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Estadão ( Economia ) - SP - Brasil - 04-07-2015 - 10:36 -   Notícia original Link para notícia
Celso Ming - O tarifaço e os juros

Um número crescente de analistas vem criticando a disposição do Banco Central em seguir com sua política de alta dos juros básicos (Selic) numa conjuntura de forte recessão, de falta de recursos (restrição fiscal) e de aumento do desemprego.


Entre os argumentos levantados está o de que banco central nenhum pratica uma política monetária (política de juros) tão agressivamente restritiva num quadro em que praticamente todos os indicadores da atividade econômica estão em queda. E o outro argumento contra é o de que a inflação que está aí não é de demanda, ou seja, de grande aumento de consumo, mas de custos; é inflação corretiva produzida principalmente pelos tarifaços e, nessas condições, não caberia puxar pelos juros com o objetivo de arrochar a demanda.


Infelizmente, é preciso lembrar de que, desta vez, o Banco Central está certo e está fazendo o que dele se espera.


A economia não vive agora apenas forte recessão. Vive uma situação de estagflação, que é a conjugação de estagnação econômica e inflação alta.


O mandato do Banco Central do Brasil não é o de estimular a atividade econômica nem de alavancar o emprego. É unicamente o de defender a moeda e de atacar a inflação, o que, no sistema de metas, tem de ser feito com o único instrumento de que dispõe: o sistema de válvulas que regulam o volume de moeda na economia. Se a inflação está cada vez mais alta, como agora, a regra é retirar moeda da economia, é puxar pelos juros. Quando a inflação começar a passar sinais de que está em declínio, a política monetária terá de rodar em sentido inverso.


Muitos especialistas entendem que esse sistema é rígido demais e pouco eficiente numa economia, como a do Brasil, que convive com uma renitente memória inflacionária e com níveis excessivamente baixos de poupança e investimento. A resposta para essa objeção é a de que ainda não inventaram coisa melhor. Nos Estados Unidos, onde o mandato institucional do Federal Reserve (banco central) é atuar olhando não só para a inflação, mas também para o emprego, o principal foco da política monetária também é o controle da inflação.


A outra objeção é a de que não cabe operar com juros extorsivos quando a causa da inflação não é o aumento de demanda, mas o reajuste dos preços administrados.


Não é bem assim. Os preços estão cavalgando não apenas no nicho daqueles comandados pelo governo (energia elétrica, combustíveis, água, etc), mas se espalham meses seguidos por cerca de 70% da cesta de consumo (índice de difusão). E não há jeito de aumentar a eficácia da política monetária senão atuar para desestimular a alta também nesses segmentos.


E, finalmente, há os corações e mentes. O Banco Central não conseguiria conduzir as expectativas do mercado se continuasse a mostrar vacilação na condução de sua política. Fez isso ao longo do primeiro período Dilma e ajudou a aprofundar o desastre sentido logo em seguida.


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