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Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 09-07-2015 - 10:09 -   Notícia original Link para notícia
IPCA sobe, mas demanda fraca evita alta maior

Apesar de ter batido recordes de alta tanto na medição mensal como no acumulado em 12 meses, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) trouxe sinais de que o enfraquecimento da demanda pode estar começando a surtir efeitos sobre a inflação, ainda que modestos, segundo avaliação de economistas. Entre maio e junho, a inflação oficial medida pelo IBGE acelerou de 0, 74% a 0,79% - maior índice para junho desde 1996 -, mas subiu um pouco menos do que o previsto pelo mercado (0,84%, de acordo com a estimativa média divulgada pelo Valor Data).


O segmento alimentação e bebidas foi uma surpresa favorável - os preços cederam de 1,37% para 0,63%, respondendo ao alívio dos itens in natura - mas o destaque do IPCA de junho foi a inflação de serviços. No acumulado em 12 meses, enquanto o índice avançou de 8,47% para 8,89%, maior alta na comparação desde dezembro de 2003 (9,3%), o grupo que reúne preços como aluguel, cabeleireiro e empregada doméstica desacelerou de 8,47% para 7,9%.



Estimativas de analistas divergem um pouco desse número, mas também apontam que a variação dos serviços ficou abaixo de 8% nos 12 meses encerrados em junho, patamar não observado desde o quarto trimestre de 2012 (ou janeiro de 2013 pela série do IBGE). Na análise mensal, esses preços subiram de 0,20% para 0,79%, influenciados pelo salto de 29,19% das passagens aéreas.


O maior impacto individual sobre o IPCA do mês, no entanto, partiu de um preço administrado: o reajuste médio de quase 40% dos jogos de azar efetuado no fim de maio levou o item a avançar 30,8% no mês passado, o que adicionou 0,12 ponto ao índice.


Excluindo-se as passagens, que causam volatilidade maior na série, a inflação dos serviços ficou quase estável entre maio e junho (de 0,50% para 0,52%). Em 12 meses, houve descompressão mais relevante, de 8,51% para 8,16%. "Isso pode ser um sinal de que o arrefecimento da demanda pode ter impacto mais claro sobre a inflação daqui em diante, embora esse movimento não deva ser muito intenso", disse Marcio Milan, da Tendências Consultoria, que trabalha com alta por volta de 8% para os serviços em 2015. Em 2014, esse conjunto de preços subiu 8,39%.


Para Rodrigo Alves de Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda, a descompressão dos serviços em 12 meses foi provocada principalmente pela elevada base de comparação de junho do ano passado, quando reajustes feitos durante a Copa levaram a inflação do segmento a subir 1,1%. Com a saída desse número da conta, a desaceleração foi facilitada, diz Melo, mas os índices mais baixos de julho e agosto de 2014 (-0,05% e 0,59%, respectivamente), dificultam a continuidade dessa trajetória nos próximos dois meses.


Numa média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada pela Icatu, Melo observa que a inflação de serviços caminhou em sentido contrário ao índice original entre maio e junho, ao acelerar de 9% para 9,20%. "Teremos alguma desaceleração dos serviços, mas ela é lenta, por conta do componente inercial", diz. Segundo ele, é possível que a alta do grupo chegue a dezembro de 2015 em cerca de 7,5%.


A coordenadora dos índices do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, avaliou que o cenário de retração do consumo já se reflete sobre outros preços, embora, no caso dos serviços, sejam necessários outros meses de perda de fôlego para que a influência se confirme. Segundo Eulina, a desaceleração da carne, de 2,32% para 0,64% entre maio e junho, é um dos indícios do efeito da demanda sobre a inflação.


O carro novo, que recuou 0,31% no mês passado - primeira deflação registrada do item no ano - também reflete o desaquecimento da atividade, na visão de Eulina, assim como os preços de alimentação fora do domicílio, cuja alta diminuiu de 0,93% para 0,49% na passagem mensal. Enquanto, no primeiro semestre de 2014, as refeições fora de casa acumulavam aumento de 4,73%, neste ano, o avanço foi de 4,31%.


Com exceção da parte de serviços, os economistas ouvidos afirmam que o dado de junho não embutiu outros sinais de alívio inflacionário, uma vez que os núcleos de inflação e a dispersão dos reajustes seguiram elevados. A média das três medidas mais usadas para diminuir ou expurgar o impacto de itens voláteis sobre o IPCA subiu 0,79% no mês passado, ante 0,68% em maio. Já o índice de difusão, que mede a proporção de itens com aumento de preços no mês, passou de 70,2% para 67,8%.


O número mais baixo que o previsto de junho também não foi suficiente para melhorar as expectativas para os próximos meses, e as estimativas para a alta do IPCA em 2015 ainda podem ser revistas para cima. O Itaú mudou sua projeção para o indicador de julho de 0,40% para 0,55%, devido à maior pressão recente dos alimentos.


Com esse resultado, a taxa acumulada em 12 meses vai atingir 9,5%, afirma Elson Teles, economista do banco. "O comportamento recente do grupo alimentação também sugere um viés de alta na projeção de 8,8% para o resultado do IPCA no ano", diz.


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