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O Globo Online (RJ) ( Opinião ) - RJ - Brasil - 17-07-2015 - 09:22 -   Notícia original Link para notícia
José Paulo Kupfer - A um passo do rebaixamento

Classificação de risco das dívidas brasileiras deve ser revisada para pior,
mas efeitos práticos tendem a ser limitados


As visitas periódicas das grandes agências globais de classificação de riscos obedecem a uma coreografia com passos conhecidos. Nos anos mais recentes, depois que, no governo Lula, foram liquidadas as dívidas com o FMI e o volume das reservas internacionais superou o montante da dívida externa, os funcionários das agências de rating tomaram o lugar dos técnicos do Fundo no interesse despertado em sua passagem pelo país.


Seus representantes são recebidos com tapetes vermelhos por pessoal graduado da equipe econômica e abrem espaços nas agendas de empresários atarefados. Eles vêm colher na fonte informações sobre as perspectivas da economia e sentir o clima geral dos negócios, mas estão mesmo focados em definir a capacidade de o governo pagar o que é devido no prazo certo. Esse é o precioso serviço que prestam a clientes - investidores de todo o tipo, mundo afora.


Quem está, no momento, seguindo o passo a passo dessa dança é a Moddy's, uma das três irmãs globais do ramo de organização de ratings de ativos - as outras duas são a também gigante Standard & Poor's ( S& P)e a Fitch Ratings. Findo o tour de seus funcionários, espera- se, com ansiedade redobrada, o veredito da agência, consubstanciado em recomendações aos investidores a respeito dos riscos de aplicar recursos em títulos emitidos no país.


Maior ou menor facilidade em colocar papéis na praça financeira internacional, a custos mais ou menos altos, depende, em boa medida, da classificação que for determinada. Grandes investidores, principalmente importantes e gigantescos fundos de investimento, delegam às agências de rating e às suas listas de bons e maus pagadores parte relevante da seleção de países e ativos destinatários de seus recursos.


No ano passado, a S& P rebaixou a nota brasileira para o último nível da categoria "grau de investimento", e agora é a Moody's que decide o mesmo. Em 2014, a Moody's já tinha sinalizado essa direção ao revisar para negativa a perspectiva da nota brasileira, atualmente no nível Baa2, dois degraus acima da perda do "grau de investimento".


Pela lógica dos ratings da agência, o rebaixamento para o nível Baa3, o último degrau antes do "grau especulativo", prateleira em que são colocados os títulos de economias problemáticas, seria mais adequado à atual situação econômica do Brasil. Levantamento da LCA Consultores, coordenado por seu economista- chefe, Braulio Borges, no qual indicadores macroeconômicos brasileiros em relação ao PIB são cotejados com os mesmos indicadores dos conjuntos de países classificados em cada nível de rating, permite chegar a essa conclusão com facilidade. Os números dos países Baa3, nos últimos cinco anos, são muito mais próximos aos dos índices brasileiros do que os dos países Baa2. Na verdade, em alguns desses indicadores, sobretudo a partir de 2014, o Brasil está mais próximo dos resultados de economias Ba1, degrau superior do "grau especulativo".


É assim bastante provável que a Moody's venha a se alinhar com a S& P e rebaixe a nota brasileira para o último nível antes da perda do "grau de investimento", obtido em 2008, na véspera da eclosão da grande crise global deflagrada pela quebra do banco americano Lehman Brothers. Será questão de tempo para a Fitch seguir na mesma direção.


A "boa" notícia é os efeitos práticos do rebaixamento quase certo tendem a ser limitados porque os investidores globais já anteciparam a descida do rating brasileiro. A trajetória da curva do CDS de cinco anos, instrumento financeiro que mede o prêmio de risco de títulos emitidos pelos países e funciona como uma espécie de seguro de crédito, mostra, no momento, mais desconfianças em relação à economia brasileira do que com a Turquia. A Turquia já é "grau especulativo" para a S& P e está na linha do rebaixamento pela Moody's, mas seu CDS é mais baixo do que o brasileiro desde fins do ano passado.


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