas por franqueados abaixo dos 32 anos, a Rede Budha Spa espera faturar este ano R$ 11 milhões. "O perfil dos candidatos à franquia vem mudando, sobretudo nos últimos três anos", afirma Gustavo Albanesi, fundador da rede.


"Acho bastante positiva essa mudança, embora como franqueadores tenhamos de ter preocupação maior com o lado emocional desses empresários."


Segundo ele, no começo eles apanham na questão de liderança, já que liderar é dar exemplo e não impor a forma de trabalho. Também revelam egos em alguns momentos inflados e acabam dando importância exagerada e maior complexidade a fatos e ocorrências que não demandam tanta energia. Albanesi reforça, contudo, que se falta experiência de vida para esses empresários, sobra formação, já que a maioria tem mais do que o curso universitário.


A opinião é compartilhada por Elídio Biazini, fundador da Dídio Pizza, rede com 24 unidades, das quais sete comandadas por franqueados abaixo dos 30 anos. Na visão do franqueador, além de aprender a lidar com a ansiedade e o novo jeito de ser desse público, a marca deve se preparar para recebê-los, atualizando seus processos e, principalmente, introduzindo tecnologia na rede. "Eles têm muita facilidade para absorver informações, entendem melhor o negócio como um todo, são mais flexíveis e totalmente digitais", assegura Biazini. "Todavia, demandam um acompanhamento mais próximo, uma consultoria de campo mais atenta que lhe mostre que o resultado é consequência do amadurecimento do negócio e tem seu tempo para acontecer."


Geração antenada tem visão global e gosta de arriscar


Por Katia Simões | De São Paulo


Longe de ser um movimento passageiro, impulsionado pela economia em baixa e queda dos postos de trabalho, a entrada de jovens franqueados no universo do franchising só tende a crescer. Essa é a opinião da consultora Ana Vecchi, da Vecchi & Ancona Consulting. "Trata-se de uma geração com visão atualizada e global, que sabe pesquisar e visualizar o que acontece nos grandes mercados e, ao contrário de um passado recente, querem empreender", afirma.


"Tem horas, é claro, que batem cabeça, pela falta de alguma ruga no rosto, de alguma experiência a mais de vida, e é nesse momento que o acompanhamento do franqueador é essencial para o sucesso do negócio."


Este também é o pensamento de Jean Chu, sócio da rede Los Paleteros. Para ele, o apetite de risco e o desejo de controlar a própria vida de forma mais voraz são características da nova geração, que prefere empreender a fazer carreira. "Eles compõem o perfil ideal para nossa marca, que é jovem, colorida e bastante atual", afirma Chu. Há três anos no mercado, a rede conta com 100 unidades franqueadas, das quais 20 comandadas por jovens abaixo dos 35 anos.


Com duas décadas de atuação no mercado e 11 anos de franchising, Altino Christofoletti, sócio fundador da Casa do Construtor, não titubeia ao dizer, que teve de mudar o pensamento e a forma de agir com a chegada dos primeiros jovens franqueados à rede no último ano.


Até então, a preocupação da consultoria de campo era com os indicadores de desempenho das unidades, já que a gestão de pessoas e o respeito ao manual já faziam parte do dia a dia dos franqueados mais experientes. "Hoje, temos de estar mais preparados, oferecer tecnologia para a coleta e análise dos dados", afirma.


"Eles trazem uma visão mais moderna para o negócio. Demoram um pouco mais para pegar a habilidade do dia a dia, mas quando assimilam, deslancham bem mais rápido. São mais questionadores e exigem respostas rápidas". Com 25 unidades, a Casa do Construtor tem 15% de seus franqueados abaixo dos 30 anos e está de olho na chegada de outros tantos.


Foi-se o tempo em que os milleniuns eram apenas clientes das redes no Brasil e no resto do mundo. A edição da Feira do Franchising 2015, em junho, foi um bom termômetro do aumento da entrada de jovens empreendedores no segmento. Embora não haja um setor específico que atraia mais este público, é certo que áreas ligadas à tecnologia, que exigem uma formação mais sólida, além de beleza, saúde e bem estar tendem a sair na frente.


A rede Dr. Shape, pioneira na área de suplementação alimentar e artigos esportivos, com 48 unidades em operação, confirmou a preferência na prática. "Não é só o franchising que está assistindo a esta mudança, mas o varejo como um todo", afirma o franqueador Roberto Kalaes. "As próprias universidades têm abordado o tema empreendedorismo com maior eficiência, o que leva esta geração a pensar mais nesse caminho como objetivo de vida."


Ciente de que se trata de um candidato arrojado, dinâmico, que quer alcançar suas conquistas de forma muito rápida, a rede redesenhou seus processos de consultoria de campo e, principalmente, seus treinamentos, que ganharam horas a mais. "Eles precisam ser monitorados de perto para não colocar os pés pelas mãos", garante Kalaes. "A rede tem de dar treinamento e segurar a corda para eles não voarem para o lado errado."


Investir forte em treinamento e redobrar o cuidado na hora de selecionar os candidatos a franqueado é a receita da Mr. Beer para lidar com os novos parceiros. Entre os 60 franqueados da rede, que juntos respondem por 80 pontos de venda, 20% tem menos de 30 anos. "Nosso maior desafio é fazê-los entender que comprar uma franquia é se tornar um empresário, sem hora para entrar ou sair, que precisa gerir pessoas, administrar as finanças e não se deixar levar mais pelo emocional do que pelo racional", diz o franqueador Fabiano Wohlers.


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