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Estadão ( Economia ) - SP - Brasil - 28-07-2015 - 08:48 -   Notícia original Link para notícia
Celso Ming - Gambiarra não resolve

O discurso de que viria aí um ajuste temporário e de que logo a economia voltaria a crescer perdeu sentido


Perdeu sentido o discurso de que viria aí um ajuste temporário e de que logo mais a economia voltaria a crescer, a produzir empregos e o salário deixaria de ser tão carcomido pela inflação.


Foi o que a presidente Dilma e seus ministros da área econômica repetiram ao longo do primeiro semestre deste ano. "Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão, porque esta situação é passageira. O Brasil tem todas as condições de vencer estes problemas temporários. (...) As dificuldades são conjunturais, esperamos uma primeira reação já no final do segundo semestre deste ano", disse a presidente Dilma em seu pronunciamento de 8 de março.




Não era só uma conversa para enganar os trouxas. Era uma convicção da presidente, partilhada pelos ministérios da área econômica e pelo Banco Central.


Agora, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, entoa um hino diferente. Vem repetindo, antes à voz pequena e agora a plenos pulmões, que há um "desequilíbrio estrutural na área fiscal". A despesa pública tende a crescer mais do que o PIB e mais do que a arrecadação. É claro, sempre dá para cortar os gastos. Mas não dá para superestimá-los. A tampinha é sempre uma insignificância diante do tamanho da garrafa.


Grande parte desse desequilíbrio foi exacerbada pela política econômica irrealista iniciada em 2009 e mantida no primeiro mandato da presidente Dilma, que o ministro Guido Mantega denominou pomposamente de Nova Matriz Macroeconômica. Baseou-se no alargamento das despesas públicas, no pressuposto de que era necessário alavancar o consumo para movimentar a atividade econômica e garantir o emprego. O resultado foi o aprofundamento do rombo que a baixa da maré expõe com crueza.


O desequilíbrio estrutural do setor fiscal, alargado pelo diagnóstico errado e pelas decisões mais erradas ainda na administração das contas públicas, tem a ver com o sistema que criou a montanha de direitos sociais e econômicos sem contrapartida na receita. Durante alguns anos, essa deficiência foi disfarçada pelo grande boom das commodities, que criou renda e espalhou dinheiro até mesmo pelos grotões do Brasil. Mas, agora que a China vai reduzindo seu ritmo, não dá mais para contar com esse efeito.


Problemas estruturais não se resolvem com gambiarras. "Ou mudamos a fiação ou dará curto-circuito", avisou o ministro Levy, nesta segunda-feira. Exigem reformas estruturais. Todos sabemos do que se trata, mas não custa repetir: reforma da Previdência, do setor tributário, do Estado, das leis trabalhistas; reforma política, mais acordos comerciais e abertura da economia.


O diabo é que não se vê disposição do governo nem do Congresso em votá-las. Ao contrário, as iniciativas vão na direção oposta: na criação de mais despesas, como se viu na flexibilização do fator previdenciário, até mesmo com o voto do PSDB em cujo governo foi criado.


Como a percepção dos políticos e da sociedade sobre esses problemas estruturais é fraca, a economia precisa piorar muito mais, antes que se gere essa consciência e que se mobilizem as forças para produzir a virada.


CONFIRA:



Aí está o mergulho do Índice Xangai Composto, da principal bolsa da China, que tanto vem preocupando o mercado financeiro global. 


Piora


O medo de que o governo da China reduza suas intervenções na Bolsa de Xangai produziu o tombo de 8,5% no pregão desta segunda-feira, o maior em oito anos. Esse mergulho, reforçado pelas estatísticas que indicam mau desempenho da indústria da China, provocou um momento de fuga das aplicações de risco que, no Brasil, também se refletiu com maisqueda da bolsa e com alta do dólar.


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