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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 25-06-2015 - 09:05 -   Notícia original Link para notícia
Resgate da credibilidade


BC piora previsões para inflação e PIB. Mercado vê realismo e projeta IPCA menor em 2016


"O fato de a piora deste ano não ter contaminado a inflação de 2016 já é uma vitória. É a prova cabal de que o BC readquiriu sua credibilidade" Luis Otavio Leal Economista- chefe do banco ABC Brasil


- RIO E BRASÍLIA- No mesmo dia em que o Banco Central ( BC) previu que a inflação deste ano ficará mais alta do que espera o mercado, os analistas mostraram maior confiança na política de controle dos preços do governo. Isso porque, no relatório trimestral de inflação divulgado ontem, o BC foi mais claro e incisivo sobre sua atuação futura. Indicou que a alta dos juros vai continuar, ainda que a recessão da economia seja pior do que a prevista até então. A autoridade monetária alterou a estimativa de retração do PIB ( Produto Interno Bruto, total de bens s serviços produzidos no país) este ano, de 0,5% para 1,1%. E para a inflação oficial, a projeção foi elevada de 7,9% para 9% em 2015, enquanto o último Boletim Focus, que reúne as estimativas do mercado, prevê 8,97%.



Foi a primeira vez desde 2013 que a expectativa do BC para a inflação é mais pessimista que a do mercado. Em junho daquele ano, o relatório da inflação estimava taxa de 6%, enquanto a previsão do mercado era de 5,8%. Já a queda de mais de 1% do PIB, se confirmada, será a pior dos últimos 25 anos, desde quando o ex- presidente Fernando Collor confiscou a poupança e paralisou a economia. A autarquia indicou também novas altas dos juros para conter os preços.


- Nós sabemos que 2015 é um ano de ajuste tradicional. A melhor contribuição da política monetária para esse círculo de mais crescimento é colocar a inflação na meta de 4,5%, no fim de 2016, e ancorar expectativas no médio e longo prazos - explicou o diretor de Política Econômica do BC, Luiz Awazu Pereira da Silva.


ACOMPANHANDO O MERCADO


Os analistas viram no relatório um BC mais firme no combate a altas de preços e com postura mais realista, características que, segundo eles, resgatam a credibilidade da instituição.


- Não há dúvida de que a postura e a comunicação do Banco Central se tornaram muito mais hawkish ( firmes, no jargão econômico). E isso foi apropriado, dado o desafio do ambiente inflacionário. Um reflexo da credibilidade reforçada é que a projeção do banco para a inflação a médio prazo, entre 2017 e 2019, voltou para o centro da meta de 4,5% - afirma o diretor da área de pesquisas de América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos.


Para 2016, o BC reduziu de 4,9% para 4,8% a previsão para o IPCA, enquanto o mercado ainda trabalha com 5,5%. Mas esse número dos analistas para 2016 se mantém o mesmo há cinco semanas e está abaixo da expectativa observada em abril, de 5,6%.


- Apesar de a projeção do BC para 2015 já estar em 9%, o mercado ainda assim prevê 5,5% para 2016. O fato de a piora deste ano não ter contaminado a inflação de 2016 já é uma vitória. É a prova cabal de que o BC readquiriu sua credibilidade - diz o economista- chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal.


Ainda mais contundente sobre a mudança de postura do BC é a avaliação do professor da FEA/ USP Heron do Carmo. Para ele, as projeções se aproximaram agora àquelas do mercado:


- Durante o governo anterior, as projeções do BC ficaram muito abaixo do mercado. Agora, essas previsões estão mais realistas, o que é bom, é uma mudança importante na postura do BC.


O diretor do BC detalhou como serão as fases de recuperação da economia brasileira. Foi a primeira vez que uma autoridade da instituição fez um prognóstico desse tipo. Segundo ele, a primeira fase é um ajuste da atividade, ou seja, o freio da economia. No caso brasileiro, diz, ainda há o impacto dos eventos não econômicos ( escândalos de corrupção, por exemplo) que se sobrepõem ao processo de ajuste. Isso provoca uma forte queda no investimento.


A segunda etapa é o impacto ( da primeira fase) na inflação. O problema no Brasil é que a persistência da inflação contamina esse processo. Já a terceira fase seria de resultados melhores, que sinalizam horizonte de estabilidade, como inflação na meta de 4,5% ancorada no curto, médio e longo prazos. Para isso ocorrer, mais aumento de juros pode vir pela frente.


- A consolidação desse processo de ajuste requer determinação e perseverança. Devemos ser pacientes, perseverantes e determinados - disse o diretor.


Para o economista do Itaú Unibanco Felipe Salles, os números do BC estão em linha com um movimento de revisão também observado no mercado. Ele disse que houve surpresas na inflação, tanto de preços administrados quanto de alimentos:


- Quando o BC revê de 4,9% para 4,8% a inflação para 2016, mostra que está quase lá, que está conseguindo se aproximar do centro da meta. Ainda assim, nossa leitura é de que haverá mais uma alta da Selic em julho, de 50 pontos básicos.


Significa que a taxa básica de juros deve subir dos atuais 13,75% para 14,25%, um cenário semelhante ao observado pelo Bradesco. Mas, no geral, o mercado está dividido: há quem acredite que uma nova alta de 25 pontos básicos, para 14,50%, deve ocorrer em setembro, como é o caso de Goldman Sachs e da INVX Global. Já os diretores do BC usam o patamar atual de juros para não antecipar os próximos movimentos.


- Diante do compromisso reiterado do Banco Central de levar a inflação de volta ao centro da meta no fim de 2016 e o progresso marginal observado no primeiro trimestre, acreditamos que o Banco Central está no caminho para uma alta de 50 pontos em julho e 25 pontos em setembro - diz Alberto Ramos, do Goldman Sachs.


CULPA DAS TARIFAS PÚBLICAS


Para justificar a alta de 1,1 ponto percentual na expectativa do IPCA deste ano, o BC culpou o reajuste das tarifas públicas, represado artificialmente no passado. O efeito rebote foi maior que o previsto. Há apenas 13 dias, o Comitê de Política Monetária ( Copom) divulgou a ata da última reunião com previsão de alta da energia de 41% neste ano. No relatório de ontem, o percentual subiu a 43,4%.


O diretor de Política Econômica do BC ressaltou o momento complexo da economia mundial. Frisou que o Brasil tem de estar preparado para o momento em que os Estados Unidos retirarem os estímulos à economia americana.


- É imprescindível continuar o processo de ajuste. Temos de estar com a macroeconomia em ordem e estabilizada para o lift- off ( essa retirada de estímulos), usando a receita padrão: reforçar o arcabouço de política econômica, mantendo fundamentos sólidos - repetiu Luiz Awazu Pereira da Silva.


Duramente questionado sobre o fracasso do controle da inflação nos últimos anos e os impactos da atual política sobre as famílias, o diretor argumentou que a inflação é um dos piores elementos para a saúde financeira, principalmente, das famílias mais pobres:


- A grande contribuição para a retomada do crescimento no âmbito do Banco Central é manter a inflação sob controle.


Sobre possíveis mudanças na meta de inflação para este ou para os próximos anos, ele afirmou não haver na direção do BC discussões a respeito. E destacou que quem define meta é o Conselho Monetário Nacional ( CMN), formado pelos ministérios da Fazenda, Planejamento e BC.


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