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Valor Online ( Opinião ) - SP - Brasil - 24-06-2015 - 09:09 -   Notícia original Link para notícia
Ajuste externo avança com a desaceleração econômica

O desempenho das contas externas mostrou progresso em maio, a ponto de melhorar as expectativas do Banco Central (BC) para o ano. A projeção para o déficit em conta corrente foi reduzida de US$ 84 bilhões para US$ 81 bilhões - ajuste significativo em comparação com o buraco de US$ 104 bilhões de 2014. Se os números se confirmarem, o déficit vai recuar de 4,47% para 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, ele deve ser praticamente todo financiado pelo investimento estrangeiro direto no país, estimado em US$ 80 bilhões.


Há quem espere resultados ainda melhores. O Bradesco prevê que o déficit em conta corrente despenque para US$ 66 bilhões, financiado com folga pelo investimento estrangeiro no país, de US$ 70 bilhões. Mas não é essa a média do mercado da mais recente pesquisa Focus, apurada antes das revisões feitas pelo Banco Central, que registrava expectativa de déficit de US$ 84,5 bilhões e investimento estrangeiro bem inferior, de US$ 66,5 bilhões.


À parte as divergências de números, é evidente que o ajuste externo está sendo acelerado pelo impacto da deterioração da economia no consumo e nos investimentos das empresas e das pessoas físicas. A balança de serviços espelha bem o quadro, com a redução do déficit acumulado de janeiro a maio de US$ 19,1 bilhões em 2014 para US$ 17,2 bilhões neste ano. Ela foi puxada pela queda de 40% no aluguel de equipamentos, devido à diminuição dos investimentos na área de petróleo, emperrados pela Operação Lava-Jato e suas implicações na Petrobras.


O enfraquecimento econômico e sua repercussão no resultado das empresas diminuíram as remessas de lucros e dividendos para US$ 1,9 bilhão em maio, 41% a menos do que em igual período de 2014, acumulando US$ 6,97 bilhões no ano, praticamente a metade do registrado de janeiro a maio do ano passado. Com isso, o BC reduziu para US$ 21 bilhões a previsão do total de remessas de lucros e dividendos neste ano em comparação com US$ 31,2 bilhões em 2014.


Depois de atingir o recorde de US$ 25,6 bilhões em 2014, os gastos dos brasileiros com viagens ao exterior, também contabilizados na balança de serviços, estão sendo contidos pela elevação do dólar, pelo aumento do IOF nos gastos com cartões de crédito e débito no exterior, pelo maior endividamento e crescimento dos gastos e pela queda da renda e do emprego. As despesas dos brasileiros no exterior caíram a US$ 1,4 bilhão em maio, o menor valor para o mês em cinco anos, e o acumulado do ano de US$ 8,3 bilhões representa o menor para o período desde 2011. O saldo líquido dessa conta mostra, porém, aumento do déficit na comparação com 2014, ano favorecido pela atração de turistas estrangeiros para a Copa do Mundo.


Apesar da desvalorização do real, a balança comercial não mostra reação vigorosa. Em sua revisão das contas externas, o Banco Central manteve a expectativa de que o saldo deste ano será de US$ 3 bilhões, o que é um progresso em comparação com o déficit de US$ 6,2 bilhões de 2014. A balança comercial somente começou a reagir em maio, quando registrou superávit de US$ 2,6 bilhões. O superávit acumulado neste mês até o início desta semana era de US$ 3,2 bilhões, resultado da queda de 17,9% das importações e de 4,9% das exportações. De toda forma, o mês marca a virada do saldo acumulado no ano, que estava negativo em US$ 3,3 bilhões até maio, para o positivo, de US$ 914 milhões - ao menos até agora.


Resta a esperança com o investimento estrangeiro direto no país. Em maio, os estrangeiros surpreenderam e investiram US$ 6,6 bilhões, compensando com folga o déficit em conta corrente pela primeira vez desde agosto do ano passado. Mas no ano o saldo acumulado é de US$ 25,5 bilhões, distante do déficit em conta corrente que soma US$ 35,8 bilhões no mesmo espaço de tempo. Já o investimento estrangeiro em carteira vem caindo, de US$ 6,6 bilhões em abril para US$ 3,1 bilhões em maio e dados parciais divulgados pelo BC mostram números ainda menores para este mês.


Essas comparações põem em xeque as previsões para a entrada de capital estrangeiro para o segundo semestre, especialmente porque o ambiente doméstico continua marcado pela retração acentuada da economia e incertezas na política, sem falar na expectativa com a elevação dos juros nos Estados Unidos, que vai influenciar o humor dos investidores.


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