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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 14-08-2015 - 08:37 -   Notícia original Link para notícia
Miriam Leitão - O risco chinês

Economia chinesa está dando sinais de problemas. A desvalorização da moeda chinesa está afetando o valor dos ativos e vem em um mau momento para o Brasil. Pelo terceiro dia seguido, o governo desvalorizou o yuan. Especialistas acham que isso aumentará a capacidade do país de exportar, tirando mercado de produtos brasileiros. Essa queda da moeda pode ser sinal de que a economia chinesa está com mais problemas do que o governo admite.


AChina com dificuldades era mesmo só o que faltava. Nossas exportações para lá já caíram 19% em dólares de janeiro a julho, de US$ 28 bilhões para US$ 22,5 bi. Com o yuan mais fraco, os chineses terão menor poder de compra para consumir, o que dificultará a venda de itens como minério de ferro e soja, que já estão sentindo os efeitos da queda dos preços nos mercados internacionais. A exportação de minério de ferro para a China caiu 58% até julho, de US$ 8 bilhões para US$ 3,8 bi. As vendas de soja recuaram 14%, de US$ 13,98 bilhões para US$ 12 bi.


A decisão do governo pode ser vista de duas maneiras. Por um lado, o dólar vinha se fortalecendo globalmente, mas o yuan se mantinha estável. Ou seja, a China não estava seguindo esse movimento, o que, na prática, significava uma valorização da moeda chinesa perante as demais.


O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil ( AEB), José Augusto de Castro, lembra que a China tem US$ 3,3 trilhões em reservas cambiais e somente no ano passado teve superávit comercial de cerca de US$ 380 bilhões. Além disso, atrai dólares em forma de investimento estrangeiro. Ou seja, com esses fundamentos, deveria ter uma moeda muito mais apreciada do que tem, não fossem as intervenções do governo.


- A desvalorização trouxe dois temores: um, que a China esteja desvalorizando a moeda para impulsionar as exportações, que caíram 8% em julho sobre o mesmo mês de 2014. Outro, que o crescimento do PIB esteja muito mais fraco do que o divulgado pelo governo. O mundo tem duvidado cada vez mais das estatísticas oficiais chinesas - disse Castro.


Para o governo chinês, a desvalorização da moeda vai na direção contrária ao que vinha sendo apontado como seu novo modelo de crescimento. Depois de passar as últimas décadas puxada por exportações e investimentos, a expectativa era que a China passasse, agora, a ser impulsionada pelo consumo interno. Mas o yuan mais fraco reduz o poder de compra dos chineses.


Nos últimos três dias, a desvalorização do yuan chegou a 4,5%. Segundo José Augusto de Castro, a preocupação de empresários no Brasil é que chegue a 10%, o que daria um forte impulso às exportações chineses.


- Se chegar a 10%, será visto como uma guerra comercial. Os chineses vão mandar produtos manufaturados mais baratos para vários países, principalmente os Estados Unidos, que é onde o Brasil está mirando para voltar a exportar mais e atenuar a recessão - disse Castro.


O yuan mais fraco já teve efeito baixista sobre os preços das commodities porque aumentou o receio de uma desaceleração mais forte da economia chinesa. Isso afeta países da América Latina, para onde o Brasil também exporta produtos industriais.


- O Brasil perde duas vezes. Primeiro, porque vai exportar matérias- primas mais baratas; segundo porque terá mais dificuldade para vender produtos industriais, com a concorrência maior dos produtos chineses e a fraqueza econômica da América Latina, provocada pela queda das próprias matérias- primas - disse Castro.


Em relatório enviado a clientes, a economista Wei Yao, do banco francês Société Générale, afirmou no título que o crescimento chinês "está fraco, e ponto". Ela explica que há três forças puxando a economia para baixo: queda das exportações, dos investimentos, e a forte volatilidade da bolsa de valores.


"A queda de 10% na bolsa não atingiu o consumo, mas claramente afetou setores como o automobilístico. Enquanto as vendas do comércio em julho cresceram 10,4%, contra o mesmo mês de 2014, a de automóveis despencou 6,6% e a produção caiu 0,5%", disse Wei Yao.



Por isso, o governo tem aumentado as intervenções na economia, com cortes nas taxas de juros, aumento dos financiamentos e, agora, a desvalorização da moeda.


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