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Isto é Dinheiro online ( Economia ) - SP - Brasil - 15-08-2015 - 12:59 -   Notícia original Link para notícia
Golpe dos mercados

A China desvaloriza sua moeda para estimular a economia e provoca turbulência ao redor do mundo. Entenda como isso afeta o Brasil  



Os profissionais do mercado financeiro costumam dizer que a China tem duas muralhas. Uma, milenar, destinada à proteção de suas fronteiras. Outra, bem mais moderna, destinada a blindar sua economia: os controles de câmbio. A muralha antiga vai bem, obrigada. Já a mais moderna mostrou algumas rachaduras nos últimos dias. Ao longo de quatro décadas, desde que começou a abrir-se ao mercado internacional, o governo de Pequim controlou o câmbio com a tradicional disciplina férrea. Por isso, ao anunciar uma mudança na terça-feira 11, o Banco do Povo, o banco central chinês, provocou uma onda de turbulência ao redor do mundo. A autoridade monetária permitiu uma depreciação do câmbio de 4,9% em dois dias, alterando a taxa de 6,1 yuans para 6,39 yuans por dólar, maior cotação em dois anos.


A decisão derrubou as bolsas - a Bovespa não foi exceção - e lançou uma sombra de desconfiança sobre os preços das commodities e os resultados de empresas que exportam mercadorias e commodities para a China. Na Europa, os índices de ações recuaram cerca de 3% na terça-feira, e o euro perdeu valor em relação ao dólar, com a expectativa que as exportações européias percam fôlego.


A confusão foi tanta que, na quinta-feira 13, Yi Gang, vice-presidente do Banco do Povo, concedeu uma entrevista coletiva dizendo, como bom banqueiro central, que o movimento é uma "medida de rotina", e que "não procedem" os rumores de que há uma meta de desvalorização de 10% do yuan para ajudar os exportadores. Yi não convenceu. A turbulência continuou na manhã da sexta-feira 14. Na abertura dos negócios, o governo chinês fixou a taxa de câmbio em 6,401 yuans por dólar. Pelas regras do mercado, a moeda pode oscilar 2% para cima ou para baixo. Ao longo do dia, os bancos forçaram uma desvalorização adicional de 1,7%, quase no limite máximo diário. E não há sinais de que o mercado se acalme nos próximos dias.


Para entender o peso dessa mudança e suas repercussões é preciso recuar no tempo. Desde o fim dos anos 1970, quando Deng Xiaoping, sucessor de Mao-Tsé-Tung, declarou que "enriquecer é glorioso", o governo vem estimulando a expansão de sua economia por meio das exportações. A exemplo do Japão, no imediato pós-guerra, a China começou essa maratona vendendo produtos baratos e de má qualidade. Atualmente, porém, ela concorre em pé de igualdade com empresas europeias, japonesas e americanas. Um dos pilares desse sucesso foi a taxa de câmbio, mantida praticamente congelada ao redor de 8,2 yuans por dólar entre a década de 1980 e junho de 2005. Isso barateou os produtos, turbinou as exportações e gerou um superávit comercial com o resto do mundo que fez a China acumular reservas em moeda forte que estavam em US$ 3,69 trilhões em junho, quase dez vezes mais que o montante brasileiro.


Há dez anos, porém, houve uma mudança de rota, destinada a estimular o mercado interno, e também devido à pressão do governo americano. Washington queria reduzir seu déficit comercial com o parceiro do lado oposto do Pacífico e por isso a moeda chinesa ganhou valor frente ao dólar. Nesses dez anos, de maneira muito controlada, a moeda chinesa apreciou-se em 34%. Se, em 2005, eram necessários  8,2 yuans para comprar um dólar, até o início da semana bastavam 6,1 yuans para isso. No entanto, na terça-feira 11, sem aviso prévio como geralmente acontece quando quem toma a decisão é Pequim, o governo resolveu acelerar o crescimento econômico dando uma injeção de ânimo nas exportações. A maneira mais fácil de fazer isso, em momentos como o atual, de retração da economia global, é desvalorizar a moeda para aumentar a competitividade dos produtos locais. Um ponto que reforça essa tese é o fato de que a decisão foi anunciada pouco depois da divulgação de estatísticas mostrando fortes quedas das exportações chinesas. As vendas para os Estados Unidos caíram 1,3% em julho, em relação a junho, enquanto o total exportado para o Japão e para a União Europeia recuou, respectivamente, 13% e 12,3%, ao mesmo tempo em que a alteração na trajetória do yuan provocou discussões na Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra.


O impacto sobre os investidores brasileiros não será tão pesado como se poderia imaginar em um primeiro momento. A decisão aumenta a competitividade das exportações chinesas e torna mais difícil vender para lá, mas a economia do Brasil é bastante complementar à da China. A primeira candidata a sofrer na Bolsa seria a Vale, que exporta minério de ferro para as siderúrgicas chinesas. As ações da mineradora chegaram a cair 5,3% no dia do anúncio, mas recuperaram-se parcialmente nos dias seguintes. Embora perca competitividade em seu principal mercado, a Vale pode ser beneficiada indiretamente pelo crescimento das exportações chinesas. Da mesma forma, de acordo com Paulo Nogueira Gomes, economista chefe da gestora de investimentos AZ Futura, associada à italiana Azimuth, itens importantes da pauta de exportação, como as commodities agrícolas e proteínas animais, não deverão ser muito prejudicados. "O mercado chinês para alimentos é grande e crescente, tanto pelo aumento da população quanto pela melhoria da renda", diz Nogueira Gomes.


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