Leitura de notícia
Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 10-07-2015 - 09:58 -   Notícia original Link para notícia
Confiança baixa e efeito do ajuste explicam PIB fraco, diz FMI

O Brasil passa por uma recessão neste ano devido à combinação da baixa confiança de empresários e consumidores e do impacto negativo do ajuste fiscal e da alta de juros sobre a demanda no curto prazo, disse ontem o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard. Segundo ele, o aperto das contas públicas e a elevação da Selic são o "conjunto certo de políticas", mas, num primeiro momento, tem um efeito adverso sobre a atividade econômica. Em relatório divulgado ontem, o FMI cortou mais uma vez as estimativas para a variação do PIB brasileiro em 2015 e 2016, uma das maiores reduções entre os principais países emergentes. Para este ano, o FMI diminuiu a estimativa de uma contração de 1% para uma queda de 1,5%. Para o ano que vem, a expansão esperada recuou de 1% para 0,7%.


Blanchard afirmou que o governo brasileiro e o Banco Central estão tomando as medidas adequadas para recuperar a confiança, por meio da consolidação fiscal e da alta dos juros, destinada a reduzir a inflação. No curto prazo, contudo, o efeito é de redução de gastos, reiterou ele. Com o passar do tempo, essas medidas tendem a produzir o resultado esperado, o que explica a expectativa do Fundo de que o Brasil volte a crescer em 2016, diz Blanchard.


Na mesma entrevista, o vice-diretor do departamento de pesquisa do FMI, Gian Maria Milesi-Ferretti, analisou o impacto do ajuste fiscal sobre a confiança na economia brasileira. Segundo ele, a consolidação das contas públicas é fator importante do jogo, mas não o único. A investigação da Petrobras, os preços de commodities mais baixos e as pressões inflacionárias afetam o ânimo de empresários e consumidores.


"É necessário dar mais tempo para que o programa de ajuste fiscal exerça o efeito positivo sobre a confiança de modo mais geral", disse Milesi-Ferretti, observando que o mesmo vale para o aperto da política monetária. Ele lembrou que os juros subiram bastante nos últimos meses, e "por bons motivos", dadas as pressões inflacionárias. No curto prazo, há impacto negativo sobre a demanda, mas deve ajudar a reduzir as expectativas de inflação e a preparar o terreno para uma recuperação mais saudável mais para frente.


Ao falar das perspectivas globais, Blanchard disse que o crescimento deve continuar moderado, e que não se deve focar muito na crise da Grécia ou no tombo do mercado acionário da China. Esses eventos "contam", mas não são suficientes para alterar o panorama mais amplo para a economia mundial, diz ele.


Blanchard disse que o impacto da crise da Grécia sobre o resto do mundo deve ser pequeno, destacando que a economia global resistiu bem aos "testes de estresse" relacionados aos problemas do país nas últimas duas semanas. "Por mais dramáticos que sejam os eventos na Grécia, o país responde por menos de 2% do PIB da zona do euro e por menos de 0,5% do PIB global", lembrou Blanchard. "Não há dúvida de que a Grécia está sofrendo e pode sofrer ainda mais se houver um cenário de saída desordenada da zona do euro. Mas os efeitos sobre o resto da economia global tendem a ser limitados."


Na avaliação do FMI, o mundo deve crescer 3,3% neste ano, um pouco abaixo dos 3,4% do ano passado, refletindo a combinação da perda de fôlego nos países emergentes e uma gradual retomada nos países desenvolvidos. Para 2016, o FMI aposta em expansão de 3,8%. Ao explicar a desaceleração dos emergentes, de 4,6% em 2014 para 4,2% neste ano, o Fundo disse que o movimento se deve a fatores como os preços mais baixos de commodities, os gargalos estruturais e o reequilíbrio da China. Dos maiores emergentes, apenas a Rússia terá um desempenho pior do que o Brasil neste ano - o FMI projeta um tombo de 3,4%. A China deve crescer 6,8% e a Índia, 7,5%.


Blanchard disse que mais da metade da redução da estimativa para a economia global neste ano, de 3,5% para 3,3%, se deveu ao corte na projeção para os EUA, de 3,1% para 2,5%. No primeiro trimestre, a economia americana teve queda anualizada de 0,2%, por causa de fatores temporários, como o inverno rigoroso. No entanto, a boa situação do mercado de trabalho, os combustíveis baratos e o fortalecimento do mercado imobiliário darão impulso à economia, que deve crescer 3% em 2016.


Na zona do euro, a taxa de crescimento da Espanha, por exemplo, deve superar 3%. Para a Eurolândia, a expectativa é de uma expansão de 1,5%, bem superior ao 0,8% de 2014.


Nenhuma palavra chave encontrada.
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.