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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 10-07-2015 - 09:55 -   Notícia original Link para notícia
Recessão acelera ajuste externo e leva à revisão de projeções


Octavio de Barros, diretor de estudos econômicos do Bradesco: "É um ajuste bastante forte, que vai continuar em 2016"


A recessão doméstica provocou um ajuste nas contas externas mais rápido e forte que o esperado no começo do ano pelos analistas econômicos. Em 2014, as contas com o exterior fecharam com déficit de US$ 105 bilhões, ou 4,4% do Produto Interno Bruto (PIB), considerando a nova metodologia para o balanço de pagamentos. Embora ainda não seja consenso, um número crescente de analistas projeta resultado próximo a 3,5% do PIB em 2015, o que representa uma conta negativa em torno de US$ 68 bilhões, e indica uma projeção mais otimista que a do BC (US$ 84 bilhões). Fazem parte das previsões uma nova queda deste volume em 2016, o que aproximaria o déficit externo de 3% do PIB.


Por enquanto, dizem os analistas, os sinais vindo da China ainda não são suficientes para provocar uma reversão nessas projeções. "Apesar da grande importância da economia chinesa para o canal externo da economia brasileira, vejo o ajuste sendo guiado primordialmente por fatores domésticos", explica Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra. Já Rafael Ihara, economista do Banco Brasil Plural, diz ser precipitado rever a projeção para a balança comercial em razão do que se passa com a China, mas ressalta que "certamente" os riscos são de uma queda mais forte das exportações e devem ser monitorados.


A mais recente rodada de reduções do déficit externo foi provocada pelos dados da balança comercial de junho, que consolidou um movimento de recuo mais intenso das importações do que das exportações. Após o Brasil registrar déficit de US$ 6,3 bilhões na balança em 2014, instituições como Bradesco e Fibra apontam superávit superior a de US$ 10 bilhões este ano e ao redor de US$ 20 bilhões em 2016. Para analistas, o ajuste externo está aparecendo mais rápido que o interno, mas os sinais domésticos são muito fortes na atividade e no mercado de trabalho. Na inflação, ficará mais claro em 2016.


Nas contas do Bradesco, o déficit em conta corrente pode encerrar 2015 em 3,4% do PIB. "É um ajuste bastante forte e que vai continuar em 2016", diz Octavio de Barros diretor de pesquisas e estudos econômicos do banco. Para o próximo ano, a projeção é de déficit de 3% do PIB, o que equivale a 2,5% pela metodologia antiga, que Barros considera mais adequada para medir os efeitos do câmbio sobre a conta corrente. O Bradesco já estimava um ajuste externo forte, mas reforçou essa aposta, que já contava com forte desaceleração do comércio com a China.


"As importações são parte importante desse ajuste, mas ele não se resume a elas", observa o diretor do Bradesco. As exportações, aponta, já mostram aumento na margem (apesar da demanda mundial ainda fraca), e há sinais de recuo em viagens e remessas de lucros. Para o ano, o banco espera queda de 19,6% nas importações e de 13,3% nas exportações, o que levará a um saldo comercial de US$ 11 bilhões. Para 2016, o superávit deve ir para US$ 20 bilhões.


Para Oliveira, do Fibra, o processo recessivo está sendo mais intenso que o projetado e por isso afetou de forma mais rápida que o esperado a conta corrente. Esse ajuste, por enquanto, está sendo dado mais pela quantidade do que pelo preço, diz, uma referência à queda no volume importado e à redução de viagens internacionais (entre outros itens das contas com o exterior), que, segundo ele, está sendo mais importante que o câmbio para explicar a melhora no resultado.


As projeções para a déficit em conta corrente melhoraram junto com a mudança das contas para o PIB, que ficaram mais negativas, diz o economista do Fibra, que hoje projeta queda de 1,7% do PIB e retração de 3% na demanda interna (consumo e investimento). "Essa queda expressiva está fazendo o ajuste da conta corrente pela quantidade". O câmbio nominal, lembra ele, foi de R$ 2,36 no ano passado e deve encerrar o ano em torno de R$ 3,05, diz, mas um ajuste mais duradouro nas contas externas depende desse ajuste nominal se transformar em efetivo.


Para Barros, o movimento de fortalecimento do dólar no mundo parece ter encontrado um certo limite, e essa é uma das razões que reforça sua percepção de que o ajuste do balanço de pagamentos está bem encaminhado. No mercado interno, projeta que a inflação vai convergir para o centro da meta no começo de 2017, o que deixará o ajuste doméstico mais claro.



Em abril, após a revisão dos dados de contas externas, o Brasil Plural já estava mais otimista do que o consenso do mercado, ao esperar um déficit em transações correntes de 3,6% do PIB em 2015. Em junho, com a revisão da balança comercial - de um superávit de US$ 6 bilhões para US$ 11 bilhões no ano -, o banco reduziu o déficit em transações correntes para 3,5% do PIB em 2015. Rafael Ihara, economista do Brasil Plural, cuja projeção é de queda de 1,7% do PIB neste ano e dólar a R$ 3,20 no fim do período, diz que tanto a atividade "fraquíssima" quanto a forte depreciação cambial de um ano para cá contribuem para a redução do déficit, mas seria "complicado fazer uma afirmação de qual variável pesaria mais na conta", diz.


Para Ihara, um dado importante, é que a queda das importações já é quase o dobro do recuo das exportações e, ao longo do ano, essa relação deve se manter. O Brasil Plural espera queda de 20% das importações em 2015 e de 13% das exportações, no que deve ser a maior contribuição para um déficit menor nas contas externas. O economista lembra, contudo, de outras contribuições importantes, como a queda na remessa de lucros e dividendos, assim como a conta de viagens internacionais.


Ao esperar um déficit em transações correntes de 3,5% do PIB em 2015, ou US$ 68 bilhões, Ihara reconhece que está mais otimista até mesmo do que o BC. Mas é preciso considerar, diz ele, que a autoridade monetária projeta um saldo da balança comercial muito inferior, de US$ 3 bilhões, sem um ajuste relevante em itens como a remessa de lucros e dividendos, e também tem uma projeção de PIB mais otimista que a do mercado.


Leonardo Sapienza, economista do Banco Votorantim, revisou para baixo a expectativa de déficit em conta corrente, de 4,6% para 4,4% do PIB. Apesar da redução, o economista explica que espera um déficit ainda robusto, porque, diante da contração da atividade e da desvalorização do real, o PIB em dólares deve cair bastante neste ano. Em termos de volume, porém, o deslocamento para baixo é "claro", diz ele, que projeta déficit próximo de US$ 85 bilhões em 2015. "É uma queda de quase US$ 20 bilhões em relação a 2014, mesmo com o PIB denominado em dólares menor".


Por ora, diz Sapienza, entre o real e a atividade mais fracos, o peso predominante na redução do rombo externo é o da atividade doméstica, refletido no ajuste do mercado de trabalho, da renda, do crédito e dos gastos públicos. Obviamente, diz ele, o câmbio é uma medida de preços relativos, então há uma parte dessa desvalorização que tira o poder de compra dos agentes locais. "Mas uma queda de 1,7% do PIB representa baixa de quase 3% da demanda doméstica. Logo, o predominante neste ajuste é a política contracionista", diz ao ressaltar que o recuo do déficit em conta corrente deve ficar mais evidente em 2016, quando projeta algo entre 3,7% e 3,8% do PIB.


Julia Gottlieb, economista do Itaú Unibanco, espera um superávit de US$ 6 bilhões na balança comercial em 2015, que deve subir para US$ 10 bilhões no ano que vem. O déficit em conta corrente deve ficar em US$ 80 bilhões, ou 4,1% do PIB. Para 2016, a projeção é de uma queda desse déficit para US$ 69 bilhões ou 3,7% do PIB.


Para Julia, o ajuste nas contas externas será gradual. O real depreciado terá impacto primeiro sobre os importados e será acompanhado de um ritmo de atividade mais lento e preços de petróleo mais baixos. "Como somos deficitários na balança de combustíveis, preços mais baixos ajudam a conter esse déficit".


Na parte de serviços, viagens e transportes mostram um déficit menor, resultado tanto de câmbio desvalorizado quanto de atividade mais fraca. No caso de transportes, diz Julia, ajuda também a corrente de comércio (importação mais exportação), cujo recuo leva junto o déficit em transportes. O Itaú espera câmbio em R$ 3,20 no fim deste ano e de R$ 3,50 no ano que vem.


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