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O Globo Online (RJ) ( Rio ) - RJ - Brasil - 14-08-2015 - 09:59 -   Notícia original Link para notícia
Inadimplência S. A.

Com vendas em queda, total de dívidas atrasadas pelas empresas dá salto de 25%


Com a crise econômica e o escândalo da Lava- Jato, cresceu a inadimplência das empresas. O total de dívidas com atraso superior a 90 dias subiu 25% em 12 meses e já chega a R$ 37 bilhões. Muitas empresas estão atrasando ainda o pagamento de impostos. - SÃO PAULO- A desaceleração da economia brasileira está fazendo a inadimplência das empresas crescer e o estoque de dívidas atrasadas dar um salto. Números do Banco Central mostram que o total dos chamados "créditos podres", débitos bancários com atraso de mais de 90 dias, subiu de R$ 29,6 bilhões em junho de 2014 para R$ 37,1 bilhões em junho de 2015, último dado disponível. O avanço de 25,5% no período de 12 meses é considerado expressivo pelos especialistas, sobretudo quando se leva em conta que, no mesmo período, a oferta de crédito às empresas cresceu num ritmo bem menor, de 8,9%. Hoje, o estoque total de crédito às empresas é de R$ 1,63 trilhão.


MICHEL FILHO Crise. Com vendas 40% menores, Fábio Ghiradi atrasou os impostos e deu férias coletivas aos empregados


O aumento do calote faz os bancos pisarem no freio na hora de liberar empréstimos para pessoa jurídica. Já os investidores especializados em comprar títulos de dívidas vencidas, conhecidos popularmente como "fundos abutres", veem crescer as oportunidades neste mercado. O ganho desses investidores vem da recuperação destes papéis, que são comprados por valor muito abaixo da dívida real. É o que o mercado chama de desconto sobre o valor de face do título.


- Com o aumento da inadimplência das empresas, que subiu de 2% para 2,3% em 12 meses, os bancos estão mais criteriosos na concessão de crédito. Muitos empresários que esperavam rolar dívidas não conseguem e acabam inadimplentes - diz Guilherme Ferreira, sócio da Jive Investments, empresa especializada em comprar créditos vencidos.


UMA EM CADA QUATRO ESTÁ INADIMPLENTE


Em pesquisa feita mês passado pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo com 300 empresários, 25% informaram ter deixado de pagar dívidas com bancos ou financeiras. Em junho, eram 14%. E 79% dos entrevistados responderam que a elevada carga de impostos causa dificuldades no desempenho da empresa. Diante desse quadro recessivo, a expectativa dos especialistas é que o estoque de "papéis podres" continue aumentando na carteira dos bancos.


No final do ano passado, os créditos vencidos entre 60 e 360 dias chegaram a R$ 205 bilhões, de acordo com os números do BC para empresas e pessoas físicas. O mercado calcula que outros R$ 300 bilhões estejam em circulação, já vendidos por bancos para limpar seus balanços, e sejam negociados por investidores interessados neste mercado.


A diretora da área de reestruturação da KPMG, Márcia Yagui, lembra que, além da conjuntura ruim da economia, a Operação Lava- Jato também contribuiu para o crescimento do mercado de "créditos podres". No primeiro trimestre deste ano, observa ela, construtoras investigadas, como a OAS, a Galvão Engenharia e o Grupo Schahin, entraram com pedido de recuperação judicial e as dívidas bancárias dessas construtoras também se transformaram em dívida vencida.


- São empresas de porte que provocaram impacto no mercado de "créditos podres" depois que pediram reestruturação de seus débitos - diz.


De olho nas oportunidades de ganho com dívidas vencidas, a Jive captou R$ 500 milhões e lançou o fundo Jive Distressed, focado na compra e recuperação de créditos vencidos de empresas. O fundo é considerado de risco alto, e o investimento inicial era de R$ 1 milhão. No mercado, calculase que entre 30% e 40% dos créditos vencidos de empresas possam ser recuperados.


- Nosso objetivo é oferecer um retorno superior ao Certificado de Depósito Interbancário ( CDI) - diz Diego Fonseca, responsável pela área de Produtos Estruturados do Private Banking da Credit Suisse Hedging- Griffo, que estruturou o fundo da Jive e fez a distribuição aos clientes.


No capítulo dos impostos, o encolhimento da economia diminui a arrecadação de tributos pela própria desaceleração da atividade, mas, além disso, muitas empresas estão optando por não pagar impostos. O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas ( FGV), José Roberto Afonso, observa que, com acesso restrito ao crédito e os juros altos, as empresas deixam de pagar impostos, como uma maneira mais barata de se financiar.


- Não se trata de sonegação. É dever e não pagar. O governo cometeu um erro no passado ao adotar sucessivos refinanciamentos de dívidas tributárias. Isso estimulou bons contribuintes a atrasarem o pagamento, esperando o próximo Refis - explica o pesquisador.


CONTA DE LUZ DOBRA, E EMPRESÁRIO ATRASA IMPOSTO


Dados da Receita Federal mostram que a arrecadação de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica ( IRPJ) e da Contribuição Sobre o Lucro Líquido ( CSLL) caiu 9,1% em termos reais ( descontado o IPCA) no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2014. Foram R$ 10,1 bilhões a menos nos cofres públicos só com estes dois tributos.


O empresário Fábio Ghiradi tem uma fábrica no bairro da Pompéia, Zona Oeste de São Paulo. Produz redes de futebol e vôlei, além de rede de proteção para janelas de prédios. Está com o pagamento de todos os seus impostos atrasados há um mês. Segundo ele, desde o início do ano, o movimento caiu 40% e levou junto seu faturamento, que era de R$ 100 mil. Como o estoque cresceu muito, Ghiradi deu férias coletivas a seus 12 funcionários para não demitir ninguém.


- Atrasei os impostos porque minhas despesas aumentaram muito. Pagava R$ 3 mil de conta de luz e agora estou pagando R$ 6 mil - diz.


O empresário também atrasou um empréstimo de capital de giro com bancos. Para fugir da inadimplência, foi logo renegociar. O banco avisou que o crédito ficou mais restrito. Como precisava muito do dinheiro, topou pagar mais caro por ele:


- Eu tinha feito um empréstimo de R$ 75 mil, em 60 meses, com juros de 2% ao mês. Paguei 30 meses e fui renegociar os 30 restantes para alongar a dívida. Mas o juro do refinanciamento foi de 3%.


Roberto Afonso informa que a arrecadação vem caindo há um ano e considera inevitável nova queda nesta ano. Ele projeta carga tributária abaixo de 34% do PIB em 2015, patamar inferior ao registrado há dez anos. O especialista da FGV alerta ainda que há uma crise profunda em setores mais estratégicos para a arrecadação de impostos, como petróleo, energia elétrica, telecomunicações e construção civil, que terá efeito colateral nas contas públicas:


- O mesmo acontece com a indústria de transformação, que antecipa o pagamento de impostos do comércio e serviços. A crise e a desindustrialização nesse setor vão agravar a queda de receita


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