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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 23-07-2015 - 09:27 -   Notícia original Link para notícia
Recuo dos preços de serviços deve começar no 2º semestre

O caminho a ser percorrido ainda é longo, mas os preços de serviços devem começar a perder o fôlego em algum momento deste segundo semestre, voltando em 2016 aos níveis abaixo de 7% - vistos pela última vez no acumulado em 12 meses entre julho de 2009 e maio de 2010. Os efeitos da inércia e da pressão de custos de tarifas públicas, no entanto, impõem certa lentidão ao processo de arrefecimento, facilitado em junho pela saída da conta de fortes altas ocorridas durante a Copa.


Medidas alternativas da inflação de serviços mostram que já há sinais de desaceleração de preços no setor. A Icatu Vanguarda construiu um núcleo que exclui, devido à alta volatilidade, passagens aéreas e alimentação fora de casa e separa os preços dos serviços por itens que respondem mais a três fatores: inércia inflacionária, salário mínimo e nível de atividade. A variação acumulada em 12 meses do grupo que responde à atividade desacelerou para 3,4% em junho, depois de ter oscilado ao redor de 5% desde janeiro. Até junho de 2014, esses preços subiam 7,1%.



Nesse conjunto, estão serviços como manicure, cabeleireiro, depilação, transporte escolar, seguro de veículo, cinema, costureira, acesso à internet, petshop, motel e hotel, entre outros. Juntos, respondem por 7,3% da inflação de serviços, estima o economista-chefe da gestora, Rodrigo Alves de Melo.


No cálculo original, sem excluir nenhuma variável, os serviços subiram 7,9% até junho, bem abaixo dos 8,8% registrados até janeiro, mas o recuo foi influenciado principalmente pelos preços de hotel, que, no auge da Copa, chegaram a saltar mais de 25% no sexto mês de 2014. Por isso, a expectativa é que a inflação de serviços volte a superar 8% ao fim de julho, subindo um pouco antes de recuar. Até a primeira quinzena do mês, a alta foi de 8,2%, de acordo com o IPCA-15, divulgado ontem pelo IBGE.


A equipe econômica do UBS viu no dado indícios de que a dinâmica ruim da atividade já está afetando os preços. Os economistas do banco calculam que, excluindo-se passagens aéreas e alimentação fora de casa, a inflação de serviços em 12 meses ficou em 7,3% na prévia de julho, bem abaixo do pico de 8,9%, em igual mês de 2014. "A atividade está influenciando os preços de serviços e em algum momento isso deve pegar mais, mas as coisas estão acontecendo de maneira mais lenta do que gostaríamos", diz Melo. O componente inercial, segundo ele, é uma das variáveis responsáveis por esse lentidão.


Nas contas da Icatu, considerando a medida que exclui refeições fora de casa e bilhete aéreo, o grupo de serviços que responde ao salário mínimo recuou pouco desde o início do ano - de 10% para 9,2% em 12 meses até junho - e os preços relacionados à inércia não se moveram, oscilando ao redor de 9%. Alguns deles são aluguel residencial, mão de obra para reparos e manutenção, serviços automotivos, estacionamento, serviços médicos e laboratoriais e, com maior peso, cursos regulares e diversos.


As mensalidades escolares, por exemplo, serão reajustadas de acordo com a inflação deste ano, o que torna muito difícil o trabalho da convergência da inflação a ser feito pelos serviços, diz Myriã Bast, do Bradesco. A economista afirma, contudo, que os rendimentos do mercado de trabalho têm cedido, mesmo ao se olhar os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, em que isso ocorreu mais recentemente, mas de forma intensa.


Esse movimento, diz Myriã, tende a chegar ao consumidor final com certa defasagem. Além disso, ela lembra que existiram choques de custos, como água e energia, que afetam o setor e também limitam um processo de desaceleração muito intenso tão rapidamente.


De qualquer forma, a desaceleração de serviços está em curso e deve ocorrer com mais força no ano que vem, diz Myriã, para quem os preços de serviços fecham o ano em 7,7%, chegando a 6,5% em 2016. "É uma boa desaceleração, já que é natural que a inflação de serviços fique um pouco acima do restante da inflação, porque eles têm menor produtividade", diz.


O cenário da Icatu é parecido: Melo trabalha com avanço de 7,7% a 7,8% para esees preços em 2015, e com alta menor, entre 6% e 6,5%, para o próximo ano. As projeções estão em linha com a deterioração da atividade do setor observada em diferentes indicadores. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), 39,1 mil vagas formais foram eliminadas pelos serviços em junho. Um mês antes, o IBGE mostrou que a receita nominal do setor subiu apenas 1,1% sobre maio de 2014, resultado que, deflacionado pela alta dos serviços no IPCA, indica uma queda real de 6,6%.


Embora espere avanço menor dos serviços neste ano e em 2016, o superintendente de inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Salomão Quadros, avalia que o desempenho ruim dos índices de atividade ainda não teve impacto sobre os preços. Segundo Quadros, além da inércia, a distensão no mercado de trabalho ainda não foi tão forte, o que contribui para que os repasses se mantenham.


A deterioração da renda e do emprego ocorreu de forma mais rápida do que o esperado, afirma o economista, mas a situação ainda é melhor do que em 2009, por exemplo, quando o aumento do desemprego partiu de uma base mais elevada. Em maio, a taxa de desocupação nas seis principais áreas metropolitanas foi de 6,7%, 1,8 ponto acima da observada em igual mês de 2014.


Para o Ibre, o percentual de desempregados em relação à população economicamente ativa tende a superar 8% no primeiro semestre de 2016. Somente então será possível que a inflação de serviços em 12 meses se aproxime de 7%. Neste ano, com sequência de alguns meses com taxas menores no último trimestre, a alta deve ser de 8%.


O núcleo de serviços do Banco Modal indica quadro próximo do apontado pelo Ibre. Segundo Alexandre de Ázara, economista-chefe do Modal, os serviços que respondem mais à ação de política monetária e ao mercado de trabalho devem encerrar o ano em alta um pouco maior de 8%, desacelerando para 6,8% no ano que vem. "Descontados esses anos de crise, vai ser a primeira vez que os serviços alcançam esse nível desde 2006. É uma queda importante, mas não grande o suficiente para levar a inflação para a meta", diz Ázara, cuja expectativa de inflação cheia em 2016 foi revisada para baixo, de 5,3% para 5,1%.


Somente à custa de muito desemprego, diz Ázara, os serviços cairiam com mais força. "Pense num carro tentando frear ao passar por um radar a 180 km. É como a inflação. Até dá para chegar ao patamar almejado, mas o custo é capotar", diz o economista. Myriã, do Bradesco, concorda. Segundo ela, chegar ao nível de 5% em serviços "não vai acontecer", pois seria um "desastre" no mercado de trabalho.


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