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ABRAS ( Últimas Notícias ) - DF - Brasil - 10-08-2015 - 11:25 -   Notícia original Link para notícia
Lojistas de BH zeram estoque para tentar passar o ponto - 09h15

Retração força comerciantes sufocados pelos custos altos a sair do negócio, mas existe concorrência até neste momento



Durante 26 anos, Eduardo Reis progrediu na vida como comerciante no Centro de Belo Horizonte. Ainda na década de 80 abriu bem no coração de BH, na Rua da Bahia, a loja de sapatos que venceria muitas crises financeiras, mas que não resistiu à turbulência deste ano. "Não há mais jeito, estou me desfazendo de tudo", lamenta. Há quatro meses, Eduardo decidiu passar o ponto e, até agora, não recebeu qualquer oferta. "Espero o fim do estoque para fechar as portas", avisa. A situação dele se repete em diversos locais da capital, como reflexo da grande queda do consumo que levou o Brasil à recessão.

A reportagem do Estado de Minas constatou casos de lojistas que tentam, sem sucesso, passar o negócio adiante há mais de um ano. A disputa até para desfazer do empreendimento surge nas faixas e cartazes que anunciam preço baixo e a urgência do dono para sensibilizar os interessados, como se observa nos bairros Floresta, na Zona Leste, e Funcionários, na Região Centro-Sul. "É a segunda maior rede em expansão, a primeira é o aluga-se", ironiza o vice-presidente da (), Marco Antônio Gaspar.

Marco Antônio diz que o cenário é preocupante, uma vez que reflete o desespero de um comerciante diante de uma retração na economia. "Quando a atividade econômica está ruim, a primeira coisa é passar o ponto e, depois, fechar as portas", diz. Porém, à medida em que as placas de aluga-se proliferam, fica mais difícil passar o ponto.

Eduardo Reis sabe disso. A decisão de se desfazer do negócio foi tomado diante, inicialmente, de contas que entraram no vermelho. "Desde o início do ano, o movimento de consumidores caiu mais de 50%. Não há mais jeito, tenho que parar de trabalhar", afirma. Para recuperar o dinheiro investido no estoque, de cerca de 20 mil itens, entre sapatos, bolsas, cintos e guarda-chuva, ele fez uma promoção com preço máximo de R$ 50 para qualquer produto. "Até o fim do mês, acredito que fecho as portas". Eduardo pede R$ 30 mil pelo ponto. O aluguel custa R$ 8 mil mensais. "Está difícil continuar, por isso, estou deixando o comércio para trás. A sensação que dá é que o governo não quer que trabalhemos", critica.

O vice-presidente da -BH aconselha o comerciante que quer entregar seu negócio a tentar, primeiro, desovar todo o estoque. No Bairro Ouro Preto, na Pampulha, há lojas que têm feito promoções para, justamente, encerrar o estoque e passar o ponto. Na loja de vestuário e acessórios SerChic, por exemplo, todas as peças de roupas estão com 50% de desconto.

"Estou há um ano tentando passar o ponto, mas não recebi nenhuma proposta", lamenta a comerciante Rita de Cássia da Silva, dona do negócio. Ela conta que está disposta a flexibilizar nas exigências e que pede um valor até mesmo abaixo do investimento feito na loja. "Peço R$ 32 mil e passo o negócio com móveis, manequins, luminárias e circuito interno de câmera", garante. A loja está localizada em uma rua comercial do Barro Preto e o aluguel do espaço chega a R$ 2,8 mil.

Rita diz que o principal motivo de passar o ponto está no fato de ter optado por continuar um outro negócio no ramo alimentício, tendo em vista as dificuldades que a retração da economia impõe para que ela concilie as duas atividade. "O setor de alimentação não perdeu tanto com a queda no movimento, como o de vestuário", compara.

OPORTUNIDADE Para quem sonhar em ter o próprio negócio, a febre do "passo-se ponto" na cidade pode ser uma boa oportunidade . Em meio à chuva de placas e faixas, três sócios realizaram o sonho de abrir um bar voltado para o público de classe mais alta da cidade. Há cinco anos, eles acompanhavam o mercado e buscavam uma boa localização para abrir as portas. O bairro escolhido por eles foi o Lourdes, na Região Centro-Sul. "Na época o aluguel estava alto, então esperamos mais um pouco. Foi quando uma loja de lingerie anunciou, este ano, que passaria o ponto, na Rua de Janeiro", comenta Flávio Braga, um dos sócios do Butchery, inaugurado há cerca de 15 dias na cidade . "Conseguimos o ponto por R$ 18 mil e aluguel de R$ 4 mil. Foi uma boa oportunidade", avalia André Prates, sócio do estabelecimento.

Tentativa de reduzir o prejuízo

O valor de um ponto comercial, de acordo com Marco Antônio Gaspar, depende atividade exercida, do tempo da atividade e do acordo que se faz com o sucessor da loja. "Pode ser que a pessoa abriu uma loja de picolés na garagem de casa e, durante 20 anos, ficou por ali. Nesse local, conquistou uma clientela fiel. O valor terá que levar em conta tudo isso", observa. Numa economia em crise, entretanto, o que antes poderia ser simples também afeta a opção de passar o ponto.

Para comerciantes ouvidos pelo Estado de Minas, as propostas têm sido raras. "Estou há seis meses tentando, mas nada. Isso me dá tristeza e já tenho problemas de saúde", comentou um lojista que prefere manter-se no anonimato. Ele trabalha em área nobre da cidade, na Avenida do Contorno, na Savassi, e admite que a situação o abalou emocionalmente. "Chega a determinado momento em que você não consegue mais passar o ponto, porque as contas vencem. Com dívidas, e o melhor é fechar as portas", afirma Marco Antônio Gaspar.

Na maior parte dos casos, quem passa o ponto é inquilino e a decisão é tomada, segundo Marco Antônio, quando o contrato com o proprietário do imóvel está em vigor e, por isso, o comerciante será obrigado apagar multa recissória. "Por isso, ele tenta diminuir o prejuízo. O primeiro passo é passar o ponto, porém, a dificuldade de conseguir algum interessado é o empecilho neste momento, já que são muitos fazendo o mesmo", comenta.

 


Veículo: Jornal Estado de Minas


Palavras Chave Encontradas: Câmara dos Dirigentes Lojistas, CDL
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