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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 12-07-2015 - 12:36 -   Notícia original Link para notícia
À sombra da Grécia, surge o abismo da desigualdade

Distância entre ricos e pobres ameaça futuro da Europa. Mercado teme efeitos em Espanha, Portugal e Itália


Crise na Grécia expõe fissuras sociais. Ao menos cinco dos 19 países do euro passam por ajustes austeros -LONDRES- Para o bem ou para o mal, o desfecho que se dará à arrastada tragédia grega está longe de resolver o que, hoje, é uma das maiores fragilidades da Europa: a distância entre ricos e pobres. Desde a crise financeira global, há quase sete anos, pelo menos cinco dos 19 sócios da moeda única na chamada zona do euro amargam um receituário doloroso de aperto fiscal e cortes em benefícios sociais tradicionais. Espanha, Itália, Portugal e Irlanda foram os primeiros socorridos pela União Europeia (UE) entre 2009 e 2012. A Irlanda já se recuperou. Os outros três saíram-se bem até agora, diferentemente da Grécia, mas ainda causam desconfiança aos mercados.


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- A crise de 2008 expôs a fragilidade da arquitetura europeia e as enormes diferenças entre os países. Não se pode crescer em meio a tantos desequilíbrios e discrepâncias entre ricos e pobres - diz o especialista em Europa da Universidade de Glasgow Georgis Karyotis.


Os indicadores socioeconômicos desses países não são tão diferentes dos gregos. E isso explica o motivo da preocupação. A dívida pública bruta da Grécia é, de longe, a mais alta do grupo - chegou a 177% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Mas a da Itália, que está em 132,1% do PIB, era de 102,3% em 2008. Já a de Portugal bateu os 130,2% do PIB. A da Espanha saltou para 97,7% do PIB.


Dentro da zona do euro, é nesses países - considerados os "patinhos feios" do bloco - que se encontra o maior percentual da população sob risco de pobreza e exclusão social. São 34,5% na Grécia, 28,4% na Itália, 27,4% em Portugal e 27,3% na Espanha. E foram eles os submetidos aos ajustes e reformas mais rigorosos nos anos recentes.


- É óbvio que a situação na Grécia terá implicações em outros países da zona do euro. Cria um precedente ruim. A Itália, por exemplo, principal aliada da Grécia neste momento, tem muitos problemas e pode ser afetada. Itália, Portugal e Espanha são os principais alvos das pressões do mercado. O contágio não está descartado. E o custo de salvar a Grécia agora é relativamente pequeno se comparado ao custo para salvar economias maiores como Itália ou Espanha - alerta Karyotis.


RECADO AO MERCADO E AO ELEITOR


O desafio das autoridades europeias agora é mostrar se era a Grécia o ponto fora da curva - ou se questões semelhantes poderão surgir nas chamadas economias periféricas europeias. Todos agora têm pressa para buscar uma solução, sobretudo, depois das turbulências que vieram da China e abalaram os mercados mundo afora na semana passada.


É verdade que a Grécia representa menos de 2% do PIB da zona do euro e menos de 0,5% da economia mundial. Mas o fato de estar dentro da zona do euro faz do país uma peça importante do mercado financeiro, pelos sinais que pode levar o resto da Europa a emitir para o mundo.


Diante dos riscos de contaminação e temores entre os investidores, nos últimos dias, líderes dos países considerados mais frágeis não perderam a oportunidade de reafirmar seu compromisso com a austeridade. E reiteraram que o discurso com a Grécia deve ser duro.


Eles têm a dupla tarefa de acalmar os mercados em relação a quaisquer dúvidas quanto à sua capacidade de cumprir o dever de casa, e de reiterar ao seu eleitorado que o remédio amargo imposto à economia - que vem tendo um custo alto para a população - era a única alternativa possível.


- No pior dos cenários, de uma saída da Grécia da união monetária, os riscos de contágio para outros países do euro são menos altos que entre 2010 e 2011. Um choque poderia levar a um aumento da aversão a risco entre os investidores, credores e consumidores. Como o índice de confiança das empresas e dos consumidores é um fator-chave para as nossas previsões para os próximos dois anos e meio, o Grexit (saída da Grécia do euro) poderia facilmente enfraquecer a retomada que estamos esperando (para a região) - diz o economista-chefe da Standard&Poor's para Europa, Oriente Médio e África, Jean-Michel Six.


CONTÁGIO POLÍTICO


A três meses das eleições legislativas, o primeiro- ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, apressou-se para defender esta semana a estratégia "de rigor, crescimento e estabilidade" adotada pelo governo nos últimos anos:


- O pior que se pode fazer nessas circunstâncias é somarmos a elas a nossa própria incerteza e desorientação.


Para Karyotis, ainda que o contágio econômico não se confirme, o político será inevitável e deve dominar o debate daqui para frente. Se a Grécia receber condições mais camaradas para continuar dentro do euro, os partidos de esquerda se sentirão fortalecidos para pedir mais. Não resta dúvida de que os líderes em Portugal, Espanha e Itália serão cobrados pela população.


O argumento contra a austeridade ganhou os discursos não apenas da esquerda, mas também dos eurocéticos. E esse tem sido o maior temor dos grupos políticos no poder pela Europa. Na Espanha, a oposição do Podemos, que se aproximou do Syriza grego, vem encampando o discurso antiausteridade.


- Existe um grande desafio político pela frente nos países da UE. A austeridade foi apresentada como única saída. E, agora, a Grécia está mostrando que pode haver uma alternativa. As discussões foram abertas. O debate político europeu tornou-se uma questão nacional também - afirma o professor.



Para Ian Bigg, especialista da London School of Economics (LSE), a zona do euro está bem blindada, e não há riscos de contágio econômico. Mas ele vislumbra no médio prazo mudanças importantes no projeto da união monetária para que não haja riscos futuros.      


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