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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 25-07-2015 - 11:25 -   Notícia original Link para notícia
Retração dos investidores

Cenário econômico e político faz volume de negócios na Bolsa voltar ao patamar de 2010


Com o temor dos investidores sobre o esforço fiscal, o dólar comercial fechou no maior valor em 12 anos: R$ 3,348. No Rio, quem vai viajar paga até R$ 3,74. O abalo na confiança já fez caírem os negócios na Bovespa e no mercado de renda fixa. -SÃO PAULO- A retração da economia brasileira, a incerteza no campo político e o risco de perda do grau de investimento estão minando completamente a confiança dos investidores. E isso já se reflete em uma redução significativa do volume de negócios nos mercados financeiros - uma das consequências da chamada aversão ao risco. A média diária na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltou aos patamares de 2010. Já as emissões de títulos e ações estão no pior patamar desde 2009, quando houve um freio nesses mercados na esteira da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, nos EUA, um ano antes. Especialistas destacam que a atual conjuntura torna difícil avaliar o preço determinado de um ativo, dificultando o processo de tomada de decisões.


Dados da Economática mostram que o volume negociado na Bovespa em julho, até o dia 23, era de R$ 4,9 bilhões diários, mesmo patamar registrado em agosto de 2010 e bem abaixo da média de meses anteriores, que oscilou entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões. Já as emissões de títulos de renda fixa totalizaram no primeiro semestre R$ 63,5 bilhões no mercado doméstico e US$ 8,1 bilhões no externo, o nível mais baixo desde 2009, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).


TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA VIRAM PREFERÊNCIA


Para Marcos Molica, sócio da Rosenberg Partners, essa queda abrupta é consequência direta de um ambiente econômico em que, a cada semana, as projeções para a recessão são revisadas para pior. E em que crescem, ainda, as dúvidas sobre a capacidade de recuperação econômica para 2016, sobretudo após o rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o governo. Para piorar, a redução da meta de superávit fiscal (economia para o pagamento dos juros da dívida) de 1,1% para apenas 0,15% do PIB foi interpretada como um fator de risco, capaz de levar o país à perda do grau de investimento, uma espécie de selo de bom pagador.


- De um lado, temos uma recessão muito profunda, que está surpreendendo as pessoas negativamente. Isso reduz naturalmente o volume da atividade. Além disso, há um aumento significativo da incerteza, o que dá maior volatilidade a todos os mercados, e a consequência natural para quem administra recursos é reduzir o volume de transações e exposições - afirma Molica.


Ele acrescenta que a incerteza tende a jogar os preços para baixo. É o que se vê no caso da moeda brasileira, que enfraqueceu. O dólar comercial chegou ontem a R$ 3,348 e acumula alta de 25,8% no ano. Sem ter certeza sobre o cenário futuro, muitos investidores preferem aplicações mais seguras, como os títulos da dívida pública. O resultado é um mercado menor e mais volátil.


O fato de a economia crescer pouco é outro fator limitante. O relatório semanal Focus, do Banco Central, que compila as projeções de economistas e analistas, aponta uma retração de 1,7% do PIB este ano e expansão de apenas 0,33% em 2016. No entanto, diversos bancos já revisaram suas projeções para queda de 2% na atividade econômica em 2015 e estagnação no ano que vem. Sem crescimento, o lucro das empresas também tende a cair ou ficar estagnado - o que reduz a demanda por novos projetos. Ou seja, as empresas não estão procurando dinheiro, caro por causa da alta dos juros. Além disso, como os lucros não devem crescer, os investidores também não têm interesse em aplicar seu dinheiro.


-Éo que acontece também no mercado de capitais. Você não tem oferta de ações ou emissão de títulos, em que os juros sobem nesses momentos. É uma recessão acompanhada de incerteza política muito grande e sem visibilidade sobre quando haverá a inversão desse quadro - diz Molica.


Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, lembra também que a maior volatilidade acaba espantando parte dos investidores. E mesmo o dólar alto, que torna mais barato para o estrangeiro investir no Brasil, não tem ajudado tanto, já que a incerteza em relação à economia brasileira torna mais difícil a análise dos ativos:


- A alta cotação do dólar e o juro elevado acabam atraindo alguns investidores estrangeiros, mas eles acabam indo mais para título público.


Ontem, o banco americano Morgan Stanley divulgou um relatório no qual sugere a seus clientes que reduzam sua exposição a ativos brasileiros. O conselho era focar em ações de empresas que possam se beneficiar da elevada cotação do dólar, já que não há expectativa de depreciação da moeda americana a curto prazo, ou em companhias consideradas defensivas, ou seja, que sofrerão menos em um cenário de retração.


Essa receio todo está relacionado ao temor de o Brasil perder o grau de investimento. Isso porque os grandes fundos globais só podem investir em um país se ele tiver selo de bom pagador em ao menos duas das três grandes agências de classificação de risco. Na Standard & Poor's, a nota ( rating) brasileira está apenas um degrau acima do nível especulativo. Na Moody's e na Fitch, dois degraus - mas a expectativa é que ambas façam um rebaixamento em breve. E, após a redução da meta, a aposta é que, além do rebaixamento, as agências coloquem a perspectiva do Brasil como negativa, o que indicaria que o próximo passo será a perda do grau de investimento.


MENOS TRANSAÇÕES E POUCOS PARTICIPANTES


Além disso, o corte da nota do Brasil levaria a uma reclassificação dos ratings das empresas, aumentando o custo de captação para elas e dificultando novos investimentos.


- Uma inversão desse quadro não ocorre de uma hora para outra. Esse cenário de recessão é uma ferida que será cicatrizada lentamente. Muitos saem completamente do mercado até a incerteza diminuir - diz Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper.


Além da queda do volume, o que se vê é um menor número de participantes. No caso do mercado de câmbio, Hideaki Iha, operador da Fair Corretora de Câmbio, diz que, mesmo que o volume não caia, boa parte dos investidores fica fora. O ideal, segundo ele, é que empresas, exportadores, importadores, instituições financeiras e investidores pessoas físicas participem:


- Em um mercado normal, todos esses agentes fazem operações. É assim que funciona o mercado de câmbio, com todo mundo apostando na alta ou na baixa. Mas não tem horizonte, e os investidores vão saindo. Só opera quem realmente tem necessidade.


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