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Estadão ( Economia ) - SP - Brasil - 15-07-2015 - 09:17 -   Notícia original Link para notícia
Celso Ming - Mal na foto e mal no filme

Como a recessão tende a se acentuar e o desemprego, a aumentar, parece inevitável um reflexo também nas vendas futuras do comércio


Os números de maio revelados nesta terça-feira pelo IBGE mostram uma situação preocupante do comércio varejista. Pior é que esse quadro tende a persistir e não dá sinais de quando irá virar. O impacto negativo sobre as contas públicas e sobre o desempenho do investimento deve aumentar.


Boa ideia do que acontece está nas estatísticas nos dois gráficos desta coluna. O movimento do varejo restrito, que deixa de fora veículos e materiais de construção, caiu 0,9% em maio (ante abril), mês em que o comércio geralmente ganha o empurrão adicional do Dia das Mães. No período de 12 meses terminado em maio, o recuo é de 0,5%. O declínio do varejo ampliado é ainda mais acentuado. Foi de 1,8% em maio e de 5,0% no acumulado em 12 meses (veja o Confira). Esses números refletem o movimento de volume de vendas - e não de faturamento.



Alguém poderá alegar que já estamos em meados de julho e que esses dados ficaram para trás. O problema é que indicadores mais recentes, ainda que parciais, não melhoram as coisas. Ao contrário, mostram que as quedas continuam. Maio foi o quarto mês consecutivo de resultado negativo no varejo restrito e o sexto no varejo ampliado. O quadro é ruim, sem perspectiva de recuperação imediata. Como a recessão tende a se acentuar e o desemprego, a aumentar, parece inevitável um reflexo também nas vendas futuras do comércio.


Nessas condições, as pessoas ficam irritadas e tendem a culpar o que está mais por perto: a mulher, o gato e até o vendedor de pamonhas que faz barulho pelo alto-falante de sua Kombi. Não dá para dizer que as causas da retração do consumo e do resto seja o ajuste da economia.


A principal causa da retração são os equívocos da política econômica praticada pela presidente Dilma nos últimos quatro anos. As coisas já não vinham bem, mas o governo exacerbou o consumo com despejo de recursos muitas vezes subsidiados, aumento desordenado do crédito e redução de impostos, principalmente na aquisição de veículos e de aparelhos domésticos. O consumidor antecipou compras, endividou-se além da conta e já não consegue honrar as prestações mensais, porque a inflação comeu um pedaço do salário, os juros outro tanto e o desemprego derrubou a receita familiar. O fator agravante é o de que agora o Tesouro está na raspa do tacho e já não permite colocar em prática as gastanças do tempo do ministro Mantega, que corresponderam às tais políticas compensatórias anticíclicas.


O que dá para fazer é acionar o investimento, que opera como alavanca da demanda e também aciona o consumo. A recomendação é multiplicar os leilões de concessão de serviços públicos (construção de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos) e destravar a área do petróleo, também com novos leilões que abram o mercado para outras empresas e ativem a produção, as exportações e a distribuição de royalties. Mas o governo continua lento demais nas concessões e não quer abrir as reservas de mercado. Prefere esperar pela recuperação da Petrobrás que se sabe lá quando chegará.


Por aí se vê que o varejo não está apenas mal na foto. O roteiro desse filme também não ajuda. 



CONFIRA:



O gráfico mostra a evolução do comércio varejista ampliado, o que inclui veículos e materiais de construção.


Para baixo


As projeções sobre o desempenho do PIB refletem pessimismo crescente. A Pesquisa Focus, feita semanalmente pelo Banco Central, ainda mostra que o mercado espera queda do PIB de 1,5% neste ano. Mas algumas projeções já conhecidas apontam para ainda mais baixo. O economista-chefe do Grupo Itaú, Ilan Goldfajn, já avisou que a queda será de 2,0%. E, nesta terça-feira, o Bradesco reviu suas projeções de menos 1,5% também para menos 2,0%.


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