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O Globo Online (RJ) ( Rio ) - RJ - Brasil - 24-06-2015 - 10:30 -   Notícia original Link para notícia
Aumenta o cerco à receptação

Polícia Civil investiga, em favelas da cidade, ' shoppings' que vendem celulares roubados


Preocupada com as estatísticas que apontam um aumento no número de casos de roubos de celulares, a Polícia Civil está investigando o que chama de '' shoppings da receptação'' do Rio. Antes concentrados no Centro, pontos de venda de aparelhos de origem não comprovada vêm se espalhando pela cidade, principalmente em comunidades das zonas Norte e Oeste. O GLOBO percorreu ontem o mercado popular de uma delas, a favela de Rio das Pedras, em Jacarepaguá, e encontrou ofertas de todos os tipos. Usando um alto- falante, um rapaz anunciava um Samsung S4 por R$ 500, menos da metade do preço médio cobrado pelas grandes lojas do ramo. Em outra barraca, uma mulher prometia o desbloqueio do IMEI ( código de identificação internacional de equipamento móvel) de qualquer modelo.


MARCELO CARNAVALNa mira. Mercado popular em Rio das Pedras: o local, segundo a Polícia Civil, é um dos centros de receptação de celulares roubados


Investigadores já descobriram um esquema de receptação de aparelhos em Rio das Pedras. Durante uma operação para inibir assaltos, policiais da 6 ª DP ( Cidade Nova) prenderam, em novembro do ano passado, um morador da comunidade. Agentes encontraram com ele um smartphone roubado de um administrador de empresas no Centro. O suspeito disse que era cliente do comerciante Ivanildo Alves dos Santos e do técnico de eletrônica José Evaldo Costa do Amaral. Os dois mantinham uma barraca na Rua S, onde, segundo a polícia, vendiam celulares e tablets roubados.


O ponto, de acordo com investigadores, era ilegal. O morador de Rio das Pedras preso disse a policiais que comprou ali, por R$ 800, o aparelho roubado, um Sony Xperia avaliado em R$ 2.200. Ivanildo e José Evaldo também foram presos, por crime de receptação qualificada. Investigadores checaram todos os celulares vendidos no local.


O crescimento do mercado de receptação de celulares roubados é comprovado em estatísticas do Instituto de Segurança Pública ( ISP): de janeiro a maio deste ano, ocorreram 4.582 casos no estado, 1.843 a mais que os 2.739 registrados no mesmo período de 2014, o que corresponde a um aumento de 67,28%. Há duas semanas, uma operação da Polícia Civil no camelódromo da Rua Uruguaiana terminou com a apreensão de mais de mil aparelhos sem origem comprovada. O IMEI de cada um está sendo levantado junto às operadoras.


GRAMPOS DE NEGOCIAÇÕES


A Polícia Civil informou ao GLOBO que também investiga uma quadrilha que vende, em Manguinhos, celulares roubados por encomenda. Em interceptações de ligações telefônicas autorizadas pela Justiça, integrantes do bando afirmam que conseguem "arrumar" aparelhos de ponta, como iPhone 6s e Sansung S6, para vendê- los na comunidade.


Em uma das conversas, um interessado diz a uma interlocutora: '' Separa um telefone para mim?''. Ela responde: "Estou com um S5, que comprei hoje por R$ 1.500". O homem diz que não quer esse modelo porque "dá cadeia'', e cita a prisão de um jovem no Jacarezinho. A suposta comerciante de Manguinhos rebate, categórica: "O meu não dá, não''.


Em uma outra ligação, a mesma mulher oferece um Samsung S6, modelo de última geração, por R$ 2 mil. O interessado acha caro, e eles acabam negociando um S4, por R$ 800.


- Ela negocia, recebe encomendas. Diz que consegue qualquer número e garante que tem um software para alterar o IMEI. Estamos apurando isso - informou um policial que participa da investigação do bando.


A promessa, por parte de receptadores, de alteração do IMEI dos aparelhos também foi observada pela polícia durante investigações em outras áreas da cidade. Para especialistas em telefonia celular, isso pode ser considerado uma novidade. O engenheiro de telecomunicações Eduardo Tude, presidente da Teleco Informação e Serviços de Telecomunicações, de São Paulo, disse que ainda não viu um smartphone que teve o código de identificação alterado.


- Acredito que os receptadores conseguem mudar o IMEI, mas desde que seja por um outro código válido no sistema internacional de verificação. Seria uma espécie de clonagem de um outro aparelho, que, uma vez ligado, pode provocar um conflito na rede. Quem compra um aparelho assim corre o risco de ter problemas ao ativá- lo por meio de uma operadora - alertou Tude.


COMPRAR TAMBÉM É CRIME


Além da possibilidade de ver o aparelho não funcionar, o comprador de um celular roubado pode ser preso por receptação. E vale lembrar que ele alimenta uma rotina de violência. No Centro, ladrões andam pelo meio das ruas, esperando o momento para dar o bote em pedestres e passageiros de ônibus que conversam ao telefone. Para não serem flagrados com smartphones roubados, eles enterram os aparelhos em canteiros de árvores, que são vigiados por cúmplices.



A polícia também está investigando pessoas que compram smartphones por meios ilegais. Na semana passada, policiais da 14 ª DP ( Leblon) prenderam um jovem de 19 anos na Tijuca. Ele havia adquirido, por mil reais, um celular que fazia parte de um lote de 140 aparelhos roubados de uma loja de Ipanema. O smartphone foi negociado pela internet.


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